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Brasileiros dão dicas para quem quer trabalhar em Portugal
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Brasileiros dão dicas para quem quer trabalhar em Portugal

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Rota De Férias
24/06/2021 16h52
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A quantidade de brasileiros que decidiram viver e trabalhar em Portugal vem aumentando cerca de 20% a cada ano, segundo relatório divulgado pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), órgão responsável pela imigração no país europeu. A porcentagem posiciona o Brasil como a maior comunidade estrangeira presente em terras lusitanas, acima até mesmo dos vizinhos espanhóis.

Diferentes razões levam alguém a cruzar o Oceano Atlântico e tentar a vida na Europa. A insatisfação com a atual situação socioeconômica brasileira e a busca por maior segurança ou por um futuro melhor para entes queridos estão entre os principais motivos.

Realizar o sonho de trabalhar em Portugal é, de fato, algo viável, mas o ideal é que a mudança não seja tão repentina. É importante entender que, apesar dos bons ventos que sopram d’álém-mar, vale a pena ter um emprego em vista ou, ao menos, toda a documentação pronta antes de fazer as malas. Esses, ao menos, são os principais conselhos de quem já está vivendo essa aventura.

Como é trabalhar em Portugal

O software engineer Felipe Nascimento chegou a Lisboa em março de 2017. “À época, o país estava iniciando um grande movimento para se tornar um hub de desenvolvimento de Tecnologia da Informação (TI) para o mundo. Falava-se muito que, aqui, surgiria a ‘San Francisco da Europa’, em alusão ao Vale do Silício americano (onde estão gigantes do mercado, como Google e Facebook)”, lembra. Assim, o profissional decidiu trabalhar em Portugal.

O descontentamento com a economia frágil e a segurança do Brasil foi um bônus para fazer as malas e encarar a aventura. Uma vez no país europeu, Felipe candidatou-se a várias vagas que encontrou no Landing.jobs, portal voltado à área de desenvolvimento de software.

“Uma empresa da Alemanha, que estava para abrir escritório em Lisboa, demonstrou interesse pelo meu perfil. Logo, agendamos uma entrevista pessoalmente. Depois, passei uma semana na sede para testar se me identificava com a equipe”, diz o software engineer.

Vagas de trabalho em sites

Buscar vagas em sites, por sinal, é algo comum para os profissionais de tecnologia que desejam trabalhar em Portugal. O analista de sistemas Antonio Carlos Mesquita Robledo (na foto de abertura desta reportagem com a esposa Camila Fraia e o filho, Felipe) também conseguiu emprego com ajuda da internet. No caso dele, a entrevista foi feita via Skype, enquanto ainda estava no Brasil.

O profissional mudou-se para Cascais com a esposa e o filho em outubro de 2017. “Para quem é da área de TI, há muitas oportunidades de trabalho por aqui”, comenta. Não à toa, ele já mudou duas vezes de emprego desde que chegou a Portugal.

Antonio Carlos ressalta que o mercado de tecnologia anda tão aquecido por lá que até mesmo os salários apresentaram leve crescimento nos últimos meses. “É fato, no entanto, que os profissionais mais experientes têm mais espaço, pois muitas oportunidades estão em startups que contam com times pequenos e têm muito trabalho a fazer”, revela.

Oportunidades para empreendedores

Ricardo Cherto. da OakBerry Açaí Bowls | Arquivo pessoal

O setor de tecnologia é o mais visado, mas a verdade é que o país europeu está incentivando novos investimentos em qualquer área para quem deseja trabalhar em Portugal. Por isso, simplificou o processo de abertura de companhias, sejam elas individuais, sejam sociedades, com o programa Empresa Na Hora.

Um dos brasileiros que aproveitou essa oportunidade foi Ricardo Cherto. Sócio-diretor de franquias na OakBerry Açaí Bowls, ele ajudou a abrir a primeira filial da marca em Portugal. A loja de Lisboa foi inaugurada em agosto de 2019. “Apesar do pouco tempo, temos cada vez mais clientes fidelizados – e já cansamos de ouvir que nosso açaí é o melhor da cidade”, gaba-se.

Para atingir esse patamar, a OakBerry adotou a estratégia de adaptar o cardápio e até a fruta para o público português.

