Daniel V. Jones: o mais trágico protesto contra o sistema de saúde dos Estados Unidos
Aventuras Na História
No dia 30 de abril de 1998, emissoras afiliadas da região de Los Angeles, no estado norte-americano da Califórnia, disputavam o espaço aéreo de uma importante rodovia da cidade para cobrir uma perseguição ao vivo. Utilizando helicópteros ao redor de uma caminhonete da Toyota, o condutor atraiu a atenção dos principais canais locais, como as filiais da ABC, NBC e CBS.
Com a pista isolada, o motorista, identificado como Daniel V. Jones, conseguiu a atenção que queria; assim que notou a numerosa cobertura urgente, que interrompia as programações regulares, parou o carro, estendeu um banner na pista e, com os holofotes voltados para si, fez um dos mais breves, porém notórios, protestos contra o sistema de saúde dos Estados Unidos.
Na faixa preta e dizeres em branco, Daniel criticava os planos de saúde do tipo HMO (sigla que corresponde as “Organizações de Manutenção da Saúde”, em tradução livre), afirmando que eles existiam apenas para “tirar o dinheiro”. Vale ressaltar que os EUA não possuem sistema público e universal de saúde. No fim da faixa, os dizeres: “Viva livremente, ame com segurança ou morra”.
O que já surpreendia autoridades e redes de televisão sequer parecia chocante perto das cenas seguintes; após estender o banner na rodovia, o homem reentrou em seu carro e explodiu um coquetel molotov. O tanque do carro não explodiu junto, com Daniel rapidamente saindo do veículo em chamas, sem aguentar o calor. Remove sua bermuda para aliviar o fogo, visto queimando em suas meias e cabelos pelas câmeras da TV.
Sem sucesso ao tentar o suicídio pela explosão, acessa a caçamba de sua caminhonete e alcança, em meio ao fogo, uma espingarda. A dispõe em um alambrado, posiciona sua cabeça em frente ao cano e efetua o disparo, morrendo ao vivo e em cores nos principais canais da televisão local.
Motivação da vítima
Em fita de vídeo posteriormente descoberta pela polícia, Daniel deixava uma espécie de mensagem final, revelando que tinha descoberto, meses antes, que tinha HIV e câncer, como revelou o jornal Los Angeles Times.
No registro, afirmava estar sofrendo com dores constantes em decorrência das doenças, mas que sofria ainda mais emocionalmente devido ao desamparo do HMO, que cobrava altos valores para seu tratamento.
De acordo com o portal G1, ainda nos dias atuais os custos de um tratamento para câncer pode facilmente ultrapassar US$ 120 mil ao ano, sem alternativa gratuita para adoecidos. Também não há sistema de distribuição de medicamentos para o fortalecimento do sistema imunológico contra o HIV, somando os gastos.
Sem recursos suficientes trabalhando como zelador de um hotel, afirmou ainda na fita que preferia cometer o ato do que falecer enlouquecido, cometendo o ato trágico 15 dias depois de completar 40 anos de idade. Seus familiares não tinham conhecimento de seu tumor ou do vírus, vivendo apenas com seu cachorro até o dia final de sua vida.