Maria Augusta Generoso Estrela: a primeira médica do Brasil teve apoio de D. Pedro II
Aventuras Na História
Com a crise sanitária que assola o mundo, cada vez mais percebemos a importância imensurável dos trabalhadores da área da saúde no Brasil. Enquanto vivemos no país onde 554 mil pessoas já morreram em decorrência do coronavírus, vemos todos os dias quem são nossos verdadeiros heróis.
Médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e tantos outros que lutam na linha de frente na pandemia que devasta o mundo desde 2020 merecem ser lembrados e reconhecidos sempre. Segundo dados do Conselho Federal de Medicina, 42,5% dos médicos no país são mulheres.
Mas isso começou lá atrás, com Maria Augusta Generoso Estrela, a primeira médica brasileira. A carioca abriu caminho para muitas mulheres seguirem uma carreira da medicina e resultou no mundo que vemos hoje.
A primeira médica do Brasil
Em 1860, no Rio de Janeiro, nascia Maria Augusta. Filha de portugueses, a brasileira se interessou ainda bem jovem pela medicina. Um ato heroico marcou o início de sua adolescência e mudou os rumos de sua vida.
Quando tinha cerca de 13 anos e voltava de uma temporada de estudos em Portugal, nação de seus familiares, o navio em que ela viajava se envolveu em um acidente com outra embarcação.
Sem hesitar, Augusta ajudou a salvar alguns membros da tripulação e passageiros que tinha sofrido ferimentos. O feito foi repercutido ao redor do mundo, e chegou aos ouvidos das autoridades brasileiras, na época, o Brasil Império.
Além de ser homenageada por oficiais ingleses, Portugal também reconheceu seus esforços. Mal ela sabia, mas aquela ocasião extraordinária seria um marco até o final e sua vida.
No ano de 1874, aos 14 anos, voltou para o internato onde estudava, em um colégio brasileiro. Em um dia comum, ao realizar suas leituras de rotina, viu em uma revista americana uma garota que havia concluído o curso de medicina em Nova York, Estados Unidos.
Dois anos mais tarde, decidiu ir estudar no New York Medical College and Hospital for Women, nos Estados Unidos. No Brasil, as mulheres não eram permitidas a ingressarem nas faculdades de medicina; assim, seu pai Albino Augusto Generoso Estrela permitiu que ela fosse para o exterior.
A ajuda de Dom Pedro II
Mesmo que sua idade não fosse a ideal para entrar na universidade — ela tinha 16 e o curso era para maiores de 18 anos —, sua força de vontade foi maior. Após escrever uma dissertação sobre o que a motivava cursar medicina, os membros da congregação aprovaram sua entrada.
Começou então a estudar em 1876, mas em pouco tempo seu pai perdeu o dinheiro devido à falência. Seria o fim da carreira de Maria Augusta, mas uma pessoa inesperada decidiu investir no futuro da brasileira: D. Pedro II.
O segundo e último imperador do Brasil ordenou através de um decreto que Augusta recebesse uma bolsa de estudos. Com a ajuda do monarca, ela se formou em medicina em 1879.
Novamente, mais um obstáculo aparecia em seu caminho. Por ser bastante jovem, a faculdade não podia lhe conceder um diploma. Então, Maria decidiu estagiar em hospitais de Nova York, em simultâneo, se especializava ainda mais na área.
“Maria Augusta submeteu-se aos exames na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro para validar seu diploma, conforme determinava a Reforma de 1832. Não haveria obstáculos, pois estudara e estagiara o suficiente para não temer uma banca examinadora. Dominava quatro idiomas: inglês, francês, espanhol e alemão, e estava preparada para a arguição. Encontrou nessa ocasião, várias alunas matriculadas no curso de medicina, pois as portas do ensino haviam sido aberta em 1879 às jovens brasileiras. Sentiu-se gratificada pelo sacrifício e luta de anos, distante do Brasil”, disse a biógrafa Yvonne Capuano, conforme repercutiu a Federação Médica Brasileira (FMB).
Graças a dom Pedro II, a partir do ano 1879, o Brasil inaugurou a primeira instituição de ensino superior para mulheres. Se foi ou não inspirado pela história de Augusta, jamais saberemos.
Maria Augusta permaneceu exercendo a profissão por muitos anos, mesmo após casar e ter cinco filhos. Ela atendia principalmente crianças e mulheres, além de ajudar gratuitamente pessoas vulneráveis.
Fundou com uma colega o jornal feminista "A mulher" e defendeu o direito feminino para estudar medicina. Augusta morreu em 1946, aos 86 anos. Seu legado, entretanto, continua vivo e inspirando outras jovens mulheres até hoje.