Câncer e compostos bioativos: conhecendo os nutracêuticos quimioprotetores
Bons Fluidos
Acredito que não exista doença que assuste mais que o câncer. Apesar de ser muito comentado, poucas pessoas realmente entendem bem a doença. Talvez o próprio medo seja uma barreira para esse melhor conhecimento. Conforme o INCA (Instituto Nacional de Câncer) são esperados 704 mil casos novos de câncer no Brasil para cada ano do triênio 2023-2025, com destaque para as regiões sul e sudeste, que concentram cerca de 70% da incidência – número tão assustador quanto a doença, não é mesmo?
Como surge o câncer?
Nosso corpo é formado por trilhões de células vivas que crescem, se dividem e morrem de forma ordenada, a chamada divisão celular. Durante nossos primeiros anos de vida, as células normais se dividem mais rapidamente para permitir nosso desenvolvimento. Já na fase adulta, a maioria das células se divide apenas para substituir células desgastadas que morrem, ou para reparar danos – e assim deveria ser.
O câncer, também chamado de neoplasia, é o nome genérico para um grupo de mais de 200 doenças. Embora existam muitos tipos, todos começam devido ao crescimento e multiplicação anormais das células por conta de algum dano no DNA – um composto orgânico cujas moléculas contêm as instruções genéticas de todas as células.
Podemos herdar um DNA anômalo, mas a maioria dos danos do DNA é causada por erros que ocorrem quando a célula está se multiplicando ou por exposição a algum elemento do meio ambiente, como exposição solar ou mesmo o cigarro. Fato é que é muito difícil descobrir o que gera, exatamente, um tipo de câncer.
Esse dano no material genético da célula pode afetar três principais características celulares: a regulação do seu ciclo celular, sua proliferação e os mecanismos de morte celular.
Toda vez que essa célula se dividir, ela passará essas mutações adiante. As células perdem a capacidade de limitar e controlar o seu próprio crescimento, passando, então, a se multiplicar muito rapidamente e sem nenhum controle, fora do crescimento celular normal. Ao invés de morrer, continuam crescendo e formando novas células anômalas que podem invadir outros tecidos – coisa que as células normais não fazem. Esse crescimento fora de controle e a invasão de outros tecidos é o que torna uma célula cancerosa.
Alguns genes têm instruções para controlar o crescimento e a divisão das células. Os genes que promovem a divisão celular são chamados oncogenes. Os genes que retardam a divisão celular ou levam as células à morte no momento certo são denominados genes supressores do tumor. Os cânceres podem ser causados por alterações no DNA que se transformam em oncogenes ou por desativação dos genes supressores do tumor.
As células cancerosas se esquivam dos mecanismos de defesa do nosso organismo, costumam se espalhar para outras partes do corpo, onde começam a crescer e formar novos tumores. Isso acontece quando as células cancerosas entram na corrente sanguínea ou nos vasos linfáticos do corpo. Ao longo do tempo, os tumores irão substituir o tecido normal – esse processo é chamado metástase. Esses tumores podem crescer indefinidamente e até mesmo criar seus próprios vasos sanguíneos para possibilitar sua nutrição – processo chamado de angiogênese.
Nutracêuticos com ação quimioprotetora
Sabemos que o estresse, tristeza, má alimentação, falta de exercícios físicos, noites mal dormidas, exposição solar em excesso, exposição a agentes químicos, infecções, cigarro, uso abusivo de drogas são alguns dos botões “START” para desencadear o câncer e, se os evitássemos, com certeza acrescentaríamos saúde em nossa vida. Cabe a cada um essa decisão de mudança. Mas o que a maioria não sabe é que há bioativos extraídos de fontes vegetais que possuem a capacidade de proteger as nossas células de mutações e de outros danos que podem ser o gatilho para o câncer. São os chamados nutracêuticos com ação quimioprotetora.
