'Diário do Conde d’Eu': livro apresenta a história pouco conhecida do marido da princesa Isabel
Aventuras Na História
O marido da princesa Isabel foi um dos personagens mais importantes e mais injustamente ignorados do Império brasileiro. Costuma ser tratado como uma nota de rodapé nos livros escolares e, em publicações adultas, aparece geralmente mais como um elemento do que pessoa, um fator na queda da monarquia, por sua enorme impopularidade.
Já é hora então de deixar que ele fale por si próprio. Os escritos em francês e traduzidos em 2017 para português são do período da Guerra do Paraguai. O Diário do Conde d’Eu foi escrito entre março de 1869 e abril de 1870, sendo traduzido pelo historiador Rodrigo Goyena Soares.
Negado em seu desejo de tomar parte na ação no começo, o príncipe consorte foi feito comandante-chefe do Exército em 1869 – tarde demais e a contragosto, quando era a favor do fim da guerra, pois achava inútil a perseguição a Solano López. É um fascinante documento primário não só sobre ele mas também sobre a guerra.
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Diários íntimos costumam ser objeto de desconfiança. Embora escritos na intimidade e guardados a sete chaves, esses testemunhos são mais do que relatos dirigidos àqueles que os expõem. E isso, sobretudo, quando seus autores ocuparam cargos políticos. Ser lido é uma possibilidade raramente desconsiderada por esses personagens. Ou teria Santo Agostinho feitos suas Confissões a ninguém outro que àquele que já as conhece? O leitor é sempre destinatário do autor, o que não quer dizer que o cotidiano, nos diários íntimos e à diferença das autobiografias, esteja escrito com intenção fundada preteritamente.
O diário de campanha não foi o último relato memorial do Conde d’Eu. As viagens posteriores do Príncipe Consorte, pelo Brasil, pela América do Sul ou pela Europa, foram narradas em diários íntimos. Seu dia a dia na Corte também. Era um homem afeito ao registro no calor da hora. Ou seja, as memórias do Conde d’Eu sobre a Guerra do Paraguai não são uma retrospectiva refletida a sua atuação militar. O leitor de hoje, graças as descrições do Conde, sente o cheiro dos acampamento e o frio das manhãs. Imagina a lentidão dos seis dias que durava, o barco, o trajeto do Rio de Janeiro à porção mais meridional do Brasil; ou, ainda, descobre a ansiedade em que ficava o Príncipe por ter de aguardar quase um mês para receber cartas pessoais da Corte. Que dirá, então dos quarenta e tantos dias para ter em mãos a correspondência vinda de seus parentes franceses.