“Trabalhamos por aqui com alguns toppings que não são oferecidos no Brasil, como os de semente de abóbora e goji berry. Foi nossa fornecedora de produtos a granel, inclusive, que deu a dica e nos ajudou com sua experiência e seu conhecimento sobre os gostos dos portugueses. Além disso, a fórmula do açaí comercializado é ligeiramente menos doce, mais alinhada ao paladar dos europeus”, comenta.

Trabalhar em Portugal com turismo

Ana Paula em tuk tuk de sua empresa, a Live Portugal | Arquivo pessoal

Quem também resolveu abrir empresa e trabalhar em Portugal foi Ana Paula Xavier de Oliveira Alcalde. A paulista é proprietária da Live Portugal, uma companhia de tuk-tuks (modelo de riquixá motorizado com cabine para transporte de passageiros ou mercadorias).

“Quando cheguei ao país, em setembro de 2013, trabalhava com marketing, mas não me sentia realizada. Foi uma amiga, também brasileira, que sugeriu os tuk-tuks. Comecei aos finais de semana, mas logo larguei o emprego para me dedicar em tempo integral”, lembra.

De acordo com a empreendedora, uma das maiores vantagens de trabalhar com turistas está na troca de experiência. “Há muita partilha. Os clientes, por exemplo, têm a oportunidade de conhecer a capital portuguesa melhor com os tuk-tuks, já que os ônibus turísticos não entram em ruas estreitas dos bairros históricos. Nós motoristas conhecemos pessoas de todo o planeta – embora exista uma predominância dos mercados francês, inglês, espanhol e brasileiro”, aponta Ana Paula.

Como sua empresa trabalha com o setor turístico, Ana Paula precisa seguir algumas regras extras. “Somos obrigados a obter um registro no órgão oficial Turismo de Portugal. A licença emitida depende de uma série de seguros que precisam estar sempre válidos. Caso contrário, ela perde a efetividade”, relata.

Vale destacar que, assim como o segmento de tecnologia, o de viagens também está aquecido no país europeu. Agora, se você quiser investir em outras áreas, a dica é analisar antes como está o cenário por lá.

“É essencial pesquisar bastante e fazer um plano de negócios adaptado para a realidade do país. De resto, Portugal está de braços abertos, com uma lei de imigração que facilita a entrada de quem vem para trabalhar legalmente e contribuir para o crescimento do país”, afirma Ana Paula.

Onde morar em Portugal

Com a abertura dos portões para empresas e profissionais de fora que querem trabalhar em Portugal, o país viu um aumento também na procura por imóveis, o que fez com que os valores igualmente subissem. “Existe uma bolha imobiliária no país. A questão de habitação tem sido um desafio para quem vive nos grandes centros urbanos”, alerta Ana Paula.

A solução mais simples que os brasileiros estão encontrando é morar em cidades próximas às metrópoles, que costumam oferecer imóveis mais baratos. Antonio Carlos, por exemplo, vive em Cascais, mas trabalha em Lisboa. O município fica a 30 km da capital portuguesa. O trajeto de trem dura 40 minutos, com partidas a cada 20. De carro, tem duração média de 50 minutos.

Já Ana Paula mora em Oeiras, localizada a 19,2 km de Lisboa. O trajeto de trem leva cerca de 20 minutos, enquanto o de carro, 30.

Adaptação em Portugal

A consultora imobiliária Marcia Aparecida, que trabalha em Portugal | Arquivo pessoal

O que é problema para alguns, por outro lado, pode ser encarado como oportunidade para outros. A consultora imobiliária Marcia Aparecida Ruiz encontrou nesse cenário a chance de exercer sua profissão em Lisboa – e ser reconhecida pela eficiência.

“Com o aquecimento do mercado, foram abertas várias imobiliárias. A consequência é que muitos profissionais caíram de paraquedas no setor. Há muito amadorismo, o que abre espaço para quem sabe trabalhar e já tem alguma experiência na bagagem”, ressalta.

Marcia recebeu a proposta de emprego quando estava passando férias no país, em janeiro de 2019. Ela voltou para São Paulo (SP), trocou as malas e retornou em definitivo em março para trabalhar em Portugal.

“A maior vantagem é que, aqui, a concorrência é menor. Então, se você é bom no Brasil, será acima da média em Portugal. Os brasileiros são dedicados, empenhados; temos garra e força. Tudo isso enche os olhos dos patrões lusitanos”, afirma.

