Cemitério medieval descoberto no País de Gales intriga arqueólogos

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Um cemitério medieval descoberto no último ano próximo ao Aeroporto de Cardiff, no País de Gales, tem intrigado arqueólogos por suas características enigmáticas.
Localizado nos terrenos do Castelo de Fonmon, o sítio data dos séculos 6 ou 7 d.C. e revelou 39 esqueletos adultos — quase todos femininos — e dois infantis, enterrados em covas escavadas diretamente na rocha calcária. A escavação é conduzida por Andy Seaman e Marion Shiner, da Universidade de Cardiff.
Em entrevista à BBC News, Seaman explicou que os corpos foram sepultados com cuidado, dispostos em diferentes posições — alguns deitados, outros em posição fetal — mas todos voltados de leste para oeste, conforme os rituais cristãos da época.
Mistérios
O que mais chamou a atenção foi a ausência quase total de homens e a presença de sinais contraditórios: os ossos femininos revelam marcas de trabalho físico intenso, sugerindo uma vida laboriosa, mas os túmulos também contêm artefatos de luxo, como fragmentos de vidro fino e cerâmica importada, geralmente associada a elites.
Em contraste com esse cenário cuidadoso, os arqueólogos encontraram o corpo de uma mulher jogado em uma vala rasa, sem qualquer tipo de ritual fúnebre. Acredita-se que ela tenha sido uma pária social, criminosa ou vítima de punição. Exames indicam que tinha cerca de 40 anos, uma fratura antiga no braço e um abscesso dentário severo.
Segundo a BBC News, as análises também sugerem que nem todos os enterrados eram locais: alguns vieram de outras regiões do País de Gales e do sudoeste da Inglaterra.
Os dentes, que registram padrões alimentares ao longo da vida, indicam uma dieta rica em carboidratos, pobre em proteínas e sem vestígios de consumo de peixe — algo que surpreende os especialistas, já que o pescado era comum durante a ocupação romana. A osteóloga Katie Faillace explicou à BBC que a ausência pode sinalizar mudanças culturais profundas após a queda do Império Romano.
A equipe planeja continuar as escavações durante o verão, investigando a metade ainda intacta do cemitério. O objetivo é ampliar a compreensão sobre essa comunidade e desvendar as complexas relações sociais, culturais e econômicas que existiam ali.
“Conhecemos bastante sobre a vida de reis e nobres, mas sabemos muito pouco sobre as pessoas comuns. Esse sítio nos oferece uma oportunidade rara de entender em profundidade um grupo específico da população da Alta Idade Média”, concluiu Seaman.


