Sistema de circulação das águas do Atlântico pode entrar em colapso
Tecmundo
Em resposta a uma série de alertas de cientistas do mundo inteiro, o físico Niklas Boers, do Instituto Potsdam de Pesquisas sobre o Impacto Climático, na Alemanha, fez um estudo sobre a circulação meridional de virada do Atlântico (AMOC, na sigla em inglês).
Principal sistema de circulação das águas do oceano Atlântico, a AMOC transporta água quente e salgada dos trópicos para o norte da Europa e, em seguida, traz a água mais fria de volta ao sul, ao longo do fundo do oceano. Para o pesquisador, o importante sistema pode estar à beira de um colapso que poderia ter sérias consequências no clima mundial, notadamente na Europa.
Recife de corais no oceano Atlântico (créditos: Polhansen/Shutterstock)
Publicada na semana passada (5) na revista Nature, a pesquisa não revela uma observação direta da desaceleração da AMOC. No entanto, com base em registros de mais de um século de temperatura do oceano e dados de salinidade, foi possível detectar mudanças significativas em oito medidas indiretas da força da circulação das águas oceânicas.
A circulação termoalina das águas
Embora diferentes equipes de pesquisa já tenham divulgado informações sobre o enfraquecimento da AMOC, nunca ficou bem claro se esse enfraquecimento se referia a uma mudança na circulação ou na perda de estabilidade. Em um comunicado à imprensa, Boers diz que determinar essa diferença é fundamental, pois, em se tratando de instabilidade, “uma transição abrupta e até irreversível para o seu modo mais fraco poderia ocorrer.”
Baseada em simulações e dados paleoclimáticos, a pesquisa afirma que a AMOC atua em dois modos: um forte (atual) ou um mais fraco. Embora Boers reconheça que esta “estabilidade dupla implica que transições abruptas entre os dois modos de circulação são, em princípio, possíveis”, se a mudança ocorre do modo forte para o modo fraco, a circulação termoalina está perto de um colapso.
A circulação termoalina é um elemento fundamental no sistema climático do planeta. Quando a água quente e salgada sobe da costa nordeste dos Estados Unidos para a Europa (a chamada Corrente do Golfo), ela ganha latitude até atingir a Groenlândia onde, devido à sua densidade, afunda profundamente, empurrando outras águas submersas em direção ao sul.
Quando a AMOC irá desligar?
Se a circulação da AMOC for interrompida de uma hora para outra, poderá ocorrer uma onda de frio extremo na Europa e alguns lugares da América do Norte. Além disso, uma elevação do nível do mar ao longo da costa leste norte-americana também é possível, com interrupção das monções sazonais que fornecem água para grandes áreas do mundo.
A pesquisa de Boers é de grande utilidade ao esclarecer o quão próximo de um ponto de inflexão, o AMOC pode estar. No entanto, a análise não indica, de forma clara, quando essa mudança pode acontecer. Mas a gravidade das consequências deveria servir para que contramedidas urgentes fossem adotadas imediatamente.
De acordo com o estudo, as mudanças climáticas são as grandes responsáveis pela diferença detectada no equilíbrio natural e autossustentável da AMOC. O aquecimento global tem tornado as águas do oceano mais quentes e leves. Um grande influxo de água doce resultante do derretimento das geleiras está diluindo a salinidade do Atlântico Norte, reduzindo a densidade das águas que, se não afundarem, interrompem toda a AMOC.
Boers explica que um eventual fechamento total da AMOC traria uma mudança irreversível em vidas humanas. Para o pesquisador, o fenômeno tem uma natureza "bioestável", o que significa que ele encontrará equilíbrio em seu novo status "desligado". Ou seja, religá-lo demandaria uma mudança muito maior no clima. “Este é um sistema com o qual não queremos mexer", conclui.