Quando o assunto é desafio, a profissional diz que, apesar de a mesma língua ser falada por lá, é preciso um tempo para se adaptar às expressões e à escrita. Nem isso, porém, foi um grande problema para ela. “A recepcionista da imobiliária foi superquerida. Ajudou-me a escrever os primeiros e-mails, quando eu não sabia ao certo escolher as palavras.”

Hoje, Marcia vive com mais comodidade em Portugal, realizando a mesma função que tinha no Brasil. “Em São Paulo, trabalhava com locações comerciais e, por causa da situação econômica do País, esse tipo de negócio viu-se muito prejudicado. Era difícil tirar mais que R$ 2 mil por mês. Em Portugal, passei a trabalhar com vendas. Recebo o equivalente a R$ 4.500 ao mês”, conta.

Mas como santo de casa não faz milagre, Marcia também sofre com as altas dos imóveis. “Pago o equivalente a R$ 1.200 para alugar um quartinho. E ainda divido a casa com mais três moças”, lamenta.

Mais qualidade de vida

Juliana Moda mora em Portugal desde 2019 | Arquivo pessoal

Antes de mudar-se para Portugal, é preciso ter em mente que o país tem boas oportunidades de emprego, mas não é o mais adequado para quem deseja juntar dinheiro, já que os salários pagos raramente são altos. O mínimo de 665 euros, inclusive, é um dos mais baixos entre os das nações da União Europeia.

“Não pense que vai ficar rico fácil ao trabalhar em Portugal. A mudança está mais ligada a uma questão de bem-estar e de aproveitar a vida sem precisar ter um salário acima do da média da população. Caso você chegue a esse estágio, terá muito mais o que usufruir do que no Brasil”, destaca Felipe.

Um dos trunfos de morar em terras lusitanas está no equilíbrio entre vida pessoal e trabalho. A microempresária Juliana Moda mudou-se para Lisboa em janeiro de 2019. A profissional trabalha em home office para uma ONG e indica a eficiência do transporte público, por exemplo, para uma melhora expressiva na qualidade de vida.

“Quando preciso participar de reuniões e eventos, consigo ir tranquilamente, sem ter de sair de casa horas antes. Então, sobra tempo para cuidar da minha saúde e curtir a família”, aponta.

Marcia concorda. “Usar transporte público não é traumático nem humilhante por aqui, muito pelo contrário”, diz. A consultora imobiliária também revela que não vê muita ostentação no país. “Ter um carro dos anos 2000, com a pintura danificada, por exemplo, não te diminui como pessoa. E ao estacionar ao lado de um Volvo, você não vai se sentir mal. Minha sensação é que, no Brasil, nos sentimos mais cobrados e julgados pela sociedade”, completa.

Custo de vida em Portugal

Outra diferença da vida em Portugal está no custo de vida. Lá, o padrão é relativamente mais baixo do que aqui – ao deixar de lado, sobretudo, os valores dos imóveis.

Em relação à comida, por exemplo, Marcia revela que a média de um prato comercial sai o equivalente a R$ 30. “Com bebida e café inclusos”, acrescenta. Os fãs de vinho também podem comemorar. O país é um dos maiores produtores do mundo, o que faz com que seja possível encontrar garrafas a partir de 2 euros. Já o famoso Vinho do Porto começa em 4 euros.

Boa segurança, além de educação e saúde públicas de qualidade, são mais ingredientes portugueses que enchem os olhos dos brasileiros. Mas nem isso tudo faz com que a adaptação seja fácil. Migrar de residência e trabalhar em outro país sempre exige paciência e esforço. E, sim, você vai se deparar com alguns perrengues.

“Tem que vir de cabeça aberta e estar disposto a dar alguns passinhos para trás a fim de poder dar saltos maiores no futuro. Isso faz parte do processo. No fim, trabalhar e viver em Portugal é uma maravilha”, afirma Ricardo.

Para quem ainda não tem certeza sobre se quer atravessar o Atlântico para trabalhar em Portugal, a dica de ouro é passar uma temporada em terras lusitanas e sentir na pele a dinâmica e a cultura do local. Isso facilita bastante os primeiros meses por lá e pode dar fôlego para o que mais se almeja: uma vida melhor.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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