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Diário em papel higiênico de preso político da década de 1930 é descoberto em SC
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Diário em papel higiênico de preso político da década de 1930 é descoberto em SC

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Aventuras Na História
27/01/2025 14h00
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©Divulgação/Prefeitura de Blumenau
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No início deste mês, um artefato de grande valor para a compreensão da história nacional entrou para o Arquivo Histórico José Ferreira da Silva, em Blumenau: um diário da década de 1930, escrito por um preso político durante o governo de Getúlio Vargas, em sete folhas de papel higiênico.

O autor do diário foi Julio Baumgarten, então editor do jornal "Blumenauer Zeitung" que, conforme repercute o g1, foi preso em 1938, acusado de integrar um "movimento subversivo". Ele era membro da Ação Integralista Brasileira (AIB), um partido de orientação fascista que, naquele mesmo ano, tentou realizar um golpe de Estado contra Vargas.

As memórias, escritas entre 3 e 7 de outubro de 1938, em alemão e a lápis, foram enroladas e escondidas dentro de uma caixa de charutos, e deixadas no fundo de um armário. Elas só foram redescobertas recentemente por familiares de Baumgarten, que as encaminharam ao Arquivo Histórico.

Após o diário ser traduzido, não houve grandes revelações, mas os escritos oferecem novas perspectivas a partir de observações de um homem preso político há quase nove décadas. Entre os registros, estão a chegada na então Penitenciária da Pedra Grande, em Florianópolis, e a descrição de uma cela de oito metros quadrados, na qual ele dormia em uma cama "dura como madeira".

Baumgarten também descreve a primeira refeição à base de arroz e alguns pedaços de carne, as formalidades em torno de seu ingresso na penitenciária, e o tratamento recebido dos agentes. Segundo o município, o mandado de prisão para ele foi expedido em setembro de 1938, e ele foi capturado ainda naquele mês, no dia 28; e solto não muito depois, no dia 27 de outubro.

O achado "é muito significativo porque [os relatos] vêm para fortalecer o que já se conhecia, complementando o acervo documental tanto sobre integralismo, quanto sobre prisioneiros", destaca Sueli Petry, historiadora e diretora do Patrimônio Histórico e Museológico de Blumenau, ao g1.

Golpe fracassado

Felipe Carlos de Oliveira, professor e mestre em história pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) explica também ao g1 que a AIB foi um partido de orientação fascista fundado no Brasil em 1932, tendo como seu principal líder Plínio Salgado.

O que o partido defendia era chamado de "nacionalismo ufanista", que era averso à assimilação de culturas estrangeiras, uma postura que influenciou bastante da militância política na década de 1930. "Esse partido teve vários integrantes que apoiaram o governo Vargas, tanto no governo provisório, em 30-34, como depois, quando o Vargas é eleito, indiretamente para o governo constitucional [de 1934 a 1937]", conta o professor.

Em 1937, com apoio dos integralistas, Getúlio Vargas dá o golpe Estado Novo. Mas Vargas escondeu uma coisa dos integralistas: o fato de que a nova constituição, outorgada em 1937, chamada de 'Polaca', extinguia todos os partidos políticos e, dessa forma, colocava na ilegalidade a própria AIB", acrescenta.

Foi por isso que a AIB tentou realizar um golpe de Estado em 1938, mas o movimento foi um grande fracasso, culminando na prisão de vários membros do partido e envolvidos na ação, incluindo, entre eles, Julio Baumgarten.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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