Como a imperatriz D. Amélia lidou com a reputação de Dom Pedro I?
Aventuras Na História
No ano de 1828, um importante capítulo se desenrolava na vida da jovem Amélia, princesa de Leuchtenberg. Com a morte precoce de seu pai, o príncipe Eugênio, quando ela tinha apenas 12 anos, a trajetória da princesa tomou um novo rumo.
A liderança da família recaiu sobre os ombros de Augusto, irmão de Amélia e seu confidente mais próximo, apenas dois anos mais velho que ela. As irmãs da família seguiram seus destinos, casando-se e formando novas famílias, mas Amélia permaneceu próxima à princesa Eugênia, única que mantém sua residência próxima à mãe.
O destino reservou uma guinada significativa quando, ao atingir a idade de 16 anos, Amélia foi apresentada à corte em um baile de Natal em Munique, marcando sua entrada no competitivo 'mercado matrimonial'. É nesse momento que o enredo se entrelaça com a história do Brasil, como explicado pela pesquisadora Cláudia Thomé Witte no livro ‘D. Amélia – A história não contada: A neta de Napoleão que se tornou imperatriz do Brasil’.
Dom Pedro I, então imperador do Brasil, viúvo de Dona Leopoldina, buscava uma nova esposa. A escolha da imperatriz era crucial para a estabilidade do trono, levando em consideração o contexto político e a necessidade de preservar a imagem da monarquia.
Busca difícil
A busca por uma princesa que se encaixasse nos padrões do imperador foi difícil. Dom Pedro I desejava alguém não apenas bela, mas que estivesse disposta a assumir o papel de madrasta para seus filhos do primeiro casamento e que aceitasse a responsabilidade de manter a imagem pública da monarquia intacta.
O dilema de Dom Pedro I era agravado pelo conhecimento público de sua relação com a Marquesa de Santos, Domitila de Castro. O problema, na realidade, era a legitimação da filha de ambos, a Duquesa de Goiás, reconhecida no momento em que ele ainda era casado com Leopoldina. Como resultado, princesas europeias não quiseram laços com a monarquia brasileira, considerando a complexidade da situação e a distância do país com o continente europeu.
Amélia, porém, aceitou o desafio. Em um gesto corajoso, ela concordou em se tornar a nova imperatriz do Brasil, assumindo não apenas a posição de esposa de Dom Pedro I, mas também o papel de mãe para os órfãos deixados pela falecida Leopoldina.
Negociação inteligente
Entretanto, Amélia decidiu que seguiria para o Brasil se seus desejos fossem atendidos, iniciando uma negociação complicada para garantir a nação uma nova imperatriz.
Ela sabia que era tudo que ele [Dom Pedro I] queria, ela era jovem, bonita, católica e disposta a assumir os filhos; Amélia era perfeita. Só que ela também sabia que isso tudo era uma grande negociação, então colocou um preço”, afirma a pesquisadora.
Cláudia ainda afirma que ela disse não acreditar em tudo aquilo que falavam sobre o imperador, mas com a troca financeira, conseguiu restituir o título ao irmão, garantindo uma boa posição para a família.
Eu acho fascinante, com 16 anos Amélia tinha zero romantismo. [...] E aí eles negociam, e com isso o irmão dela recebe o título de Duque de Santa Cruz, ele já era Duque de Leuchtenberg, ele se torna também Duque de Santa Cruz. E com isso ele passa a ser tratado como Alteza Real e isso muda toda a situação deles na corte, na Europa e melhora inclusive a posição dos irmãos mais novos”.
Sombras do passado
O desafio para Amélia era significativo. Ela não só teria que enfrentar a mudança para uma terra desconhecida, mas também lidar com a opinião pública e o passado do imperador.
Ainda que todas as outras candidatas tivessem rejeitado o imperador do Brasil, Amélia aceitou o desafio e lidou com a situação da amante de D. Pedro com a maior racionalidade possível, ignorando toda a possível especulação a respeito do assunto. Agora, seu desafio era outro: ser a melhor imperatriz que o país merecia.
Para saber mais detalhes da vida da imperatriz D. Amélia, confira o especial sobre ela no canal oficial do Aventuras na História no Spotify, que exibe a segunda parte da palestra de Cláudia Thomé Witte, que aconteceu na Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, como parte do Ciclo de Palestras, em 2 de setembro, com curadoria de Paulo Rezzutti: