Kaepernick não está só, Nassib também chegou para quebrar paradigmas
Aventuras Na História
Em agosto de 2016, durante partida de pré-temporada da National Football League (NFL) o quarterback Colin Kaepernick se ajoelhou perante um dos maiores símbolos de patriotismo e do orgulho americano, o hino nacional.
O gesto de Colin não foi por acaso, foi um desabafo perante a indiferença que os negros vivem na nação tida como a mais desenvolvida do mundo — pelo menos não em termos de igualdade entre minorias. Nesse quesito o retrocesso é tão igual quanto qualquer outro lugar do planeta.
O grito de basta, refletido em forma de protesto, visava denunciar a violência que os negros do país vivem na mão de polícias brancos e pouco preparados. “Não vou me levantar e mostrar orgulho pela bandeira de um país que oprime o povo negro e as pessoas de cor”, disse o jogador após a partida.
Porém, a genuinidade de sua luta, como sempre, não foi ouvida. Muito além: foi silenciada. Apesar do seu enorme talento e incontestável aptidão, a carreira de Kaepernick foi sabotada. Criticado por "politizar o esporte", jamais voltou a pisar nos gramados novamente.
A NFL mostrava que sua face era semelhante como a de seu país, onde homens brancos com poder controlam tudo o que acontece. Eles até acham interesse que negros emprestem seu talento em troca de bons momentos de entretenimento, contudo que eles não confrontem seus interesses e ideais, é claro.
Porém, nessa semana, quase 5 anos depois — com a pauta antirracista mais forte do que nunca —, o esporte americano presencia outra luta que há tempos é deixada de lado: a de atletas homossexuais.
Tudo porque Carl Nassib, defensive end do Los Angeles Raiders, revelou ser homossexual, assim, se tornará o primeiro atleta a jogar na NFL depois que se descobriu.
"Quero aproveitar um breve momento para dizer que eu sou gay. Eu venho querendo fazer isso há algum tempo e finalmente me sinto confortável para tirar isso do meu peito", desabafou o atleta de 28 anos, que revelou conviver com a vontade de se assumir por 15 anos.
"Eu sei que estou sobre o ombro de gigantes”, disse ao relembrar de outros atletas que fizeram o mesmo, porém, só depois que encerraram suas carreiras — ou que tiveram elas encerradas por causa disso.
Em 1975, por exemplo, o ex-running back David Kopa se tornou um dos primeiros atletas da NFL a se assumir gay — algo que só aconteceu três anos após sua aposentadoria, já que temia que o preconceito no esporte pudesse minar suas oportunidades.
Outro caso emblemático é do ex-offensive tackle Ryan O'Callaghan, que revelou sua orientação sexual em 2017, também depois da sua aposentadoria. Na ocasião, disse que chegou a planejar se matar depois de anunciar que pararia de jogar, em virtude da pressão social que viveu durante toda sua jornada como atleta.
"Na faculdade, o futebol americano era um grande disfarce por ser gay. E então eu vi a NFL primeiramente como uma forma de manter escondida minha sexualidade e seguir vivo", disse.
Pouco antes, em 2014, Michael Sam até tentou fazer o mesmo e, inclusive, chegou a ser draftado pelo Los Angeles Rams, tendo o gesto elogiado por Barack Obama, presidente dos Estados Unidos até então.
"Seja atuando numa mesa de negócios ou no campo de futebol [americano], o povo LGBT americano mostrou que eles deveriam ser julgados pelo que fazem e não por quem são", disse o primeiro negro a ser Presidente do país.
Apesar da súplica do homem mais poderoso do país, a carreira de Sam não decolou. Preterido por outros jogadores que, aliás, tinham um potencial não tão promissor quanto o seu, jamais disputou uma partida oficial, abandonando o time meses depois.
Com isso, o gesto de Carl Nassib, assim como de Colin Kaepernick, só escancara algo velado que poucos tiveram suporte para lutar contra.
Como se costuma dizer no esporte, atletas que ficam marcados por suas conquistas surgem aos montes todos os anos, mas poucos deles se tornam ídolos que inspiram gerações.
Nassib e Kaepernick estão nessa prateleira, e isso é muito mais importante do que qualquer título no âmbito esportivo.