10 anos da Boate Kiss: a funcionária que morreu tentando ajudar as vítimas
Aventuras Na História
O trágico incêndio da Boate Kiss, uma casa noturna do Rio Grande do Sul destinada ao público jovem, completa uma década no próximo 27 de janeiro.
O episódio, que tomou as vidas de 242 pessoas, será relembrado em uma minissérie ficcional da Netflix prevista para ser lançada dois dias antes da triste data. Com cinco episódios no total, a produção se chama "Todo Dia a Mesma Noite", inspirada no livro-reportagem de mesmo nome da jornalista Daniela Arbex.
A obra inspirada nos eventos reais traz um retrato ficcionalizado do pesadelo vivido tanto pelas vítimas quanto pelos sobreviventes da Boate Kiss.
Tragédia
Na noite do incêndio da boate sulista brasileira, a grande atração da noite era a banda Gurizada Fandangueira que, além de tocar, realizaria um show de pirotecnia. O espetáculo se transformou em desastre quando as faíscas produzidas por um dos artefatos acabou ateando fogo ao revestimento do teto do local.
Um dos detalhes importantes que haviam sido negligenciados no planejamento da festa era que a Boate Kiss usava um revestimento de espuma para garantir seu isolamento acústico. Entretanto, o material acontecia de ser altamente inflamável, e logo o fogo se espalhou.
À medida que a espuma era consumida, liberava uma fumaça escura repleta de cianeto, uma substância altamente tóxica. Foi ela a grande responsável por matar aqueles que não conseguiram chegar à saída da casa noturna a tempo, conforme informado pelo G1 na época.
O acidente acabou ganhando proporções letais devido ao descuido com protocolos de segurança por parte do estabelecimento — não havia saídas de emergência no prédio e, para piorar a situação, sua lotação se encontrava acima do limite recomendado.
As 240 vítimas, formadas principalmente por estudantes da Universidade Federal de Santa Maria, foram asfixiados entre 3 e 5 minutos após o início do fogo.
Nem todos os falecidos, todavia, eram jovens universitários. Um exemplo é Luciana Vasconcellos, de 36 anos, que trabalhava como recepcionista na Boate Kiss e acabou vindo a óbito enquanto tentava salvar os outros.
Heroína
Fotografia de Luciana / Crédito: Divulgação/ Arquivo Pessoal
Luciana já trabalhava há dois anos na balada, de forma que, diferente da maioria dos presentes naquela noite, sabia como se localizar dentro do local. Assim, quando o ambiente se encheu de fumaça, impedindo a visibilidade, sabia qual era a direção da saída.
Graças a esse conhecimento, a mulher tinha a chance de sair do episódio com vida. Ela decidiu, no entanto, adentrar a boate novamente para ajudar os jovens em pânico.
Um dos grandes contribuintes para o alto número de mortes foi o fato que muitos se dirigiram ao banheiro pensando se tratar da saída, uma vez que era o único ponto demarcado por um sinal luminoso. A maioria das vítimas (cerca de noventa delas) seria encontrada ali.
Os esforços de Vasconcellos, todavia, teriam impedido alguns de cometer esse engano fatal. Infelizmente, ela não foi capaz de sobreviver ao incêndio, falecendo devido à inalação de fumaça intoxicada com cianeto.
Em tributo à sua ação altruísta, a recepcionista da Boate Kiss foi a primeira homenageada por um projeto do coletivo "Kiss - Que não se repita", que fez uma simulação dos rostos das vítimas caso ainda estivessem vivas.
Estamos muito ansiosos para ver. Para nós, ela sempre vai ser como era até o dia da tragédia. Mas ver essa homenagem traz até um conforto, possibilitando que a gente consiga imaginar como ela estaria", relatou Vanessa, a irmã de Luciana, segundo repercutido pelo portal GZH.