Saúde mental em pauta: suicídios de alunos geram discussões na USP
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Nos últimos dois meses, alunos da Universidade de São Paulo (USP) se chocaram com os suicídios de três estudantes da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da instituição. Os casos, então, reacenderam antigas discussões na entidade.
Frente ao quadro, a USP espera colocar em prática três diferentes frentes de atuação. Os planos são ampliar o Escritório de Saúde Mental (ESM), criar uma espécie de CVV (Centro de Valorização da Vida) e realizar uma pesquisa sobre a saúde mental de seus alunos.
“É impossível saber o que levou esses jovens a medidas tão extremas para acabar com o sofrimento que sentiam”, lamentou Paulo Martins, o diretor da FFLCH. “A pandemia pode ter sido uma situação catalisadora para problemas anteriores e estamos preocupados com a repercussão que esses casos podem ter.”
Criado em 2018, o Escritório de Saúde Mental já atendeu 450 alunos da USP entre janeiro e maio deste ano. O valor é quase o dobro do índice registrado em todo o ano de 2020, período no qual apenas 276 estudantes buscaram pelo programa.
“Sabemos que não há uma ação imediata, mas estamos empenhados em buscar formas de dar o apoio que os alunos precisam”, pontuou Paulo Martins. “Eles não estão sozinhos, somos uma comunidade. Precisamos ser mais assertivos nesse cuidado.”
Quadro preocupante
Segundo a Folha, um dos três casos de suicídio aconteceu com um aluno que recebia o atendimento do ESM desde 2019. De acordo com Andrés Antúnez, o coordenador do programa, contudo, esse foi o único caso entre os 800 atendidos nos últimos três anos.
Ainda assim, para o especialista, “uma situação de morte como essa sempre nos leva a refletir sobre a nossa responsabilidade, mas não podemos caçar culpados”. Dessa forma, ele lembra que “atentar contra a própria vida é um ato muito complexo, multifatorial”.
Andrés também pontua que, com a pandemia, os alunos da USP tiveram de lidar com outros problemas emocionais, que podem ter agravado questões anteriores. Por isso, inclusive, seria importante criar outras medidas de apoio aos estudantes.
Ainda de acordo com a Folha, as principais angústias dos jovens eram sobre a pressão das notas, a carga horária e a relação com colegas e professores. Com o passar dos meses, todavia, o sofrimento passou a se dar por medo da pandemia, pela perda de parentes e amigos, por dificuldades financeiras e pela desesperança.
Questões raciais
Além do jovem já citado, o suicídio de um estudante negro gerou outra gama de discussões, que levaram um grupo de professores da própria USP a questionar as políticas antirracistas e de diversidade étinico-racial já existentes na universade.
Em manifesto publicado na última quarta-feira, 02, os mestres pediram que a USP adote novas medidas de combate ao racismo estrutural. Entre outras demandas, o documento exigiu a criação de um escritório para propor e gerar pautas relativas à diversidade, inclusão e antirracismo, além de um serviço de assistência social.
Ainda mais, os alunos também demandam a melhoria das políticas de permanência, alimentação e moradia da universidade. Isso porque, segundo a Folha, os moradores do Conjunto Residencial da USP (Crusp) estão lidando com grandes problemas estruturais nas instalações do local — apesar das denúncias que são feitas há anos.
Em resposta, o superintendente de Assistência Social da USP, Gerson Tomanari, disse ter iniciado um processo de licitação para uma reforma do Crusp. Ainda sem prazo de início ou de conclusão, essas serão as primeiras obras feitas nas estruturas desde que elas foram erguidas pela primeira vez, de acordo com Tomanari.