A trajetória de Zé Arigó, médium que atendeu mais de 4 milhões de pessoas
Aventuras Na História
A força da mediunidade não apenas chama atenção pelo fator paranormal de visualizações ou ações que outras pessoas não conseguem realizar, mas angaria seguidores que enxergam, em figuras mediúnicas, uma possibilidade de amparo e resolução de problemas. Dessa maneira, José Pedro de Freitas tornou-se Zé Arigó, mobilizando centenas de pessoas, diariamente, ao longo de 21 anos, para propor a cura através de poderes inexplicáveis.
Natural do município de Congonhas, em Minas Gerais, ele começou a ter sinais de sua mediunidade ainda na infância, pouco antes de completar 9 anos de idade, mas foi alvo de preconceito da própria família, que o levou a um padre católico, posteriormente sendo encaminhado a um psiquiatra.
Na ocasião, relatada por Sidney Wenceslau de Freitas, quarto filho do médium, ao jornal Estado de Minas, a perfeita saúde física e mental do garoto foi constatada, restando apenas que o pequeno fosse submetido a um ritual de exorcismo. Seguiu a vida até a idade adulta, quando as manifestações paranormais prosseguiram em sua vida a ponto de não poderem mais ser evitadas.
Poderes de cura?
Já mais velho, iniciou seus famosos atendimentos, originalmente itinerantes por diversas regiões do Brasil, mas depois se estabelecendo no município onde nasceu, atraindo multidões — que formavam filas para serem contempladas com seus supostos poderes.
Foi o primeiro brasileiro conhecido a incorporar o médico alemão Adolf Fritz, realizando cirurgias sem nenhum custo naqueles que se aglomeravam em sua porta, chegando a atender 200 pacientes por dia, marca que, ao longo dos anos, o fez alcançar mais de 4 milhões de atendimentos, conforme calcula seus biógrafos.
Contudo, em entrevistas afirmava que seus poderes de cura não partiam de Zé Arigó, mas unicamente do Dr. Fritz, cujo espírito o auxiliava na execução. Obtendo fama nacional, começou a ser alvo de outras religiões e até mesmo associações.
Em duas ocasiões mais famosas, foi alvo de processos; o primeiro, em 1957, partiu de um padre local, o acusando de curandeirismo. Quem o safou foi o então presidente do país, Juscelino Kubitschek, que lhe concedeu um indulto.
Na época, chegou a atuar na cura de enfermidades de políticos, funcionários e parentes de parlamentares, ganhando destaque. Em 1961, no entanto, não conseguiu escapar após processo movido pela Associação Médica de Minas Gerais, e ficou preso durante sete meses por exercício ilegal da profissão.
Provando sua força
Em meio a essas polêmicas, Arigó se colocou a disposição da imprensa para divulgar o fato de que suas técnicas estavam longes de serem charlatanismo. O jornalista Jorge Audi foi um dos que toparam o desafio, acompanhando de perto um dia do médium, como relatou ao programa 'Linha Direta'.
Quis fazer uma série de desmistificação de falsos milagreiros, e aí eu fiquei assobrado. Porque, ele fez muita coisa, e o pior, não escondia nada. Eu vi ele operar um cara no chão, com um travesseiro embaixo, metendo aquele raio daquela faca e abrindo o cara na nossa frente, com câmera e tudo, e retirar um cálculo renal. Suturou bonitinho e o cara não deu um pio", enalteceu.
Arigó, por sua vez, afirmou ao Estado de Minas que, com tais imagens que realmente descobriu seus poderes, visto que apontava estar em estado de inconsciência quando era incorporado pelo Dr. Fritz. Contrários negavam a veracidade e relataram apenas uma série de manobras para convencer aqueles que mais necessitavam.
Mesmo assim, ele seguiu fazendo as consultas até seus dias finais, falecendo aos 49 anos em 1971, vítima de um acidente automotivo enquanto cruzava a rodovia BR-040, no trecho entre Congonhas e Conselheiro Lafaiete. Sua história foi transformada no filme 'Predestinado', onde ele é interpretado pelo ator Danton Mello.