D. Amélia: Qual o destino da herança valiosa deixada pela imperatriz?
Aventuras Na História
A imperatriz D. Amélia, segunda esposa de D. Pedro I, soube utilizar muito bem o poder e a influência que tinha. Uma mulher muito bem-educada, D.Amélia se casou ainda quando tinha 17 anos, abraçando para si uma tarefa difícil: ser a nova imperatriz após a morte de uma das personalidades mais queridas do então império, a D. Leopoldina. Além do novo cargo, a jovem mulher precisou se tornar madrasta dos filhos do primeiro casamento de D.Pedro.
Dentre todas essas decisões difíceis na nova fase da vida de D. Amélia, ela conseguiu se manter firme e prática (como sempre foi) e teve um papel importante na política da trajetória de D. Pedro e da família Bragança ao trono, seja do Brasil ou o de Portugal.
Após seu casamento, a imperatriz se posicionou como a “protetora” dos brasileiros e tentou defender o povo de qualquer tipo de ataque que pudesse acontecer.
É isso que resgata a pesquisadora Cláudia Thomé Witte em seu livro ‘D.Amélia – A história não contada: A neta de Napoleão que se tornou imperatriz do Brasil’. Em 2 de setembro, ela realizou uma palestra acerca da imperatriz na Fundação Maria Luisa e Oscar Americano, que fez parte do ‘Ciclo de Palestras’, com curadoria de Paulo Rezzutti.
Mente política
No trono, Dom Pedro ainda contava com a assessoria e a companhia de amigos portugueses. No entanto, após a independência, essa situação passou a encarar implicações políticas desfavoráveis. D.Amélia, percebendo o peso negativo dessa influência portuguesa, conseguiu persuadir Dom Pedro a afastar esses conselheiros, incluindo figuras como Chalaça e Rocha Pinto, que eram próximos a ele. O objetivo era evitar a impressão de favorecimento a Portugal.
D. Amélia exerceu uma notável influência sobre Dom Pedro, o incentivando a buscar uma reaproximação com o Partido Brasileiro — um partido composto somente por brasileiros. Poucos meses após sua chegada, foi estabelecido o Ministério da Imperatriz. Essa reaproximação resultou em um período de trégua, que durou cerca de um ano e meio, até que novos problemas começaram a surgir, resultando na abdicação de Dom Pedro em 1831.
Com a abdicação, em 1831, eles deixam de ser imperadores, Amélia deixa de ser imperatriz, e eles têm que retornar pra Europa. Quando voltam pra Europa, num primeiro momento, a missão de Dom Pedro é recolocar a filha dele no trono”, explica a pesquisadora.
Maria da Glória, filha do imperador com Leopoldina, que já era a rainha de Portugal, teve o trono usurpado pelo tio, Dom Miguel. Então ele entra em guerra contra o irmão, ao retornar para Europa, visando instituir uma monarquia constitucional em Portugal. A filha era o símbolo disso, ela seria uma rainha constitucional, apesar de ter 12 anos na época da abdicação.
Amélia e a Maria da Glória ficaram, então, em Paris, no exílio, enquanto Dom Pedro entrou em guerra contra o irmão. Foi em Paris que nasceu a única filha do casal, a princesa Maria Amélia, no dia 1º de dezembro de 1831.
Vida nas sombras
Após Maria da Glória recuperar o trono, D. Pedro I faleceu e D.Amélia precisou encontrar um marido para a enteada, a fim de consolidar seu reinado. Ela se casa com Augusto, irmão de D. Amélia, mas fica viúva em menos de 1 ano de casamento. As negociações para achar um novo marido acabaram afastando as duas, que, até então, possuíam uma boa relação.
Graças a esse distanciamento, D. Amélia viveu seus dias nas sombras, isolada. "O resto da vida dela, depois disso, foi rico, muito interessante. Ela continuou fazendo coisas interessantes e se reaproximou da Maria da Glória. Quando Maria da Glória morreu, foi ela quem estava na cama ao seu lado, assistindo os últimos momentos", conta Cláudia.
Em uma reviravolta de destino, a viuvez trouxe a D.Amélia uma liberdade, até então, inexplorada na corte portuguesa do século XIX. Ao herdar a fortuna de seu pai, ela se viu livre de compromissos e mergulhou de cabeça em projetos sociais.
D. Amélia começou ao apoiar as vítimas de cólera e febre-amarela em Lisboa. Também expandiu sua influência e estabeleceu orfanatos em diversas cidades de Portugal.
Reconhecendo a necessidade não apenas de abrigo, mas também de formação profissional, ela proporcionou às crianças, especialmente as meninas, oportunidades além do convencional casamento sem dote, além de ter apoiado outras causas.
Morte da imperatriz
Em 1873, D. Amélia, entretanto, faleceu após problemas no coração, deixando para trás uma herança significativa. Seu patrimônio, acumulado por sábios investimentos, incluía ações em empresas emergentes na Europa, explica a autora de ‘D. Amélia – A história não contada: A neta de Napoleão que se tornou imperatriz do Brasil’.
A nobre distribuiu seus bens entre sobrinhos, filhos e enteados. Uma parte substancial foi destinada à única irmã sobrevivente, a rainha da Suécia. Há também um destaque para os célebres diamantes da Tiara Bragança, presente de Dom Pedro no aniversário de D. Amélia.
Além de riquezas materiais, ela deixou joias valiosas, presenteando a princesa Isabel, princesa Leopoldina e Teresa Cristina. Infelizmente, algumas das preciosidades se perderam ao longo do tempo, mas seu impacto humanitário e legado financeiro perduram na história.
Para saber mais sobre a vida da imperatriz, confira o último episódio do podcast especial sobre D. Amélia no Spotify: