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Da Inquisição ao Holocausto: Como o Brasil se tornou refúgio para os judeus
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Da Inquisição ao Holocausto: Como o Brasil se tornou refúgio para os judeus

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Aventuras Na História
11/12/2024 22h00
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Em 1492 os judeus foram expulsos da Espanha pelos reis católicos, Fernando e Isabel. Muitos deles foram recebidos em Portugal e, destes muitos foram obrigados a se batizarem como católicos, recebendo o nome de "cristãos novos" (pejorativamente chamados "marranos" ou "porcos"). Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil e reivindicou-o para Portugal.

Então vieram as perseguições impostas pela Inquisição – Tribunal da Igreja Católica, instituído, em Portugal, em 1536, para perseguir, julgar e punir os acusados de práticas religiosas contrárias às definidas pela Igreja. Com isso, milhares de judeus buscaram no Brasil uma nova vida, desejosos de praticar a sua fé e com um oceano a distanciá-los da temida instituição.

Aqui, esses "cristãos novos" se interligaram pelo casamento com algumas famílias católicas de destaque e estabeleceram grandes fazendas e firmas, mas todo o tempo mantendo em segredo muitas de suas práticas judaicas.

Porém, a Inquisição seguiu os judeus através do Atlântico e em grande número foram levados de volta a Portugal, onde muitos foram encarcerados, torturados cruelmente, tiveram os próprios bens confiscados e, até mesmo, alguns foram queimados vivos.

Judeus no Nordeste brasileiro

Em 1630, com a conquista do nordeste brasileiro pelos holandeses, iniciou-se um período de liberdade religiosa. Os judeus receberam permissão para praticar seus costumes e festas, mesmo que com certas restrições. Estima-se que o total de judeus no Brasil holandês (nordeste), chegou a cinco mil.

A primeira Sinagoga de toda a América, "Zur Israel" ("rocha de Israel"), foi construída no Recife em 1637, onde atualmente, funciona o Centro Judaico de Pernambuco.

O sonho de liberdade para eles durou pouco. Em 1654, Portugal reconquistou o Brasil da Holanda e muitos foram presos e despachados para Lisboa. Muitos outros escaparam para a Holanda, Curaçao e demais ilhas.

Durante o Império, o governo brasileiro os recebeu com respeito, mas somente no seu final a liberdade religiosa foi concedida.

Em 1773, por iniciativa do Marquês de Pombal, foram revogadas todas as leis discriminatórias contra os judeus e eles tornaram-se gradualmente parte integrante da população brasileira.

Já em 1820 terminava oficialmente a Inquisição no Brasil. E de 1822 em diante, quando o país tornou-se independente, judeus professos puderam vir livremente para esta terra. Porém, tempos difíceis ainda os aguardavam.

Os horrores da Segunda Guerra Mundial

Durante a Segunda Guerra Mundial, o antissemitismo esteve presente em várias instâncias do governo, como no Ministério das Relações Exteriores. A mais grave consequência foram as circulares secretas que restringiram a imigração desse povo para o Brasil a partir de 1937, o que impediu milhares de pessoas que fugiam do nazismo de entrar no país.

No fim do ano de 1941, o navio Cabo de Hornos, atracado no Rio de Janeiro com 95 refugiados, vindos principalmente da Polônia e Tchecoslováquia (hoje República Tcheca), foi forçado a seguir viagem, pois durante a longa espera na Europa, antes da partida, os seus vistos haviam vencido. As autoridades brasileiras recusaram a entrada do grupo. Se não tivesse sido pela colônia Holandesa de Curaçao, eles teriam que retornar à Europa e aos campos de extermínio de Hitler.

+ Thomas Geve: O menino que desenhou os horrores de Auschwitz

Apesar de muitas restrições, milhares de pessoas conseguiram mudar para o Brasil, pois muitos diplomatas concediam vistos a judeus, sem informar ao governo a origem étnica dos requerentes. Eles foram dando origem a uma grande comunidade: a "Confederação Israelita do Brasil".

Após o fim da guerra, o Brasil foi refúgio para muitos desses sobreviventes do Holocausto.

Os desdobramentos pós-guerra e atuais

Após a criação do Estado de Israel em 1948, ficou insustentável a situação das comunidades judaicas dos países árabes. A partir de 1956, com a Guerra do Suez, cerca de 2.500 judeus do Egito entraram no Brasil, e entre os anos 1950 e 1970, o Brasil começou a receber imigrantes do Líbano, Síria e Israel. Judeus da Hungria também imigraram em 1956, devido à repressão e a invasão soviética no país.

O Brasil tem grande parte na História do povo judeu. Um exemplo está ao sul de Israel, o kibutz dos brasileiros, "Kibutz Bror Chail", desde abril de 1948. Ele tornou-se símbolo do intercâmbio da cultura brasileira em Israel. Abriga o Museu Adoniran Barbosa, lembrando a época em que brasileiros emigraram para Israel.

Os membros do kibutz guardam também um lugar para o martelo com que o diplomata brasileiro Osvaldo Aranha, então presidindo a ONU, selou a votação pela qual a Assembleia Geral designou a Partilha da Palestina (1947) em dois Estados, um judeu e um árabe.


*Jandyra Stahlschmidt Cantu é pedagoga e historiadora pós-graduada em História do Brasil. Atualmente aposentada, após 25 anos de atuação na docência, também é agropecuarista, escritora e palestrante. Natural de Palmas, no Paraná, hoje viaja pelos lugares que conheceu ao longo da vida, através dos livros. A cada viagem nasce uma pesquisa, um diário e várias palestras.

Jandyra Stahlschmidt Cantu e capa do livro A Jornada do Povo de Deus - Divulgação

Já escreveu um livro sobre a fundação de sua cidade natal, no qual discorre sobre acontecimentos desde a época das grandes navegações e a chegada de dois bandeirantes na região de Palmas (PR) — um deles seu bisavô. Também foi convidada pela prefeitura de Coronel Vivida, para escrever sobre a história da cidade paranaense que a acolheu por tantos anos. Assim nasceu a obra "Coronel Vivida - Sua História, Sua Terra, Sua Gente", onde aborda também os municípios da região pitoresca que passou por vários ciclos (inclusive o da erva-mate) e a trajetória dos moradores do local.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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