Comprada por dom Pedro I e desvatada pelas chamas: a saga da múmia da Princesa Kherima
Aventuras Na História
Em 2018, o Brasil observou com horror enquanto um incêndio descontrolado consumia o valioso acervo de nosso Museu Nacional, causando uma perda cultural inestimável não só ao país, mas à humanidade como um todo.
Era a maior instituição de História Natural e Antropologia da América Latina, e trazia ainda registros únicos, que não existiam em nenhum outro lugar, segundo relatou o diretor do local, Alexander Kellner, em uma entrevista de 2018 à BBC.
Tinha material etnográfico que representava tribos distintas. A existência dessas tribos se resumia a um exemplar que estava na nossa coleção. Essas tribos correm o risco de serem riscadas da história como se elas nunca tivesse existido", explicou ele.
Entre os mais de 20 milhões de preciosos itens históricos perdidos para as chamas, estava a peculiar múmia egípcia Kherima.
O cadáver egípcio, que entrou no Brasil com um comerciante de antiguidades, foi comprada em leilão por ninguém menos que o Imperador Dom Pedro I.
Posteriormente doada para o Museu Nacional, teve um fim triste, sendo devastada pelo fogo.
Esse era um exemplar muito importante, por conta do tipo de enfaixamento, que preservava a humanidade do corpo; no caso, o contorno do corpo feminino", explicou Rennan Lemos, um doutor em arqueologia, também durante conversa com a BBC na época.
A maioria dos processos de mumificação da época embalava o corpo de uma vez só, enquanto a técnica usada na egípcia foi responsável por enfaixar seus membros de forma separada.
Além de exibir esse estilo detalhista de enfaixamento que podia ser observado em apenas outros oito exemplares no mundo inteiro, contudo, Kherima possuía também uma história curiosa.
O cadáver de 2 mil anos de idade, segundo diziam certos relatos nacionais, era capaz de provocar transes naqueles que a tocavam, ou simplesmente chegavam perto dos restos mortais.
Princesa hipnotizadora
A reputação da múmia começou nos anos 60, período em que era permitido erguer a tampa do vidro que a protegia, e tocar nela. Um exemplo famoso repercutido pelo G1 ocorreu quando uma moça que encostou nos pés do cadáver enfaixado disse que aquela era uma princesa de Tebas chamada Kherima.
A jovem então continuou, aparentemente tomada por um transe, e disse que a integrante da realeza egípcia morreu ainda virgem, tendo sido esfaqueada. A causa de morte, vale mencionar, nunca foi oficialmente desvendada por pesquisadores.
Durante essa mesma época, um professor da Sociedade de Amigos do Museu Nacional chamado Victor Staviarski passou a dar aulas de egiptologia nas proximidades da múmia. Esses exóticos cursos, todavia, incluíam também a presença de médiuns e hipnólogos, o que apenas serviu para aumentar o mistério em torno de Kherima.
Algumas pessoas diziam que conversavam com a múmia e ela respondia. Em uma dessas conversas, ela teria dito que seria uma princesa do Sol, mas isso não faz o menor sentido científico, porque esse não era um título do Egito Antigo", afirmou Lemos à BBC.
Quaisquer que fossem os segredos da princesa de Tebas, porém, perdemos a oportunidade de decifrá-los depois do incêndio de 2018.