Acadêmicos de Oxford usaram cálice feito de crânio humano por décadas

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Um novo livro do arqueólogo Dan Hicks, curador do Museu Pitt Rivers da Universidade de Oxford, revelou que professores e convidados do Worcester College usaram, por décadas, um cálice feito a partir de um crânio humano em jantares formais.
A obra, intitulada Every Monument Will Fall (“Todo Monumento Cairá”, em tradução livre), investiga a história violenta e colonial por trás de restos humanos saqueados e transformados em objetos decorativos ou utilitários.
Segundo o The Guardian, o cálice em questão foi confeccionado a partir da calota craniana — a parte superior do crânio, composta pelos ossos que cobrem o cérebro, como o frontal e os parietais. Essa estrutura foi serrada, polida, emoldurada com prata e fixada sobre uma base metálica.
Durante anos, foi usada para servir vinho e, mais tarde, chocolates, até que começou a gerar incômodo entre membros da instituição. A prática foi oficialmente encerrada em 2015.
Origem da peça
A peça foi doada ao colégio em 1946 por George Pitt-Rivers, ex-aluno e defensor do eugenismo que chegou a ser preso durante a Segunda Guerra Mundial por apoiar o líder fascista Oswald Mosley. O crânio fazia parte da coleção privada de seu avô, Augustus Henry Lane Fox Pitt Rivers, fundador do museu homônimo de Oxford, informou o The Guardian.
Testes de datação por carbono revelaram que o crânio tem aproximadamente 225 anos e, segundo Hicks, há indícios de que tenha pertencido a uma mulher escravizada oriunda do Caribe. No entanto, não há qualquer registro sobre sua identidade.
Em contraste, os britânicos que possuíram o objeto estão bem documentados — o que, para o autor, exemplifica como o colonialismo apagou deliberadamente a individualidade de suas vítimas, ao mesmo tempo em que celebrava os algozes.
Após a interrupção do uso do cálice em 2015, o Worcester College solicitou uma investigação formal sobre sua origem. Em 2019, a instituição decidiu arquivar permanentemente a peça em condições controladas, declarando que seria preservada “de forma respeitosa, sem acesso público”. A medida, segundo o livro, foi considerada um esforço ético para lidar com o passado controverso do objeto.


