Estudo pioneiro revela como portadores de raro distúrbio visualizam faces demoníacas
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O estudo, publicado em março de 2024 na revista The Lancet, revelou detalhes sobre esse distúrbio neurológico pouco compreendido.
A PMO (prosopometamorfopsia) é caracterizada por mudanças na percepção visual do paciente, que passa a ver rostos deformados de formas diversas. Alguns relatam ver olhos e nariz contorcidos e deslocados, enquanto outros enxergam faces como se fossem de desenhos animados. Há também aqueles que visualizam aparências assustadoras.
O distúrbio, que é confundido com esquizofrenia, afeta apenas cerca de 75 pessoas até o momento, mas despertou o interesse de pesquisadores que buscam entender sua origem. A maioria dos pacientes tem dificuldade em descrever precisamente o que vêem, pois também percebem distorções na própria representação.
No entanto, pesquisadores da Dartmouth College, nos Estados Unidos, conseguiram avançar no estudo da PMO ao identificar um portador que percebe as deformações apenas quando está frente a frente com outra pessoa. Utilizando esse fato, tiraram fotos de voluntários e as mostraram para o paciente simultaneamente à visualização da pessoa real.
Com o auxílio de um software específico, os cientistas modificaram as fotografias de acordo com as descrições do paciente. Victor Sharrah, um homem de 58 anos, que sofre de PMO há quase três anos, visualiza características alongadas nos olhos, boca e orelhas, além de distorções no queixo, bochechas e testa. Mas é interessante observar que o distúrbio não afeta a visão quando se olha para objetos.
"Por meio desse processo, conseguimos visualizar em tempo real a percepção do paciente sobre as distorções faciais", afirmou Antônio Mello, estudante de doutorado de Dartmouth e coautor do estudo. Ele ressaltou que as mudanças observadas em Sharrah não foram acompanhadas por crenças delirantes relacionadas às pessoas vistas.
Embora as causas da PMO ainda sejam desconhecidas, suspeita-se que estejam associadas a anormalidades ou danos na região do cérebro responsável pelo processamento visual. Alguns casos estudados indicaram que as distorções ocorreram após episódios de enxaqueca, traumatismo cranioencefálico ou AVC, enquanto outras surgiram sem motivações aparentes.
No caso do voluntário desta pesquisa, ele sofreu uma lesão na parte esquerda do cérebro há 15 anos, além de ter passado por envenenamento por monóxido de carbono meses antes das alterações em sua visão aparecerem. Esses eventos podem ter contribuído para o desencadeamento do problema.
Este estudo pioneiro traz avanços na compreensão da prosopometamorfopsia, permitindo uma visão mais aprofundada sobre como os portadores deste distúrbio visualizam as faces de outras pessoas. Espera-se que essas descobertas possam contribuir para o desenvolvimento de abordagens terapêuticas eficazes no futuro.