Cientistas cultivam variante delta para infectar pessoas saudáveis; entenda
Tecmundo
Você acredita que alguém toparia ser infectado com a variante delta do coronavírus para ajudar nas pesquisas sobre a covid-19? No Reino Unido, cientistas acreditam que sim e estão cultivando um lote da cepa altamente contagiosa em ambiente controlado.
O experimento faz parte da nova fase de testes de desafio humano do Reino Unido — estudos da covid-19 que expõem intencionalmente os participantes ao vírus com o objetivo de desenvolver novas vacinas e tratamentos. O controverso estudo britânico é, atualmente, o único do tipo em andamento no mundo.
Desde o início da pandemia, grupos de cientistas defendem estudos de desafio humano, infectando pessoas saudáveis com o vírus para acelerar a busca por tratamentos e vacinas.
Os testes enfrentam resistência de alguns acadêmicos do Reino Unido e pesquisadores estrangeiros, bem como funcionários do governo, que os consideram inseguros ou antiéticos. Ensaios de desafio têm sido usados há décadas para estudar vírus e outros patógenos.
Dois testes de desafio da covid-19 patrocinados pelo Imperial College de Londres e pela Universidade de Oxford começaram no início deste ano. Até o momento, eles expuseram mais de 40 voluntários jovens saudáveis, sob supervisão médica, à cepa original de Wuhan, que circulou amplamente em 2020.
Imperial College de Londres, no Reino Unido (créditos: irisphoto1/Shutterstock)
De lá para cá, a variante delta passou a dominar as infecções globalmente, tornando as vacinas menos eficazes e aumentando os casos. A rápida ascensão da delta levou os pesquisadores e sua parceira de teste-desafio, a hVivo Services Ltd., a tentar cultivar a variante em laboratório.
Atualmente, empresa de pesquisa clínica de Londres está aumentando o lote de uma amostra retirada de um humano infectado.
Segundo a hVivo, já há volume quase suficiente do vírus cultivado em laboratório para os testes iniciais, embora o processo tenha sido mais complicado do que com outras cepas.
“A Delta tem sido mais difícil. Nem todas as amostras clínicas crescem tão prontamente em culturas de células”, disse Andrew Catchpole, diretor científico da hVivo e virologista supervisor do projeto, em entrevista ao jornal americano The Wall Street Journal.
“Não é tão diferente de fazer vacinas. Tem que ser altamente controlado e regulado”, afirmou, na mesma reportagem, Garth Rapeport, especialista em infecções respiratórias virais, consultor de investimentos em saúde e ex-conselheiro da Força-Tarefa de Vacinas do Reino Unido, que ajudou a configurar os testes de desafio humano do País.
Segundo os pesquisadores e outros criadores do estudo, ter uma versão delta do vírus aprovada para uso humano para testar vacinas e tratamentos pode ser uma positivo, já que a delta, como afirmou o Dr. Rapeport, reduziu a relevância das linhagens mais antigas do vírus.
Os pesquisadores e conselheiros governamentais do Reino Unido demoraram quase um ano para planejar e obter a aprovação de um comitê de ética e reguladores de medicamentos do Reino Unido para iniciar os controversos testes de desafio nos quais a cepa delta poderá ser usada. O financiamento é do governo britânico.
O Imperial College e a hVivo assinaram um contrato de 3 milhões de libras, equivalente a cerca de US $ 4,1 milhões de dólares, financiado pelo Wellcome Trust, para fabricar variantes emergentes do coronavírus. Um porta-voz do Imperial College disse que a produção da variante até agora não atingiu os padrões para uso clínico, mas que o trabalho está em andamento.