Christian Brueckner: Os passos do suspeito de sequestrar Madeleine McCann
Aventuras Na História
Em 3 de maio de 2007, a jovem britânica Madeleine McCann, de apenas três anos de idade, desapareceu em Portugal, no Algarve, enquanto sua família passava férias no resort Ocean Club.
Mais de 15 anos depois, investigadores ainda tentam entender o que aconteceu com Madeleine. Após anos sem provas e de pouco avanço, o caso sofreu uma reviravolta em junho de 2020.
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Na ocasião, a promotoria Brunswick, na Alemanha, apresentou o nome do principal suspeito pelo sumiço de McCann: Christian Brueckner, à época com 43 anos. Três anos depois, o mistério envolta do caso ainda continua. Brueckner está preso, mas por outros crimes. Por que ainda faltam respostas?
Infância e os primeiros crimes
O que realmente aconteceu com Madeleine McCann ainda é difícil de dizer. Após todos esses anos, os investigadores já não trabalham mais com a possibilidade dela estar viva. E o histórico do suspeito deixa essa incerteza ainda maior.
Christian Brueckner nasceu na cidade alemã de Wurzburg em 1976. O suspeito teve uma infância conturbada ao ser abandonado pela mãe ainda quando bebê. Christian foi adotado após passar um ano em um orfanato, mas voltou ao centro de crianças quando seu pai adotivo ficou impossibilitado de cuidar dele devido a um acidente de carro.
O suspeito teve seu primeiro registro criminal aos 15 anos, quando foi autuado por dirigir sem habilitação. Nos três anos seguintes, outros três delitos: o principal por abuso sexual de uma criança de apenas seis anos. Aos 19, ele se mudou da Alemanha para Portugal.
Sua trajetória é acompanhada pelo documentário "Caso Madeleine McCann: O Principal Suspeito", disponível no Discovery+ — a primeira produção a seguir os passos do suspeito alemão.
O documentário, dividido em três episódios, busca pessoas que conheceram Christian Brueckner ou fizeram parte das investigações, como Gonçalo Amaral, que liderou o caso em 2007. Ele acabou sendo afastado após denunciar os pais de Madeleine como suspeitos, o que muitos apontam com um erro fundamental para perder tempo e foco nas investigações.
Amaral chegou a ter rusgas com as autoridades do Reino Unido e agora não mantém muita desconfiança na polícia da Alemanha: "Eles falam muito, mas não mostram nenhum resultado. A questão é: o que eles estão fazendo já que não conseguem apresentar nada?".
A descrença de Gonçalo, entre outras coisas, se dá por um fato: a polícia alemã tem, desde 2020, uma van que pertenceu ao suspeito. O veículo poderia ser uma peça fundamental neste quebra-cabeça investigativo, mas pouco se sabe sobre os avanços do caso.
Promotor à frente das investigações no país, Hans Christian Wolters sempre foi muito reservado em relação às buscas. "Eu não posso revelar muito", é comum ouvi-lo dizer. Ele também já revelou não ter provas forenses da morte da britânica.
Por outro lado, nós temos provas diferentes. Podem ser testemunhas, fotos. Mas no momento eu não posso dizer que tipo de provas temos, pois, do nosso ponto de vista, esse não é o momento certo para isso".
A vida de um suspeito
O documentário do Discovery+ também mostra que Christian Brueckner tinha uma relação próxima com pessoas que viajavam o mundo em vans. A vida perto dos 'nômades', porém, servia como estratégia para desviar os olhos das autoridades.
Certa vez, em abril de 2006, Brueckner foi detido por roubo de diesel. Às autoridades, ele alegou que vivia em sua van e não tinha endereço fixo — um modo de impedir que a polícia investigasse a casa que ele alugava. No local, tempos depois, foi encontrado um câmera e vídeos de estupro. Ele também guardava objetos que havia furtado de turistas na Praia da Luz.
Por conta do roubo a diesel, Christian acabou preso por oito meses, sendo liberado em dezembro de 2008. O tempo de pena foi esticado pelo fato dele não ter apesentado um endereço formal.
Manfred Seyferth, aposentado que vive atualmente em um trailer na Itália, falou sobre a época que conheceu o suspeito em Portugal. "Um colega e eu fomos à noite até a casa, já que Christian estava na prisão. Queríamos diesel. Estava tudo aberto, destruído e revirado".
Não havia tanta coisa, peguei uma pistola e encontrei uns 20 litros de diesel. Estava tudo vazio, não havia mais nada. Então meu amigo pegou uma câmera e a ligou."
Para o espanto deles, as imagens continham provas de um estupro cometido por Brueckner contra uma americana. Foi pelo crime, aliás, que ele está preso em seu país natal.
A primavera de 2007
Na época em que Madeleine McCann desapareceu, o alemão Dieter F. visitava sua filha em Portugal. Certa vez, ele encontrou Christian estacionado no quintal de sua casa com um trailer enorme — diferente do que está sob posse das autoridades. "Tinha um grande sofá, um assento giratório, pista de dança, um espaço enorme atrás".
