Na terceira fase de testes, vacina contra HIV é aplicada em humanos
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Há cerca de 40 anos, o mundo foi impactado pelo início da pandemia da Aids. De um dia para o outro, milhares de pessoas foram infectadas pelo vírus do HIV, sendo que, hoje, 38 milhões de pessoas vivem com a doença no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Agora, uma nova vacina pode mudar o rumo desse cenário.
De acordo com o Estadão, cientistas de diversos países desenvolveram um imunizante que pode prevenir a infecção pelo vírus do HIV. O recente estudo já está em sua terceira fase de testes, cujos voluntários somam 6 mil pessoas espalhadas pela África, Europa, América do Norte e América Latina.
Dividida em duas frentes, a pesquisa testa 2.637 mulheres heterossexuais na África Subsaariana, enquanto outros 3.600 voluntários, entre homens homossexuais e pessoas trans, são testados na fase chamada de ‘Mosaico’. No Brasil, os testes estão sendo realizados em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Paraná.
A terceira fase do estudo busca verificar a eficácia da vacina em larga escala, sendo que as duas primeiras fases identificaram a segurança do medicamento e qual é a dose apropriada para imunização. Antes de ser testada em humanos, a mesma vacina foi testada em macacos, com resultados que indicaram uma proteção de 67% contra o vírus.
Com as novas informações, os cientistas encontram-se bastante otimistas. “Nas fases 1 e 2, a vacina se mostrou muito segura. Resta saber se essa resposta é capaz de reduzir a incidência da infecção”, explicou o infectologista Ricardo Vasconcelos, coordenador da fase 3 no Hospital das Clínicas, em São Paulo.
De acordo com o cientista, os efeitos colaterais do imunizante “são parecidos aos da AstraZeneca contra a covid: dor local, febre por um dia, dor de cabeça”. A tecnologia utilizada para desenvolver o medicamento, inclusive, é bastante parecida com a da vacina contra o Coronavírus, utilizando o adenovírus inativado.
Em sua terceira fase de testes, a nova vacina contra o HIV está sendo aplicada em voluntários soronegativos, que podem ser expostos à infecção. Uma vez medicadas com as quatro doses necessárias, as pessoas serão acompanhadas pelos cientistas por 30 meses, sendo que metade dos voluntários receberão apenas um placebo.
O medicamento
Segundo os estudiosos, a dificuldade de encontrar um imunizante contra a Aids reside na grande capacidade de mutação do vírus do HIV. “São muitos tipos diferentes de vírus circulando pelo mundo, a ideia é conseguir cobrir o maior número possível de variantes”, explicou Ricardo Vasconcelos.
Nesse sentido, de acordo com o especialista, a nova pesquisa “se chama Mosaico porque reúne milhares de fragmentos de HIV”. A ideia é cobrir o maior número possível de variações com o medicamento, a fim de ampliar sua eficácia contra as muitas cepas.
Para o infectologista Bernardo Porto Maia, coordenador da pesquisa Mosaico no Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo, não há “nada melhor que a imunização em massa para combater uma pandemia”. Segundo o cientista, após 40 ans de pesquisas, “os avanços mais recentes, como a profilaxia pós-exposição, estão mudando o rumo da epidemia”. Ainda assim, ele acredita ser “inaceitável termos quase 700 mil mortes ao ano por uma doença que sabemos como prevenir e como tratar”.