A tribo que venerava o marido da rainha Elizabeth II
Aventuras Na História
Existem cultos a inúmeras divindades diferentes ao redor do mundo. Algumas religiões acreditam que existe um único Deus, enquanto outras depositam sua fé em todo um panteão de entidades divinas. E, em meio à miscelânea de crenças religiosas através do planeta, existe ainda uma tribo remota que cultuava ninguém menos que o príncipe Philip, falecido marido da também falecida rainha Elizabeth II.
Os praticantes da curiosa religião são moradores da ilha de Tanna, que fica localizada em meio ao Oceano Pacífico, fazendo parte do arquipélago de Vanuatu. O país insular, vale mencionar, é parte da Comunidade Britânica — isso é, o grupo de nações que costumava fazer parte do Império Britânico.
Assim, é importante apontar que o local tem um histórico de colonização, tendo sido invadido por europeus (tanto britânicos quanto franceses) ainda no século 19, e apenas reconquistando sua independência em 1980, aproximadamente 100 anos mais tarde.
Enquanto outras ex-colônias prosseguem exigindo hoje por reparações históricas da Inglaterra pela violência praticada pela Coroa durante seu período imperialista, todavia, os nativos da Tanna, em particular, possuem uma relação diferente com a Família Real Britânica, já tendo realizado diversas cerimônias ritualísticas ao longo das últimas décadas em que o príncipe Philip desempenhava um papel central.
Origens
Estima-se que o culto do ex-duque de Edimburgo — após sua morte em abril de 2021, aos 99 anos, o título passou para seu filho mais novo — remonte pelo menos aos anos 70, embora sua origem exata não possa ser datada, e possivelmente é ainda mais antiga.
Um evento particularmente relevante teria sido a visita dos governantes da Inglaterra à ilha em 1974, quando Philip tinha 53 anos. Na ocasião, o membro da realeza se juntou aos locais para um ritual onde eles consomem kava, bebida tradicional de propriedades medicinais que é feita a partir das raízes de uma planta típica de Tanna.
Segundo as crenças dos nativos que o veneravam, o marido de Elizabeth II era um "descendente reencarnado de um espírito ou deus muito poderoso que vivia em uma de suas montanhas", conforme explicou Kirk Huffman, um antropólogo que estuda a religião da ilha desde 1970, em uma entrevista de 2021 à BBC.
Para os seguidores do chamado Movimento Príncipe Philip, o homem era a reencarnação de um membro da tribo que abandonou o território para "encontrar uma esposa poderosa no exterior", o que é descrito em uma de suas profecias ancestrais. Na condição de marido de uma rainha, assim, a figura do ex-duque acabava se encaixando como uma luva na lenda nativa.
Governando o Reino Unido com a ajuda da rainha, ele estaria tentando trazer paz e respeito pela tradição para a Inglaterra e outras partes do mundo. Se ele fosse bem-sucedido, poderia retornar a Tanna — embora uma coisa o impedisse era, como eles viram, a estupidez, a inveja, a ganância e a luta perpétua dos brancos", apontou Huffman ainda.
A religião ao longo do tempo
Posteriormente à sua visita de 1974, Philip enviaria, de vez em quando, fotografias autografadas suas para os nativos do arquipélago, que consideravam esses itens como sagrados.
Além disso, todos os anos, em seu aniversário, os adeptos à religião faziam uma grande celebração em homenagem ao príncipe, que nunca mais voltou a pisar no território apesar dos pedidos de seus adoradores.
Seu filho, por outro lado, Charles, que é hoje o rei da Inglaterra em sucessão à sua mãe, conheceu a tribo de Tanna em 2018. Assim como seu pai, o então príncipe participou dos ritos dos moradores, e também bebeu kava com eles.
Com a morte de Philip em 2021, houve alguma discussão entre estudiosos da cultura da ilha sobre como as crenças dos locais seriam impactadas, e, curiosamente, era possível que o status de entidade divina do marido de Elizabeth fosse transferido para o primogênito do casal, justamente, de forma que ele não era apenas herdeiro da Coroa, mas também de uma posição sagrada frente aos nativos de um arquipélago no continente da Oceania.
Segundo repercutido pelo UOL na época, Jean Pascal White, um porta-voz do grupo tribal, revelou mais sobre a questão:
Eles disseram que, se Charles quiser assumir o título do pai e manter a conexão com eles, seria muito bom. Mas, se não, o espírito do príncipe Philip deve passar para outro de seus filhos ou netos, e seguir a tradição no futuro"
Já de acordo com uma matéria de 2023 do jornal The New Zealand Herald, os membros da tribo comemoraram com fervor a coroação do novo rei da Inglaterra no último mês de maio, porém não por ele ser seu novo 'deus', e sim por ser o filho de um, o que também lhe tornaria importante diante deles.