Antioxidantes
O estresse oxidativo, resultado de um acúmulo de radicais livres, é definido como um excesso das espécies reativas a oxigênio (ROS, da sigla em inglês). Tem sido associado à doença neurodegenerativa, doença cardiovascular, diabetes mellitus e muitas outras patologias, como o câncer. Espécies reativas a oxigênio influenciam a evolução do câncer de maneiras aparentemente contraditórias, iniciando ou estimulando a formação de tumores e apoiando a transformação ou a proliferação de células cancerígenas ou causando a morte celular.
Compostos com capacidade antioxidante podem tem um efeito positivo, seja por neutralizarem diretamente os radicais livres ou por induzirem um aumento do número, ou atividade de enzimas antioxidantes endógenas.
A epigalocatequina-3-galato (EGCG) presente no chá-verde e da curcumina, presente na cúrcuma, ativam a via Nrf2/ARE e aumentam a expressão de enzimas antioxidantes como a catalase (CAT), superóxido dismutase (SOD) e glutationa peroxidase (GPx). Outros compostos que também contribuem nesse sentido são a quercetina, o ácido elágico, os tocotrienóis (presentes no urucum), entre outros.
Ação anti-inflamatória
Quando a inflamação permanece por um longo período, pode estimular o crescimento de células cancerígenas, além de inibir a imunidade do organismo, impossibilitando de reconhecer um câncer como estranho no corpo e rejeitá-lo. Às vezes, o sistema imunológico não consegue se livrar da bactéria e essa infecção persiste pode se tornar crônica. Por exemplo, úlceras gástricas são causadas por infecção crônicas causadas por bactérias. Gastrites podem aumentar a chance de câncer no estômago.
A EGCG, a quercetina, o ácido elágico (presente na romã) e a curcumina podem exercer efeito quimioprotetor ao reduzir a expressão de mediadores pró-inflamatórios – incluindo o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α), interleucinas-1β (IL-1β), IL-6 e IL-8, bem como as enzimas cicloxigenase-2 (COX-2) e óxido nítrico sintase induzível (iNOS). Os tocoferóis, encontrados nas oleaginosas, também são capazes de inibir a expressão de COX-2 e de prostaglandinas, além de reduzir os níveis de IL-6, IL-2 e TNF-α, inibindo a inflamação e reforçando a quimioprevenção.
Pró-apoptóticos
Compostos que favorecem os mecanismos de morte celular programada e facilitam a eliminação de células cancerígenas. Estudos também demonstram que o efeito antitumoral da amigdalina (extraída de frutas como o pêssego) é decorrente da interferência no ciclo celular e interrompe a proliferação e induz a apoptose por regular a expressão de proteínas apoptóticas (principalmente capsase-3) e outras moléculas de sinalização. Já a EGCG, ativa as caspases-3 e 9, o que também induz a apoptose de células potencialmente cancerígenas.
As isoflavonas, presentes na soja, modulam a via de sinalização kt/NF-κB, também induzindo a morte celular programada. E o licopeno, presente no tomate, regula as vias Bax e Bcl-2.
Inibidores de angiogênese:
Estes compostos impedem ou dificultam a formação dos vasos sanguíneos na massa tumoral e evitam o aporte de nutrientes para o tumor. A EGCG e a curcumina também são capazes de suprimir o fator de crescimento endotelial vascular, dificultado a formação de novos vasos sanguíneos e limitando o aporte de nutrientes para o tumor. Outros nutracêuticos que também inibem essa via são o indol-3-carbinol e seu metabólito di-indol metano (DIM), além de aumentarem a expressão de interleucina 8, inibindo o desenvolvimento vascular.
Esses bioativos citados são apenas alguns dos disponíveis no mercado e que tem apresentado cada vez mais opções de tratamento e prevenção para essa temível doença.
Obviamente o consumo das fontes alimentares desses nutracêuticos vão muito bem. Mas, àqueles que tem restrições quanto ao seu consumo, ou mesmo para conseguir atingir as doses adequadas para cada caso, as cápsulas desses bioativos encontradas em farmácia de manipulação são a solução.
Converse com seu médico, nutricionista e/ ou farmacêutico e bom tratamento!