Álcool danifica DNA e acelera envelhecimento, mostra análise genética
Tecmundo
Ressaca e outros efeitos de curto prazo do consumo excessivo de álcool são bem conhecidos pela maioria dos adultos. O que nem a ciência ainda sabia é se entre os malefícios da ingestão de álcool está a aceleração do processo de envelhecimento. Agora, um novo estudo internacional sugere que sim.
Grande estudo reforça evidências de que o álcool acelera o envelhecimento
Investigar o tema é considerado desafiador devido à falta de métodos confiáveis para medir o envelhecimento biológico: nunca ficou claro se o álcool era a verdadeira causa de qualquer efeito no envelhecimento ou se ele estava ligado a outros fatores.
Neste novo estudo, pesquisadores da Oxford Population Health fizeram uma análise genética que sugere que o álcool acelera diretamente o envelhecimento ao danificar o DNA nos telômeros — sequências repetitivas que cobrem o final dos nossos cromossomos, protegendo-os de danos. A pesquisa foi publicada na revista científica Molecular Psychiatry.
O comprimento dos telômeros é considerado um indicador de envelhecimento biológico. Cada vez que uma célula se replica, entre 50 e 100 bases de DNA são perdidas — com os telômeros ficando mais curtos. Quando eles se tornam muito curtos, as células não podem mais se dividir e podem até morrer.
Estudos anteriores já associaram comprimentos mais curtos de telômeros a várias doenças relacionadas ao envelhecimento, como Alzheimer, câncer e doença arterial coronariana.
Álcool X telômeros
Os pesquisadores investigaram a associação entre a ingestão de álcool e o comprimento dos telômeros em mais de 245 mil participantes do Biobank do Reino Unido.
O estudo foi feito via Randomização Mendeliana, um método que estima efeitos causais utilizando variantes genéticas. 51% dos participantes eram homens e 49% eram mulheres; a idade média era de 57 anos.
De acordo com a pesquisa, o álcool acelera o envelhecimento ao danificar o DNA
Quem bebia menos de 6 unidades de álcool por semana (cerca de duas taças grandes de vinho de 250 ml) tinha telômeros mais compridos do que quem bebia mais de 29 unidades por semana (cerca de dez taças de 250 ml de vinho). A diferença de idade estimada pelo comprimento dos telômeros entre os dois grupos ficou entre um e dois anos.
Indivíduos com diagnóstico de transtorno por uso de álcool tiveram comprimentos de telômeros significativamente mais curtos — o equivalente entre três e seis anos.
Principais achados
Segundo o estudo, o maior consumo de álcool geneticamente previsto foi associado ao menor comprimento dos telômeros, com o aumento de 10 para 32 unidades de álcool por semana representando o equivalente a 3 anos de envelhecimento.
A associação entre o consumo de álcool geneticamente previsto e o comprimento dos telômeros foi significativa apenas para quem bebia mais de 17 unidades por semana — o que sugere que uma quantidade mínima de álcool pode ser necessária para danificar os telômeros.
Os efeitos do álcool foram encontrados apenas em bebedores atuais, e não em bebedores anteriores ou que nunca beberam.
O estudo sugere que um potencial mecanismo biológico para explicar a influência do álcool no comprimento dos telômeros é o aumento do estresse oxidativo e da inflamação. Assim, a decomposição do etanol no corpo produziria espécies oxidativas que danificariam o DNA.
Sendo assim, o melhor segue sendo não ingerir álcool, ou beber com moderação.
ARTIGO Molecular Psychiatry - https://doi.org/10.1038/s41380-022-01690-9 .