Substância da maconha pode combater dor crônica, indica estudo brasileiro
Tecmundo
O canabidiol (CBD), um composto extraído da maconha que não possui efeito psicoativo, pode auxiliar no tratamento da dor crônica. O resultado vem do campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). Testes de laboratório em animais revelaram que a substância, além de reduzir dores crônicas, atua em comorbidades associadas, como a ansiedade. O artigo foi publicado na revista Neuropharmacology e o próximo passo do estudo é realizar testes clínicos (em humanos) para confirmar os resultados.
O sistema canabinoide – presente no cérebro e sistema nervoso periférico humano e animal – faz parte do circuito corporal de sensibilidade à dor. Ele foi descoberto no final da década de 1980 e, desde então, são realizados muitos estudos, tanto no Brasil quanto no exterior, sobre os possíveis efeitos terapêuticos do CBD.
Para a pesquisadora responsável pelo estudo, Gleice K. Silva-Cardoso, do Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da universidade, o resultado indica que o canabidiol pode ser um aliado no tratamento da dor crônica neuropática, já que os receptores do sistema canabinoide podem ser ativados por substâncias produzidas por derivados da planta Cannabis, como o CBD. A declaração foi dada em entrevista ao Jornal da USP no Ar.
Além de possivelmente atuar na redução da dor, a pesquisadora explicou que a substância tem revelado benefícios analgésicos e imunossupressores: ela atua em distúrbios de ansiedade, do sono e do movimento. Em outros países, produtos com CBD já são comercializados para tratar epilepsia, Parkinson, Alzheimer e como analgésico para doentes oncológicos terminais.
No Brasil, alguns medicamentos à base de canabidiol são autorizados pela Anvisa, mas só são obtidos com prescrição médica e uma autorização especial para importação — o que não sai muito barato.
Estimativas apontam que cerca de 20% da população mundial sofre com algum tipo de dor crônica (créditos: TB studio/Shutterstock)
Uma pesquisa italiana publicada na revista científica Science Direct também já havia estudado anteriormente a eficiência do CBD como tratamento para dor crônica inflamatória e neuropática em ratos. O uso da substância por via oral reduziu a sensação de dor nos animais — tanto a que era causada de forma térmica, quanto a mecânica.
A maior dose da substância administrada aos animais (20 mg/kg) chegou a acabar com a sensação de dor, restaurando completamente o estado fisiológico e induzindo o alívio total do desconforto.
O estudo brasileiro também avaliou a hiperalgesia — dor térmica e mecânica em animais — e chegou à conclusão de que o uso de CBD é eficaz para reverter os quadros; já doses menores podem diminuir comportamentos como ansiedade e depressão, que costumam acompanhar situações em que um indivíduo sofre com dor crônica.
ARTIGO Neuropharmacology