independência ou Morte: A história e curiosidades sobre uma das obras mais famosas do país
Aventuras Na História
Você provavelmente se lembra do professor do Ensino Médio fazendo chacota com a Independência do Brasil. Ou talvez tenha sido aqui mesmo na Aventuras na História. No mais fatídico dia deste país, o futuro imperador estava com diarreia, montado numa mula e com as botas sujas de lama. Tudo verdade.
Quando o pintor acadêmico Pedro Américo recebeu a encomenda da família real, ele abusou de licença poética. Exceto pelo imperador brandindo sua espada e gritando, tudo no colossal Independência ou Morte é invenção do artista.
Pedro Américo transformou uma cena trivial e provavelmente bem feia num épico de batalha — colocando um regimento inteiro vestido em uniformes de gala, prestes a combater, alguns até em posição de combate, com seus cavalos em movimento.
Era certamente a forma como a monarquia brasileira, invicta nas guerras que havia travado até então, preferia ser representada. Mas, como o quadro, era mais pompa e circunstância que realidade: no ano seguinte à conclusão da obra, o imperador seria deposto num golpe militar.
O Museu da Independência (Museu Paulista), para o qual havia sido encomendado, só seria aberto em 1895, já durante a República. Ainda que o quadro certamente não retrate a vida real, ele é verdadeiro de certa forma.
O que dom Pedro fez, seja lá como se sentisse dos intestinos, foi realmente um gesto heroico: ao ouvir que a monarquia portuguesa o havia tirado do cargo de regente do Brasil, ele imediatamente declarou guerra.
Não há outra interpretação para suas palavras — que, aliás, são um dos desafios mais corajosos da História militar mundial.
Veja algumas curiosidades sobre a obra.
A casinha
O pintor localizou a cena em frente a uma casinha rural — e tal casinha existia ao lado do terreno onde se estava construindo o Museu Paulista. A dita “Casa do Grito” existe ainda hoje. Mas, numa ironia histórica, foi reformada para parecer com a do quadro. Provavelmente não estava lá no dia do grito: o documento mais recente dela data de 1884, época da construção do museu.
Comitiva modesta
Havia no máximo 14 homens na Guarda de Honra do imperador, e certamente eles não estavam usando os uniformes de gala da pintura, nem, se estivessem, pareceriam tão bem após dias subindo a serra, em meio a lama e mato. O movimento e o pó subindo de seus cascos também são artificiais, como se os animais estivessem agitados, em plena batalha.
Rio invisível
É fácil deixar passar o próprio Rio Ipiranga esquecido na parte mais baixa do quadro. Isso porque não é algo que daria para romantizar: ele era um mero córrego, com uma “margem plácida” a centímetros da outra. Hoje é um pouco mais largo, mas por um péssimo motivo: o volume extra vem do esgoto jogado nele.