Antes de perder os braços: O que a Vênus de Milo segurava?
Aventuras Na História
Uma das esculturas mais enigmáticas da história da arte, ainda é difícil dizer ao certo o que representa a Vênus de Milo. Encontrada em 8 de abril de 1820, a peça conta com muitas histórias a seu respeito e pesquisas se contradizem até mesmo sobre quem ela é.
Sua descoberta pode ser comprovada por documentos históricos, que apontam o responsável como Yorgos Kentrotas, um camponês da ilha de Milos, situada entre a Grécia continental e Creta, batizando a estátua.
Segundo Marianne Hamiaux, do Departamento de Antiguidades Gregas, Etruscas e Romanas do Museu do Louvre, na França, o homem estava escavando o local para encontrar pedras quando se deparou com a obra.
Mas o camponês — por sorte — não estava sozinho na região quando fez a descoberta. Olivier Voutier, um cadete naval francês, passava por ali quando viu a estátua surgir do chão e, como era entusiasta de arqueologia, pediu que o outro continuasse cavando.
Vendo-o parar e olhar para o fundo do buraco, fui até ele”, narrou, de acordo com registros da época. “Havia desenterrado a parte superior de uma estátua em muito boas condições. Ofereci-lhe pagamento para que continuasse a escavação.”
As escavações continuaram sob ordens do vice-cônsul da França em Milos, Louis Brest, o que permitiu que outros fragmentos fossem retirados do solo. Ainda assim, a escultura nunca foi encontrada na íntegra como acredita-se que um dia tenha estado.
Sem braços
Ainda que o fato de não contar com os dois braços inteiros provavelmente seja o que a torna preciosa nos dias de hoje, pesquisadores fazem extensas investigações para tentar entender como a escultura poderia ter sido no passado antes de quebrar.
Feita de mármore, a peça que conhecemos hoje um dia já teve os dois braços, o que não deixa especialistas dormirem, pensando em teorias para o que ela poderia estar segurando ou tocando com as mãos.
À revista Slate, a escritora Virginia Postrel ressalta como a Vênus já foi “foi imaginada ao lado de um guerreiro – Marte ou Teseu – com a mão esquerda roçando o ombro dele”, também tendo sido “retratada segurando um espelho, uma maçã ou coroas de louros, às vezes com um pedestal para apoiar o braço esquerdo”.
Outra representação para a estátua foi a de “uma mãe segurando um bebê”, mas outros foram ainda mais longe, sugerindo que ela não seria Vênus, e sim Vitória, “sustentando um escudo na coxa esquerda e gravando os nomes dos heróis nele com a mão direita”.
Teorias que focavam mais na ideia de a estátua representar a deusa da beleza indicavam que ela poderia ter segurado um escudo como espelho em sua mão perdida, para admirar o seu reflexo.
Uma hipótese em particular chamou a atenção de Elizabeth Wayland Barber, professora emérita do Occidental College, nos Estados Unidos, autora da obra “Women's Work: The First 20,000 Years” (1995).
Para a pesquisadora, Vênus poderia estar trabalhando com fios, já que na Grécia Antiga a fiação era geralmente associada à fertilidade e ao sexo — algo que se encaixaria bem com a deusa Vênus.
Modelo 3D
Pensando nisso, Virginia Postrel chamou o designer e artista de San Diego Cosmo Wenman para digitalizar a escultura e realizar uma impressão digital em 3D capaz de revelar como os braços da estátua de mármore estavam posicionados no passado.