Passional ou política? Como a morte de João Pessoa mudou os rumos do país
Aventuras Na História
Em 26 de julho de 1930, João Pessoa era assassinado por João Dantas dentro da confeitaria Glória, no Centro do Recife. A morte, que completou 91 anos na última semana, marcou a história política do Brasil e foi uma das causas da ascensão de Getúlio Vargas ao poder.
A época estava marcada pela derrota de Getúlio à presidência do país, que contava com Pessoa como seu vice. Quem ganhou a eleição foi Júlio Prestes, mas a comoção popular, que exacerbou a morte do paraibano como fato político, fez com que o período culminasse na Revolução de 1930.
O assassinato de João Pessoa não foi o único episódio usado como motivo para a revolta; a acusação de fraude nas eleições e a crise econômica também entraram para a somatória dos fatos que fizeram com que Washington Luís fosse destituído, Júlio Prestes não assumisse o cargo de presidente da república e Getúlio Vargas se tornasse o mais novo chefe da nação.
Contexto político
Embora tenha entrado para a história como um crime passional, a morte de João Pessoa foi bem mais que isso. Juntando fatores políticos, morais e, sim, passionais, o assassinato se tornou um dos episódios mais importantes da história brasileira, mudando os rumos do país que deixou a República Velha para trás.
Na época, as mudanças propostas pelo político no estado da Paraíba estavam incomodando as oligarquias paraibanas, que estavam acostumadas a mandar em inúmeras regiões. Há dois anos no cargo de governador, Pessoa estava colocando em prática uma política considerada moderna, como apontou o G1.
Assim, o controle dos coronéis estava ficando cada vez mais fraco. Mas não era só isso: ele também decidiu mudar as chefias de alguns cargos públicos, o que poderia ser feito por sua posição de governador na época e mexeu com o poder de muitas famílias importantes do estado, inclusive a Dantas, da cidade de Teixeira.
O nome não é desconhecido: João Dantas, advogado, ficaria conhecido por assassinar o então governador pouco tempo depois.
Além das brigas estritamente políticas, as repercussões das intrigas entre João e as oligarquias eram passadas para os jornais locais. O duelo entre Dantas e Pessoa ficaria explícito a partir da atuação de ambos, respectivamente, no Jornal do Commércio de Recife e no jornal A União, do governo da Paraíba.
Exposição de documentos
O fato de Pessoa ser articulista do jornal é muito importante para entender as intrigas com a família Dantas. Em um momento, aconteceu uma invasão ao escritório de João Dantas na capital do estado, e os documentos obtidos por meio desse arrombamento foram publicados pelo periódico A União.
A manchete do jornal foi a seguinte: “Revelando a alma tortuosa dos conspiradores contra a ordem e a dignidade de nossa terra — A polícia apreendeu armas e sensacionais documentos na residência do sr. João Dantas”. Comprometedores, os papéis acabaram por manchar a imagem da família.
No entanto, fora o uso político dos documentos encontrados, a publicação ainda divulgou algo muito pessoal do advogado. Como relembrou a Folha de S. Paulo, foi publicada uma correspondência íntima de Dantas e a professora Anayde Beiriz, sua namorada. O caso se tornou um escândalo, já que expor a vida íntima era extremamente mau visto.
Com a carta divulgada dois dias antes do crime, o assassinato foi visto sob a ótica passional. No entanto, como podemos observar anos depois, a partir das consequências do episódio, é possível dizer que os motivos também foram políticos — e continuaram sendo, com a morte do político sendo usada como pauta para os contrários ao então governo.
Pessoa foi assassinado e se tornou um símbolo tanto para o estado no qual governou quanto para o país. Seria difícil para Getúlio Vargas assumir as rédeas do Brasil se isso não tivesse acontecido, gerando uma comoção que foi capaz de mudar os rumos políticos da nação.