Antes do amendoim: como eram as refeições a bordo de aviões no passado?
Aventuras Na História
Hoje, quando se faz uma viagem de avião, não há quem resista a alguns pequenos agrados — sanduiches, doces, petiscos ou bebidas — para suportar a ansiedade da viagem. Mesmo aqueles que não gostam tanto assim desses lanchinhos acabam cedendo.
No entanto, nem sempre as refeições 'nas alturas' foram como a conhecemos hoje. Esse costume é antigo e acompanha o surgimento dessas aeronaves que transportam várias pessoas pelo céu de uma vez. Confira a seguir um pouco sobre a história das refeições de aviões e como ela foi mudando ao longo do tempo.
Viagens tensas
De acordo com o site Nossa, do UOL, o hábito de 'comer nas alturas' surgiu há mais de um século, em 1919, quando a companhia aérea Handley Page Transport ofereceu a seus passageiros uma seleção de sanduíches e frutas embaladas em caixas descartáveis, em um voo entre Londres e Paris.
No entanto, por mais que a ideia fosse visionária e realmente muito relevante ao se conquistar mais passageiros, naquela época os viajantes tinham mais preocupação com a segurança em seus voos, e se chegariam a seus objetivos com vida, que com os quitutes oferecidos.
"Isso porque a indústria aérea realmente decolou, sem trocadilhos, nos anos 1930. Antes, os aviões eram pequenos, desconfortáveis e pareciam meio assustadores quando você voava neles. Desta forma, era comum sentir-se enjoado e as pessoas realmente não ficavam muito ansiosas para comer", explicou Bob van der Linden, presidente da Smithsonian National Air and Space Museum, ao Marketplace.
Evolução gastronômica
Porém, a qualidade proporcionada em voos foi melhorando cada vez mais com o passar dos anos e, em 1950, a Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA) regulamentou esse aspecto das viagens, de forma que pequenos serviços oferecidos durante o voo se tornasse um possível diferencial para as linhas. E foi nesse período, a 'era de ouro das viagens aéreas', que começaram a ser oferecidas algumas refeições quentes e com talheres de prata, em algumas companhias.
Nesse período, a companhia Pan American World Airways (mais conhecida só como 'Pan Am') se popularizou bastante com um vídeo promocional, em que destacava alguns aspectos do serviço oferecido: "Uma comida deliciosa completa a diversão. Elas são preparadas em quatro galerias que funcionam de forma simultânea, em que os pratos são aquecidos em torno de cinco minutos", prossegue van der Linden.
Paralelamente, companhias brasileiras também se inseriram nessa disputa por holofotes, oferecendo serviços que marcariam a memória de muitas pessoas. Por exemplo, a Transbrasil chegou a oferecer até mesmo feijoada a bordo, entre as décadas de 1980 e 1990; já a Vasp era conhecida por variedades: os passageiros recebiam canapés de entrada, e ainda tinham uma refeição quente e uma variedade de bebidas, entre uísques, vinhos e cervejas.
Alta demanda
Como já mencionado, no início da década de 1950 se iniciou um período de grande fluxo de pessoas em viagens aéreas, por mais que voar ainda fosse caro. Por isso, conforme as aeronaves também foram alcançando tamanhos cada vez maiores, transportando ainda mais pessoas, foi possível o surgimento de uma nova classe de serviço: a turística.
Com essa possibilidade, os passageiros poderiam pagar até 30% mais barato em suas passagens aéreas, mas com algumas limitações nos serviços. Chá, café, chicletes e doces permaneciam gratuitos, mas as refeições — que iam de ovos a carnes frias e saladas — deveriam ser pagas separadamente pelos passageiros. Isso além do fato de que poderia ser transportado até 20 kg de bagagem, em vez dos 30 kg da outra classe.
Porém, com grande fluxo de pessoas, e ainda uma série de serviços gratuitos a qualquer passageiro nos aviões, com o tempo se tornou insustentável manter benefícios tão diversos e até mesmo quase luxuosos nos aviões. E foi, então, que as viagens começaram a ter menos opções disponíveis aos passageiros.
Lanches simples
Nesse período, a IATA começou a regular mais ainda a indústria das companhias aéreas, padronizando as empresas a fim de evitar que a concorrência desenfreada colocasse os passageiros em risco. Então, todos aqueles pratos suntuosos foram gradualmente substituídos por um menu padronizado, com algumas opções de café, chá, água e sanduíches "simples, frios e baratos". E ainda assim, novas confusões surgiram.
Isso porque, quase como uma referência de padrão, a Trans World Airways e a Pan Am ofereciam a bordo os tradicionais lanchinhos norte-americanos, compostos por duas fatias grossas de pão e recheado com salada de ovo, carne assada ou até mesmo presunto e queijo. Porém, outros países tinham interpretações diferentes do que seria um sanduíche.
Cada vez mais cortes
Empresas aéreas como a Scandinavian Air Systems, SWISS, KLM Royal Dutch Airlines e Air France, por sua vez, possuíam em seu cardápio a opção de sanduíche, de fato. Porém, facilmente poderiam ser mais exóticos, recheados às vezes até mesmo com língua de boi, o que levou várias dessas empresas a serem acusadas de fugir das diretrizes nas refeições.
Porém, com o tempo as companhias aéreas notaram que cada pequeno corte no orçamento dos voos era uma vantagem para si. E foi assim que a America Southwest Airlines, uma das maiores empresas de viagens de baixo custo do mundo, se tornou a primeira a servir somente amendoim para seus passageiros, eliminando a oferta em cereais.