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Dona Carlota Resende: A polêmica prisão da dirigente que impulsionou o futebol feminino
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Dona Carlota Resende: A polêmica prisão da dirigente que impulsionou o futebol feminino

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Aventuras Na História
01/07/2023 03h00
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A história do futebol no Brasil todos conhecem: o paulistano Charles Miller retornou a terras tupiniquins, em 1894, após passar alguns anos estudando no Reino Unido. Em sua bagagem, ele trouxe duas bolas, uniformes e um livro de regras.

Foi o suficiente para fazer o futebol o esporte mais popular por aqui. Tido, hoje, como o mais democráticos da esfera esportiva, o futebol possui uma origem totalmente diferente no Brasil, sendo praticado pela elite branca e abastada.

A integração dos negros e mais pobres nos campos só foi conquistada sob muita luta e depois de vários anos. Imagina como seria a história da Seleção sem nomes como Pelé, Garrincha, Djalma Santos, Jairzinho, Carlos Alberto Torres, Ronaldinho Gaúcho, Vinícius Júnior…

+ Descendência Fulni-ô: A origem indígena de Garrincha

Mesmo assim, durante anos, grupos minoritários ou fora dos 'padrões sociais' de suas épocas sofreram — e sofrem — com as mentes retrógradas que ainda rondam o futebol. Um caso exemplar é do goleiro Barbosa. Ídolo do Vasco da Gamar, o arqueiro de pele preta foi crucificado pelo derrota para o Uruguai na final da Copa do Mundo de 1950.

Mas se para os homens a situação já atinge extremos, o que dizer do mesmo cenário para as mulheres? Afinal, elas foram proibidas de jogarem futebol durante quase quatro décadas: após decreto-lei estabelecido no Governo de Vargas, em 1941, a decisão só foi revogada em 1979. O futebol feminino só começou a ter a estruturação e reconhecimento que merecem nos últimos anos. Ainda longe do ideal, é claro.

Voltando ao assunto de campanhas difamatórias e apagamento de personagens essenciais para essa luta, é impossível não levantar o nome de DonaCarlota Resende — pioneira dirigente brasileira.

Dona Carlota

Os registros iniciais do futebol feminino no Brasil remetem aos anos 1920, quando as partidas não eram disputadas como jogos oficiais, mas sim como atrações circenses. O esporte feito para a elite branca passou a fazer sucesso entre mulheres periféricas no Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Norte. Embora que de forma muito tímida.

Atrizes das famílias circenses Queirolo e Seyssel/ Crédito: Museu do Futebol

Por conta de passarem a ocupar um espaço que não foi 'criado' para elas, os registros sobre o início do Futebol Feminino no Brasil são extremamente escassos. O monopólio da elite branca no esporte só começou a definhar na década de 1930, principalmente após a profissionalização do futebol em 1933.

Ainda assim, as mulheres ainda lutavam por seu espaço e tiveram no nome de DonaCarlota Resende uma porta-voz importante para esse crescimento. Moradora do bairro de Pilares, no Rio de Janeiro, DonaCarlota Resende foi uma importante dirigente esportiva da época.

Uma pessoa simples do subúrbio, à época na casa dos seus 60 anos, Dona Carlota era uma pessoa influente entre os homens que estavam envolvidos na organização do futebol nos bairros cariocas — sejam eles de várzea ou amadores.

A casa de Dona Carlota Resende, inclusive, havia praticamente se tornado a sede do Primavera A.C. — um dos principais times femininos da época. Além disso, ela havia "ajudado a fomentar a criação de uma dezenas de equipes femininas", aponta Aira Bonfim, mestre em História, Política e Bens Culturais pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), com pesquisas dedicadas às práticas esportivas contra hegemônicas, em entrevista exclusiva à equipe do site do Aventuras na História.

Em artigo ao site Torcedores.com, Aira Bonfim — que atuou quase uma década como pesquisadora no Museu do Futebol e hoje é curadora do espaço — escreve que o nome de Dona Carlota se tornou familiar para muitas jogadoras: era responsável por formar equipes em bairros e também era a responsável por coordenar festivais amadores de futebol aos finais de semana. 

Campanha de difamação

Mas o sucesso de Dona Carlota Resende incomodava. A coach-woman estava popularizando o Futebol Feminino. Suas atletas passaram a estampar manchetes de jornais e até mesmo a receberem dinheiro para realizarem jogos preliminares as partidas masculinos.

O Primavera A.C. recebeu convites para jogar fora do Rio de Janeiro. O empresário argentino Afonso Doce havia convidado a equipe para excursionar no Uruguai e Chile em 1941. Algo precisava ser feito para detê-la!

Ainda em 1940, campanhas de difamação foram feitas contra Dona Carlota Resende", relata Aira ao site Aventuras na História.

Cronistas e jornalistas da época passaram a acusá-la de aliciar suas atletas: o Futebol Feminino seria uma enorme fachada para casos de exploração sexual. "[Dona Carlota] passou a ser acusada de aliciar meninas pobres e ganhar dinheiro para fazê-las jogar; ou, em casos mais absurdos, de encaminhar essas atletas ao ambiente noturno, nas boates e, talvez, até na prostituição", aponta Bonfim.

Equipe do Primavera e Dona Carlota/ Crédito: Biblioteca Nacional

"Tudo isso é colocado nos jornais. É uma associação direta entre a praticante do futebol desse período com esse universo considerado, no período, como uma baixa moralidade", explica a historiadora do esporte.

A casa de Dona Carlota Resende, na Rua Gaspar, número 45, passou a ser classificada como um 'antro de perdição'. Por conta disso, a dirigente chegou a ser presa por 48 horas em janeiro de 1941, recorda matéria do O Globo. Como consequência, a excursão foi cancelada logo em seguida.

A apunhalada final nas costas do Futebol Feminino aconteceu em abril de 1941, quando o artigo 54 do decreto-lei número 3.199 impediu as mulheres, no Brasil, de praticarem esportes considerados violentos e não condizentes com o que se esperava de uma mulher na época. Embora não tenha sido citado nominalmente, o futebol fazia parte desta proibição.

Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país".
Manchete sobre o decreto-lei número 3.199 / Crédito: Reprodução

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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