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A Revolta de Stonewall em 5 fatos, segundo a historiadora Natally Menini
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A Revolta de Stonewall em 5 fatos, segundo a historiadora Natally Menini

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Aventuras Na História
03/07/2021 03h00
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Na madrugada do dia 28 de junho de 1969, o bar Stonewall Inn, que fica até hoje no bairro nova-iorquino de Greenwich Village, foi invadido por policiais. Não era a primeira vez que os oficiais adentravam estabelecimentos destinados ao público LGBTQIA+, em visitas carregadas de agressões a clientes e prisões de funcionários.

Stonewall entrou para a história, porém, pelo que aconteceu após a invasão: cansados de tamanha hostilidade, em uma sociedade ainda tão LGBTfóbica, os clientes do bar decidiram dar o troco. Tudo começou com as pessoas que estavam presentes, sofrendo com a violência policial, mas o movimento se alastrou e durou seis longos dias.

A redação do site Aventuras na História conversou com a doutora em História e professora da Universidade Estácio de Sá Natally Menini para entender mais sobre o evento que, entre outras coisas, deu origem à celebração do Orgulho LGBTQIA+ no mês de junho. Nós separamos 5 fatos sobre a Revolta de Stonewall. 

1. Os bares gays eram refúgios em pouco número

Manifestantes na frente do bar Stonewall em 2014 / Crédito: Getty Images

 

A homossexualidade era criminalizada em muitos lugares dos Estados Unidos na década de 1960, o que fazia com que qualquer demonstração que estivesse fora da conformidade de gênero e sexualidade cis-hétero fosse rechaçada. “Poucos estabelecimentos nos Estados Unidos respeitavam e recebiam as pessoas LGBTQIA+”, explica a historiadora Natally Menini.

Assim, os poucos bares gays que existiam em Nova York se tornaram “verdadeiros refúgios” para essas pessoas, em que elas poderiam ter momentos de lazer, entretenimento e construir redes de sociabilidade.

Como ressalta a Menini, existem relatos em livros que contam que no bar Stonewall era permitido “dançar música lenta e demonstrar afeto por pessoas do mesmo gênero”, o que não era permitido nas ruas da cidade.

Frequentavam o estabelecimento principalmente jovens gays da periferia e de drag queens, mas pessoas LGBT de maneira geral também tentavam desfrutar do espaço acolhedor, que, no entanto, não possuía uma boa estrutura. As bebidas eram superfaturadas e o ambiente era extremamente sujo, contando com batidas policiais frequentes.


2. A polícia tinha função de “controle social”

As invasões policiais nos bares gays nova-iorquinos não eram uma exceção, mas seguiam regras observadas em todo o sistema de governo dos Estados Unidos entre as décadas de 1960 e 1970 com relação às pessoas LGBT. Naquela época, por exemplo, a legislação não permitia a venda de bebidas alcoólicas em bares acusados de promover desordens.

“A simples presença do público LGBTQIA+ nos bares já era interpretada como ‘desordem’, o que impedia a legalização de qualquer estabelecimento voltado para esse público na época”, aponta a professora.

Com a função de controle social, “agentes policiais que reprimiam a comunidade LGBTQIA+ representavam a força pública: eram os agentes do Estado que possuíam o monopólio da violência legítima”.

Uma habilidade específica da polícia era, conforme Menini, a de explicar e prevenir o “comportamento perigoso”. “Assim, o controle social realizado pela polícia seria mais direcionado às pessoas socialmente estigmatizadas e incluídas nas chamadas ‘classes perigosas’, cujos comportamentos eram vistos como ‘desordeiros’ e ‘desviantes’”, destaca a especialista. Tudo isso era legitimado pelas leis e pelos valores dominantes da época.


3. O contexto político e social dos EUA favoreceu a rebelião

Embora a revolta possa parecer um raio de esperança e indignação no meio de tantos preconceitos, a verdade é que a década de 1960 já contava com elementos importantes que favoreceram a eclosão dos protestos em Stonewall.

A mobilização dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, o movimento da contracultura dos anos 1960 e as manifestações contra a guerra do Vietnã são alguns exemplos desses ventos de mudança.

“No final da década de 1960, ocorreu um fortalecimento dos direitos dos negros através de emendas constitucionais nos Estados Unidos, conquistadas após as diversas manifestações organizadas por ativistas negros que lutavam contra o fim da segregação racial”, explica a doutora em História. “Esses movimentos influenciaram a eclosão da revolta de Stonewall, que foi um marco decisivo para o surgimento de movimentos engajados na luta pelos direitos LGBTQIA+ no Ocidente”, completa.

Como a indignação estava guardada há tanto tempo, ela também colaborou para a longa duração da rebelião, tomando uma gigante proporção. Menini lista ainda que a cobertura da mídia e a capacidade de mobilização das pessoas LGBTQIA+ foram pontos importantes para a continuidade dos protestos ao longo de seis dias.


4. Uma liderança repleta de representatividade 

Marsha ao lado de Sylvia Rivera / Crédito: Divulgação/A Morte e Vida de Marsha P. Johnson de David France

 

A Revolta de Stonewall foi formada primeiramente pelas 200 pessoas que estavam no bar e nas suas adjacências naquela madrugada histórica. Depois, pelos mais de 2 mil indivíduos que participaram das manifestações ao longo de seis dias. Entre elas, estavam figuras que viriam a se tornar lendárias, como Marsha Johnson e Sylvia Rivera.

Para a pesquisadora, as duas “constituem exemplos históricos do protagonismo de mulheres trans, negras e periféricas engajadas na defesa dos direitos das minorias”, com uma importância fundamental na representatividade dessas pessoas. 

“Sem dúvida, durante a segunda metade do século 20, Johnson e Rivera tornaram-se importantes ativistas comprometidas com a defesa dos direitos das pessoas LGBTQIA+. Ambas tornaram-se símbolos da luta contra a discriminação de pessoas trans, travestis e drag queens”, afirma Menini.


5. Os protestos tiveram efeitos imediatos e à longo prazo

A parada LGBT em São Paulo, Brasil, em 2014 / Crédito: Ben Tavener via Wikimedia Commons

 

“Como impacto a curto prazo dos protestos de Stonewall, é possível citar a formação da Frente de Libertação Gay dos Estados Unidos (GLF), criada em julho de 1969, e a formação da Aliança dos Ativistas Gays, criada em novembro do mesmo ano”, explicita a historiadora. Outro movimento importante foi o Street Travestite Action Revolutionaries (STAR).

A ação foi criada em 1970 por um grupo de ativistas drag queens da Frente de Libertação Gay dos Estados Unidos, liderado por Marsha Johnson e Sylvia Rivera, que “se concentrava em conceder acolhimento e moradia para jovens gays expulsos de casa, mulheres trans e moradores de rua”.

A rebelião também levou à organização da Marcha do Dia da Libertação Gay (Christopher Street Gay Liberation Day March) realizada em 28 de junho de 1970. “Com o passar dos anos, essa marcha de visibilidade evoluiu para o mês do Orgulho LGBTQIA+, atualmente reconhecido e celebrado em diversos países do mundo, inclusive, no Brasil”, conta Menini.

Mas mais que isso, os impactos da resistência à violência policial naquele 28 de junho de 1969 podem ser vistos até os dias de hoje, e o seu maior legado à longo prazo “consiste na luta contínua pela igualdade de direitos representada pelos movimentos LGBTQIA+ da contemporaneidade”.


Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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