Drogas e asa-delta: Os bastidores da icônica passagem do Nirvana pelo Brasil
Aventuras Na História
Em 1993, a maior banda alternativa de todos os tempos pousava no Brasil para realizar dois shows históricos — e conturbados; o Nirvana, símbolo do movimento grunge no final do século 20, participava do Hollywood Rock em janeiro daquele ano, festival esse que estampava a marca de cigarros como patrocinadora master em seu nome.
Outro patrocinador do evento era justamente o Maksoud Plaza, hotel que hospedou a banda junto de outros conjuntos gigantes que partipavam do festival, como o Alice in Chains e Red Hot Chilli Peppers.
Tal hospedagem é referente ao período em São Paulo, visto que as apresentações seriam realizadas na primeira semana no Estádio do Morumbi e, na semana seguinte, na Praça da Apoteose, no Rio de Janeiro.
Porém, se engana quem acredita que o líder Kurt Cobain teve facilidade para se sentir integrado nas calorosas terras tupiniquins; a primeira semana na capital paulista foi marcada por um show caótico com bastidores ainda mais enérgicos quanto a apresentação, como relatou o amigo brasileiro e apresentador, João Gordo.
Nirvana em São Paulo
Gordo já conhecia o baterista — e futuro vocalista do Foo Fighters — Dave Grohl anos antes, além de ser amigo do roadie Big John Duncan, que fez a ponte do brasileiro ao grupo. Em poucos espaços de conversa, o pedido por drogas aconteceu, com João deixando claro que no Brasil a heroína não era popular, oferecendo cocaína.
A alternativa foi aceita, iniciando um caos pessoal ao vocalista, como relatou o brasileiro ao Morning Show, da Jovem Pan: “A gente ficou jogando na cabeça dele que tudo era uma merda, que era festival de propaganda de cigarro. Ele deu meio que uma pirada!".
A estadia ainda teve um bônus; fã da banda brasileira Os Mutantes, Kurt manifestou interesse em se encontrar com o fundador Arnaldo Baptista, sem sucesso. No entanto, aproveitou para escrever uma breve cartinha em um bloco de notas cedido pelo Maksoud Plaza, deixando seu endereço e chamando a banda de “genial” e “brilhante”: “Arnaldo, te desejo o melhor e cuidado com o sistema”.
O resultado das drogas foi visto de noite, por 110 mil pessoas; um show bizarro com desafinações, guitarras descompassadas e covers enfadonhos, descrito pelo editor-chefe da Rolling Stone Brasil em 2009, Pablo Miyazawa, como uma apresentação de “empatia com a audiência zero”.
Porém, o rolê na cidade conseguiu ser ainda maior; em reportagem da UOL, Gordo relatou que o grupo embarcou em um Corcel 2 com destino ao bar Der Tempel, na Rua Augusta, onde consumiram mais drogas e dançaram com músicas dos anos 1960, momento onde o brasileiro descreveu ter visto Kurt feliz e sorridente.
Ainda acrescentou que, depois da ida ao estabelecimento, o grupo deveria retornar ao hotel — mas a esposa de Kurt, a atriz e vocalista do Hole Courtney Love, se encantou com uma transexual que viu na rua, correndo para abraçar a moça e ainda presenteá-la com 300 dólares de sua carteira. A zona foi suficiente para marcar a passagem paulista.
Nirvana no Rio de Janeiro
A passagem fluminense foi bem menos enérgica que a da primeira semana; hospedados do Hotel Intercontinental, atual Royal Tulip, localizado no bairro de São Conrado, o grupo saltou de asa delta, cujas fotos foram obtidas pelo segurança da banda no Brasil, Antônio Francisco, que repassou ao colecionador Jonathas Formagio.
No resto do tempo livre, a banda ainda foi até os estúdios da BMG Ariola, onde o grupo reservou o estúdio para fazer algumas passagens e o vocalista se encontrou com o jornalista Zeca Camargo.
O brasileiro foi responsável por registrar a única entrevista do astro para uma emissora de TV no Brasil, a extinta MTV, que você pode conferir clicando aqui. Nela, o cantor reiterou a admiração por Arnaldo Baptista e ainda assustou o repórter, fingindo que tinha uma arma de choque — que era um barbeador.
Porém, a maior surpresa do jornalista foi acompanhando a banda em uma passagem de som, antes do show; de pertinho, Zeca viu nascer uma das músicas do álbum ‘In Utero’, que seria lançado no final daquele ano, como revelou ao UOL.
“Durante a passagem de som, com as câmeras desligadas Kurt se virou para Krist Novoselic [baixista] e disse algo como: "Ei, Kris, escuta isso!". Era uma bela sequência de guitarra, seguida de um grito tão assustador como só o próprio Cobain era capaz. O que eu tinha visto, como pude comprovar alguns meses depois, quando "In Utero" foi lançado, era o nascimento da faixa "Milk It”, afirmou o apresentador.
Durante a noite, a banda realizou uma apresentação televisionada pela TV Globo, onde o grupo contou com a participação de Flea, baixista do Red Hot Chilli Peppers, para executar “Smell Like Teens Spirit” no trompete, além de ter Cobain cuspindo e mostrando o pênis para a câmera da emissora carioca, sendo as últimas apresentações no país antes da morte do líder da banda, no ano seguinte.