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Afinal, o que é o anticristo?
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Afinal, o que é o anticristo?

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Aventuras Na História
01/11/2022 20h56
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©Foto por Luca Signorelli pelo Wikimedia Commons
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Uma figura até hoje muito envolta em névoa — mesmo que já representada em vários filmes clássicos de terror, como 'A Profecia', de 1976, dirigido por Richard Donner — é o anticristo. Segundo as tradições cristãs, ele seria uma espécie de líder que negaria os ensinamentos cristãos, e deturparia as crenças, sendo também um indicativo para a ressurreição de cristo e, também, do início do fim dos tempos.

No entanto, diferentemente de tantas outras mitologias clássicas com definições mais claras do fim dos tempos — como a nórdica, que tem toda uma narrativa completa e fechada sobre o 'ragnarok' —, o anticristo é dito como uma figura que pode surgir de forma repentina, as vezes sem chamar muita atenção. Pensando num ponto de vista atual, possivelmente viria como um líder nacional ou um presidente controverso.

Pensando em compreender um pouco mais sobre a enevoada figura do anticristo, o professor e historiador da Estácio, Jonathas Ribeiro, respondeu exclusivamente à Aventuras na História algumas questões sobre o maligno personagem. 

Quadro que retrata o anticristo agindo, manipulando alguém
Obra retrata o anticristo  / Crédito: Foto por Luca Signorelli pelo Wikimedia Commons

O que é o anticristo?

Segundo o historiador Jonathas Ribeiro, o anticristo — que também pode se apresentar de forma plural, sendo mais de uma figura — aparece detalhadamente em passagens do Novo Testamento bíblico, em especial as que se referem ao momento já apocalíptico que antecede a Segunda Vinda de Cristo.

Nos textos que tratam do personagem, ele é concebido como aquele que, nos últimos dias, "vem com o objetivo de enganar, se estabelece a partir de um falso discurso profético, e, se orientando por interesses que fogem aos valores cristãos, advoga para si a liderança da comunidade de fiéis".

Como é descrito?

Nas escrituras bíblicas, as passagens que delineiam de algum modo o anticristo se encontram especialmente no chamado Novo Testamento, a segunda parte da Bíblia cristã que foi definida pela Igreja Católica no ano 393. Em I João, por exemplo, ele é apresentado como "o mentiroso" que "nega que Jesus é Cristo"; que "nega o Pai e o Filho."

Já de acordo com II Tessalonicenses, ele é o "homem da iniquidade", "o filho da perdição", aquele que "se levanta contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de adoração", vindo a se assentar no "santuário de Deus, ostentando-se como Deus".

"Durante o seu governo, segundo a vontade de Deus, operará com poder, prodígios mentirosos e injustiça, para darem crédito ao erro aqueles que não se orientaram durante a vida pela verdade", continua o historiador.

Uma figura apenas?

Ribeiro aponta, ainda, que as passagens bíblicas não apontam necessariamente que o anticristo se expressará como uma única figura. "Não há, a não ser pelos sinais destacados nos textos, uma identificação clara e específica daquele ou daqueles que vêm como 'falsos profetas', sendo eles, conforme a tradição, revelados pelo próprio Cristo somente no momento de sua segunda vinda."

Apesar disso, culturalmente e a partir de um discurso baseado na pauta religiosa, o anticristo tende a ser associado a segmentos da oposição. Neste sentido, geralmente representa uma figura específica, uma liderança, ou um determinado grupo.

Estátua de Baphomet, um ídolo pagão, localizada dentro de um templo satânico
Estátua de Baphomet, um ídolo pagão, localizada dentro de um templo satânico / Crédito: Foto por Marc Nozell pelo Wikimedia Commons

Partindo do pressuposto de que a própria noção de 'Cristo' e seus 'valores' são contextualmente ressignificados — no tempo e no espaço ganham contornos muito particulares —, tudo o que se opõe aos objetivos defendidos por um segmento específico acaba sendo associado ao espectro adverso dos idealizados preceitos, isto é, como manifestação do 'anticristo'", aponta o historiador.

A figura do anticristo, por sua vez, não necessariamente representa apenas um grande marco dentro da mitologia cristã. "Em geral, remete a ideia de desaprovação, rejeição, proscrição, entre outros. Contudo, se contraposto às iniciativas religiosas fundamentalistas, pode também estar associado à resistência, ao antagonismo, à pertinácia, o que a depender do cenário e do grupo pode ser visto positivamente", explica.

Por que atribuir alguém ao anticristo?

A atribuição de alguma pessoa ou algum grupo ao que representa o anticristo é uma ação comum tomada por diversos cristãos, devido principalmente ao "sucessivo cenário de disputas, alimentado especialmente pela intolerância que vemos circular, nos mais diversos aspectos, em meio à sociedade", explica Jonathas Ribeiro.

Ou seja, aqueles que advogam em defesa de um "discurso cristão" associam os opositores a pessoas que devem ser combatidas ao anticristo, e, como cristãos, se veem na obrigação de combatê-los, reprová-los e deslegitimá-los. 

Esse panorama é, para muitos, evidência da falência social do diálogo, da degradação do senso de coletividade, do respeito à diferença, do que marca o bom convívio em sociedade. É, verdadeiramente, parte de um processo de fragmentação do corpo comunitário, da essência do viver coletivamente; do (con)viver. No lugar em que deveriam prevalecer a reserva, a solidariedade e a confraternização, imperam cada vez mais a violência, a intolerância e a opressão", finaliza.
Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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