Como Johannes Brahms foi livrado da reputação injusta de 'serial killer de gatos'?
Aventuras Na História
Durante mais de um século, acreditou-se que o compositor Johannes Brahms fosse um serial killer de gatos, que utilizava em suas composições os sons emitidos pelos felinos enquanto supostamente eram mortos pelo músico.
No entanto, esse mito foi desvendado por Calum MacDonald, autor de um estudo minucioso sobre a vida e obra de Brahms, divulgado na BBC Music Magazine em maio deste ano.
A calúnia
Por anos, o compositor foi visto — erroneamente — como um assassino em série de gatos. Na época, surgiram boatos de que o artista utilizava em suas obras o grito dos felinos enquanto eram mortos.
Retrato de Johannes Brahms / Crédito: Domínio Público, via Wikimedia Commons
Segundo o The Guardian, Calum MacDonald observou que referências sobre esta história aparecem apenas em livros sobre gatos, e não em obras sobre música, levantando fortes suspeitas sobre o caso.
As referências mais recentes encontradas pelo autor foram publicadas em 1996, quando Desmond Morris alegou que Brahms começou a matar felinos após o compositor tcheco Antonin Dvorak lhe presentear como um "arco para matar o pardal da Boêmia".
No entanto, segundo o The Guardian, Calum MacDonald escreveu na edição de maio deste ano da BBC Music Magazine, que tudo não passou de uma grande mentira inventada pelo seu inimigo Richard Wagner, também compositor.
A rivalidade
De acordo com o LA Times, os artistas dividiram os admiradores de música clássica da época. De um lado, Wagner dizia que suas canções eram o futuro, e do outro, Brahms permanecia um classicista. Dessa maneira, os fãs do músicos se dividiram entre progressistas e conservadores.
Na época, a música clássica ocidental estava no auge, portanto, conforme o público crescia, a rivalidade entre os artistas também aumentava, sendo conhecida como a "A Guerra dos Românticos".
No entanto, conforme o site Independent, Brahms não era um tradicionalista ferrenho. Em algumas conversas ele teria feito alguns elogios ao rival Wagner, que insistia em constantemente atacá-lo na impensa.
O fim da mentira
Conforme suas pesquisas, Calum MacDonald alegou que “gatos moribundos tendem a não fazer muito barulho”. Além disso, o autor observou que, em todas referências de Morris, ele citou Wagner, que supostamente teria presenciado os crimes contra os animais.
"De acordo com Wagner, que não gostava de Brahms, ele trabalhou esses sons em sua música de câmara", disse Morris em pesquisas encontradas por MacDonald e divulgadas na BBC Music Magazine.
A partir desta descoberta, o especialista revelou que tudo não passou de uma calúnia feita pelo rival para prejudicar o compositor. Segundo o The Guardian, o pesquisador revelou, ainda, que Wagner nunca frequentou o lar de Brahms, portanto, ele nunca teria presenciado os supostos ataques do artista contra os felinos.
Após consultar Styra Avins, editora de Johannes Brahms: Life and Letters, também descobriu que, em 1893, James Huneker, crítico de música do New York Times, disse que Wagner era um homem culpado. E ressaltou, ainda, que uma biografia pode ser contaminada por uma inverdade.
Somente após mais de um século o caso finalmente chegou ao fim. Conforme o The Guardian, MacDonald publicou na BBC Music Magazine que Brahms sempre foi inocente e tudo não passou de mentiras e fofocas do seu rival.
Para o especialista, é importante retirar esta fama injusta do artista clássico, uma vez que o compositor foi alvo de fake news. "O suposto sadismo de Brahms é uma fabricação maliciosa", concluiu ele.