Como a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais influenciaram a moda
Manual Do Homem Moderno
Além do número de mortos e das terríveis consequências que deixaram por todo o mundo, foram muitos também os avanços que as guerras proporcionaram em diversos campos ao longo da história: da tecnologia e pesquisas científicas às comunicações, os transportes, a computação e até mesmo na moda. Sim, algumas guerras ajudaram a moldar a moda masculina – em especial a Primeira e a Segunda Guerra Mundial.
Afinal, da mesma forma que preparamos nosso guarda-roupa para enfrentar o frio quando esperamos o inverno e o calor quando esperamos o verão, também é muito útil ter uma vestimenta que possa fornecer qualquer vantagem em meio ao combate. Foi assim que, graças ao clima, à escassez de material ou à praticidade, a forma com que nos vestimos foi influenciada durante a duas grandes guerras do século 20.
A história de como as Grandes Guerras tiveram influência na forma que nos vestimos hoje pode ser ouvida no episódio do podcast do Manual do Homem Moderno colocado abaixo – ou no texto que segue. Divirta-se.
Ah, antes de tudo vale ressaltar que a intenção aqui não é exaltar guerras ou belicismo de qualquer tipo. Apenas vamos contar uma história a partir de algumas peças de roupa, ok?
Mudam as roupas, muda a cabeça
É da época da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918) a popularização de uma peça que faz sucesso até hoje: o Trench Coat. Também conhecido como sobretudo, esse casacão impermeável que vai até o joelho ou a canela era utilizado por oficiais de alta patente do exército britânico.
Útil para frio, chuva e neve e frio das trincheiras, ele acabou sendo eternizado também como “uniforme” de detetives particulares. Ganhou um chame especial ao ser usado por Humphrey Bogart em “Casablanca” (um dos filmes clássicos que você pode e deve ver em casa já).
Na moda feminina, a mudança foi ainda mais significativa. Antes da guerra, a estrutura familiar se resumia, quase sempre a: um homem que saía para trabalhar, uma mulher que cuidava das tarefas do lar e crianças que estudavam (às vezes) ou trabalhavam para ajudar os pais. Com seus maridos e filhos na linha de frente, porém, muitas mulheres recorreram a empregos nas grandes cidades.
Com isso, fábricas, escritórios, fazendas, transportes e outras áreas de trabalho começaram a se tornar mais femininas. Entre os trabalhadores (e as novas trabalhadoras), a moda deixou de ser algo que apenas demonstrava status e personalidade para ser tornar mais utilitária, fácil de ser usada no dia a dia. As mulheres tiveram que focar em opções mais viáveis, práticas e confortáveis – e assim a calça se tornou parte do figurino feminino.
Ao mesmo tempo, essas mulheres mais independentes começaram a questionar o papel imposto por seu gênero e a lutar pelo direito de votar e pelo fim do que era considerado um “comportamento feminino ideal”. A primeira metade do século foi de conquista do voto feminino em boa parte dos países (no Brasil, por exemplo, foi em 1932).
A guerra da moda em Londres
Foi na Segunda Guerra Mundial (1393-1945), contudo, que a realidade dos conflitos acabou por mudar de vez as roupas que as pessoas usavam. E o Reino Unido é um ótimo exemplo de como a guerra mudou a moda.
Durante os anos em que foi bombardeado pelos alemães, o Reino Unido criou um sistema de controle da indústria da moda para evitar que tecidos e roupas fossem desperdiçadas. A ideia era limitar a quantidade de roupas que uma pessoa poderia comprar ao longo de um ano, bem como o material do qual elas eram feitas, a quantidade de tecido usado nas peças e até o número de botões em cada – não à toa, o paletó de seis botões perdeu espaço para a versão moderna, com apenas três.
Mas o governo britânico sabia que, se as roupas de tempos de guerra não fossem bonitas, ninguém as usaria. Por isso, a Sociedade de Designers de Moda de Londres foi chamada para desenhar (ou redesenhar) uma série de peças boas, bonitas e práticas. E você com certeza conhece algumas delas.
Com tecidos feitos de lã e algodão se tornando escassos devido ao uso militar, as fibras sintéticas foram usadas nesse processo. Mais úteis e resistentes, elas foram conquistando o público para além da necessidade de se adaptar à falta de materiais. Meias de algodão, por exemplo, viraram meias de nylon. Peças íntimas femininas também começaram a ser produzidas com tecido sintético.
Outro caso famoso é o das cidades britânicas em que as luzes começaram a ser desligadas durante a noite para dificultar sua localização e evitar bombardeios e ataques noturnos. Para ter mais visibilidade à noite e evitar acidentes, atropelamentos e etc., moradores desses locais passaram a usar roupas brancas e peças claras – algo raro até então (veja como são comuns imagens com todos os caras usando preto na rua há 100 anos).
Peças menos vistosas e mais práticas
Antes do século 20, os uniformes de guerra eram mais formais, com arranjos e cores berrantes. É só olhar as roupas vermelhas dos britânicos ou as casacas francesas da época da Revolução, cheias de botões e frufrus que serviam muito mais para caracterizar os soldados do que combater.
Na verdade, durante muitos séculos a guerra foi algo formal, onde soldados se encontravam frente a frente, em campo aberto, trocando espadadas e depois tiros de acordo com certa ordem. A partir da Primeira Guerra Mundial, o conflito mudou de cara. O negócio era ocupar territórios e empurrar os inimigos para trás.
Sem o encontro físico com o inimigo, a pompa e o rigor perderam importância para a praticidade e a discrição. A calça cargo, por exemplo, se tornou popular nessa época (e continua como tendência hoje). Era usada pelos paraquedistas, que precisavam carregar o máximo de equipamento possível para o campo de batalha já que, em muitos casos, eles saltavam além da linha inimiga, sem ter para onde recuar para pegar munição ou suprimentos. Bolsos eram muito necessários, por isso o macacão também começou a ser muito usado. Além disso, era prático pela velocidade com que podia ser vestido no caso de um ataque.
A camiseta, que havia sido inventada no século anterior durante a guerra entre Estados Unidos e México, foi sendo popularizada entre os soldados durante a Primeira e a Segunda Guerra Mundial como peça de baixo dos uniformes dos soldados. Depois, no pós-guerra, Marlon Brando e James Dean a transformariam em um verdadeiro ícone.
Isso sem falar nas jaquetas bomber, óculos aviador, tricôs de marinheiro e muitas outras peças que foram surgindo graças a uma combinação de: necessidade, praticidade, adaptação e, claro, estilo. É a guerra moldando a moda.