Dieter revelou que o suspeito lhe confidenciou que planejava contrabandear 50 quilos de maconha no carro. "Podia esconder tão bem que ninguém encontraria". A polícia alemã aponta que o plano parece ter dado certo, visto que no outono daquele ano ele viveu em seu trailer no sul da Alemanha; onde vendeu a droga.
Mas foi outra frase de Brueckner que marcou Dieter. Ele disse que seu carro era "tão grande que você poderia esconder uma criança pequena".
Quando Madeleine sumiu, Christian já vivia há 12 anos em Portugal. Mas logo em seguida ele voltou para sua terra natal. O endereço alugado pelo suspeito em Algarve, além do mais, ficava apenas 10 quilômetros do resort onde os McCann passavam as férias.
A polícia ainda divulgou uma prova que o coloca perto da cena do crime naquele dia: no dia 3 de maio de 2007, o suspeito recebeu um telefonema de um número pré-pago apenas uma hora antes do sumiço de Madeleine.
As casas de Christian
"Caso Madeleine McCann: O Principal Suspeito", ainda segue os passos de Christian Brueckner nos anos seguintes ao desaparecimento da jovem. O suspeito se mudou para o norte da Alemanha em maio de 2007.
Dois anos depois, ele adquiriu um terreno em meio a algumas ruínas, onde ficava uma fábrica abandonada. Sete anos depois, a polícia alemã achou enterrado no local, perto da ossada de um cachorro que pertenceu a Christian, alguns pendrives e cartões de memórias com conteúdos pornográficos de pedofilia e zoofilia.
As buscas aconteceram enquanto as autoridades tentavam encontrar outra garota, que até hoje também não foi achada.
Procurado pela polícia alemã desde 2014, Christian foi encontrado pelas autoridades, em um apartamento alugado por ele, sob posse de uma câmera com 400 vídeos e fotos de pedofilia. No ano seguinte, ele foi condenado por produção de pornografia infantil e abuso sexual, mas conseguiu escapar.
Ele viajava muito. Esse é um ponto importante. Fica muito difícil para as autoridades encontrar alguém que viaja tanto, especialmente se a pessoa mudar de país", explica o advogado criminalista Alexander Stevens.
A essa altura, ele já era investigado por participar de uma conversa por Skype com outro pedófilo. No bate-papo, Christian Brueckner relatou o desejo de sequestrar uma criança e produzir material pornográfico com a vítima. Questionado sobre os perigos do ato, ele rebateu que seria fácil fazê-lo quando se pode destruir as provas.
Por fim, a produção descobriu uma casa que ele alugou na Alemanha entre 2013 e 2016, endereço do qual as autoridades do país jamais visitaram para investigar. Quem deu detalhes do imóvel foi o próprio dono, Jurgen Krumstron:
"O inquilino anterior tinha começado a construir um porão. Quando entregamos a propriedade a ele dissemos que esse porão precisava ser concretado porque porões não eram permitidos. Ele trouxe alguns materiais e tinha um trailer que dirigia o tempo todo".
A frase
Uma testemunha-chave, identificada como Helge Busching, disse que no ano 2008 denunciou Brueckner, o principal suspeito associado ao desaparecimento da menina. Conforme repercutiu o portal de notícias do UOL, com informações do Daily Mail, na época, Busching foi ignorada pela polícia de Londres.
Em 2008, eles se encontraram num festival de música na Espanha. Entre as conversas, um dos assuntos foi o desaparecimento de Madeleine. Durante o papo, conforme relatado pelo jornal alemão Bild, Helge questionou "como a pequena poderia ter desaparecido sem deixar rasto", e Brueckner disse: "Ela não gritou".
Como consequência, Helge Busching afirmou que foi até à Polícia Metropolitana de Londres. "Eu pensei, ele sabe isto. Ele tem alguma coisa a ver com isto. Mas também notou que tinha percebido e depois saiu", disse ele.
Helge também afirmou que as informações foram denunciadas, mas não foram levadas em consideração:
Liguei para a Scotland Yard em 2008. Para a linha direta da Maddie. Disse que conhecia alguém que poderia ter algo a ver com o caso e dei-lhes o nome. Mas não aconteceu nada. Nada. Nunca me ligaram de volta.”
Brueckner sempre negou um suposto envolvimento no desaparecimento de McCann. Em cartas, o suspeito condenou a polícia e envolvidos na investigação do caso. Atualmente, vale enfatizar, ele cumpre pena por ter estuprado e matado uma mulher de 72 anos.
Em uma carta, divulgada pelo MailOnline, o suspeito disse não ter envolvimento no desaparecimento da garotinha britânica.
"Você não consegue imaginar como é quando o mundo inteiro acredita que você é um assassino de crianças, mas você não é", escreveu Christian na carta. "Foi-me dito há muito tempo que a promotoria ia encerrar o caso da Maddie porque não há a mínima evidência. Nunca haverá um julgamento".
Brueckner também afirmou que a polícia e os promotores querem fazê-lo parecer culpado. "Eles possuem muitas provas que confirmam minha inocência. Mas estão tentando criar um monstro para entreter as pessoas e fazer com que acreditem que sou o suspeito correto."