Dia Nacional da Visibilidade Lésbica: Carol Biazin e Maellen falam sobre a importância da data
Máxima
O dia 29 de agosto não é comum. A data traz consigo uma grande importância para a comunidade LGBTQIA+. Nela, é comemorado o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica.
A data foi escolhida a dedo por causa do 1º Seminário Nacional de Lésbicas (SENALE), que aconteceu em 1996 neste mesmo dia.
Em entrevista exclusiva à Máxima Digital, as cantoras Carol Biazin e Maellen falaram sobre a importância da data.
"A data é importante para que possamos conscientizar, ensinar, mostrar, se posicionar, para que entendam que podemos ser livres para amarmos quem quisermos, que não estamos cometendo nenhum crime, que estamos fazendo bem a outra pessoa, e que apenas queremos ser respeitadas e livres para viver em paz.", disse Maellen.
"Para mim, é um momento de celebrarmos a nossa existência e sermos lembrados. Mas não posso deixar de falar que há pontos bons e ruins. Como comentei, nós da comunidade LGBTQIA+ já somos muito nichados pela sociedade. Então, eu gosto de trazer esses temas com naturalidade para o meu cotidiano, e desejo muito que essas pautas sejam cada vez mais inseridas em discussões sem a necessidade de um dia para falarmos sobre. Porém, ainda temos várias décadas pela frente para conseguirmos quebrar barreiras e alguns tabus, que não deveriam mais ser considerados tabus.", falou Carol.
"O dia do orgulho lésbico significa muito, todos nós lutamos por uma igualdade, por sermos tratados, no mínimo, com respeito. Todo dia é uma luta para combatermos o preconceito e podermos a cada dia que passa ser quem somos sem medo de sofrer por algo na rua só porque estamos amando alguém. Esse dia faz a gente se sentir especial e saber que não estamos sozinhas, que vamos sempre nos posicionar para que possamos encorajar cada vez mais e mais a serem que realmente são.", completou Maellen.
VIVÊNCIAS PESSOAIS
As cantoras abriram seus corações sobre suas vivências pessoais como membros da comunidade LGBTQIA+. Elas contaram como foi o processo de assumir suas orientações sexuais.
"Foi complicado. Porque desde muito nova, eu já sentia um carinho diferente pelas meninas, algo que eu não sentia pelos meninos. E eu não entendia muito o que estava acontecendo. Claro que não tinha interesse ainda com 11 anos, mas eu tinha um um afeto maior por elas, de querer abraçar, ficar perto. E eu sabia que minha mãe não era a favor, não aceitava, pelas coisas que eu ouvia dentro de casa. Então eu sempre tive muito medo de falar, até que eu contei com 18 anos, porque ela ficou pressionando. E foi libertador, foi a melhor coisa que eu fiz. Passei por muitas barreiras e foi nessa pior fase que eu pude me sentir mais livre, sabe? Porque naquele momento eu estava sendo eu de verdade. Não tinha mais que esconder nada de ninguém e podia ser o que eu realmente era.", contou Maellen.
"Desde mais nova tinha esse questionamento. Cheguei a ter um namorado quando era mais nova, mas demorou muito até eu compreender isso. Foi com 21 anos, quando me apaixonei por uma mulher, que me entendi como uma mulher lésbica. Quando contei para a minha mãe pela primeira vez, foi a pessoa que eu mais fiquei preocupada, mas ela sempre me respeitou muito e me deu apoio. Foi quando eu realmente fiquei sem medo nenhum de me assumir", contou Carol.
INSPIRAÇÃO
As artistas falaram como se sentem sendo uma inspiração para diversas pessoas da comunidade LGBTQIA+ para assumirem quem são.
"Eu tento trazer a minha arte com naturalidade, então, se eu canto para outra mulher é porque eu estou falando da minha vida, estou falando de quem eu sou. Eu nunca compus pensando na forma como eu iria atingir as pessoas mas, consequentemente, eu acabei atingindo um público que se identifica comigo. E isso é incrível para mim, cantar sobre algo que é tão meu e as pessoas se identificarem", contou Carol.
"Eu sempre dou o apoio que eu posso dar, e sempre dou o conselho, principalmente aos menores de idade, para terem um pouco de cuidado e cautela para não ser expulso de casa, ou ficar ouvindo coisas desnecessárias simplesmente por se assumir. Então eu falo sempre para eles buscarem a independência financeira deles primeiro, para depois pensarem em se assumir. No geral, é muito gratificante ser inspiração, ser um exemplo para maioria deles e, também, ter essa força que eles me dão todos os dias, que me faz ser uma pessoa melhor e ser um espelho para eles, incentivando a conquistarem o espaço deles e serem quem realmente querem ser.", disse Maellen.
PRECONCEITO
As pessoas ainda são muito preconceituosas e é uma jornada complexa conseguir vencer essa barreira imposta pela sociedade. Essa a qual, muitas vezes, pode ser silenciosa, mas traz consigo grandes desafios diários.
As cantoras revelaram que já tiveram seus trabalhos prejudicados por serem mulheres e/ou, por serem lésbicas.
"Sim, já sofri com o fato de ser uma mulher assumidamente lésbica. Eu não consigo apontar dedos, mas da indústria em geral, de você se sentir oprimida e ser colocada em uma caixa, ao te olharem como uma mulher lésbica do que propriamente como uma artista pop. É algo que eu tenho tentado quebrar muito ultimamente e eu tenho sentido uma mudança na minha carreira, ocupando outros espaços. Mas, com certeza, ainda é uma barreira a ser quebrada.", disse Carol.
"Pela orientação sexual, não, mas por ser mulher, sim. Não que eu nunca tenha sofrido nenhum tipo de preconceito, já sofri preconceito no trabalho, e muito depois, como figura pública. Sempre tem alguma mensagem de mal gosto, com um preconceito exacerbado, que sempre está presente no cotidiano. É complicado, mas a gente vai levando. Porque eu não estou fazendo nada de errado, eu só quero fazer o bem e tratar a todas com respeito independente de religião, etnia ou orientação sexual.", falou Maellen.
CONSELHOS
Por fim, as cantoras aconselharam quem deseja assumir sua orientação sexual, mas ainda não conseguiu.
"Para buscar a independência financeira primeiro. Porque, assim, você faz o que você quiser, mesmo ouvindo as coisas que inevitavelmente vai ouvir, mas você não vai mais precisar depender de alguém que só está fazendo mal a você.", disse Maellen.
"Na verdade, eu não posso dar um conselho de forma geral porque vai de pessoa para pessoa. Cada um tem uma família, eu sei que tem pessoas que têm famílias complicadas. Para mim, foi muito fácil quando eu tive a minha liberdade financeira. Longe de mim falar para as pessoas não contarem, mas, no meu caso, me senti muito livre para fazer isso depois que eu estava pagando as minhas contas. Infelizmente, a gente precisa pensar em algumas questões como essa.", falou Carol.