Durante a ditadura: Lula estava preso quando perdeu a mãe, em 1980
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No dia 12 de maio de 1980, o então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Luiz Inácio Lula da Silva, deixou temporariamente a prisão em que se encontrava havia 24 dias para comparecer ao velório de sua mãe.
Eurídice Ferreira, ou Dona Lindu, como era conhecida, tinha 64 anos quando foi vítima de um câncer. Na época, o Brasil vivia um dos períodos mais sombrios de sua história, a ditadura militar, sob liderança de João Figueiredo, e a perseguição a líderes sindicalistas encontrava-se em seu ápice. Lula, como organizador de uma grande greve dos metalúrgicos, acabou sendo preso.
Greve dos metalúrgicos
A greve já durava 17 dias em fábricas da região de São Bernardo do Campo, no ABC paulista, quando Lula foi apreendido. Os militares temiam que a paralisação demorasse demais e acreditavam que, com a prisão de seus líderes sindicais, a greve seria desmobilizada, o que não ocorreu.
Conforme apontou o portal BBC em matéria de 2019, a ação surtiu efeito contrário e a detenção do petista acabou por fortalecer o movimento. Pouco mais de duas semanas depois, o político perderia sua mãe.
"Os militares cometeram a burrice de me prender com 17 dias de greve. O que aconteceu depois? Foi um motivo a mais para greve continuar. Houve passeatas e mobilização, até com o Vinicius de Moraes", comentou Luiz Inácio.
O velório
Quando, naquele 12 de maio, Lula foi liberado pelo diretor-geral do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), Romeu Tuma, o político que viria a ser presidente da república dirigiu-se à capela do Hospital da Benificencia Portuguesa, em São Caetano do Sul (SP), acompanhado por policiais. Lá, permaneceu durante duas horas e voltou para a prisão.
No dia seguinte, o petista compareceu ao funeral e ao cortejo em São Bernardo do Campo (SP), mais uma vez escoltado por agentes. Cerca de duas mil pessoas estavam presentes na cerimônia e, como informou o portal OGlobo, apesar da existência de manifestações pela soltura do operário, não houve conflitos. Assim, Lula voltou ao Dops, onde permaneceria por mais uma semana.
Anos depois, o político Djalma Bom contou à BBC como o petista reagiu à morte da mãe. "Ele foi chamado na direção do Dops. Quando voltou para a cela, tinha lágrimas nos olhos e disse: 'Djalma, minha mãe faleceu'."
A matéria conta que o próprio Lula revelou que Tuma chegou a permitir que ele visitasse sua mãe e que foi bem tratado no local, ao contrário de muitos outros presos políticos.
"O Tuma me tratou dignamente, com humanidade. Minha mãe estava com câncer. Ele me deixou sair algumas vezes à noite para vê-la", disse Luiz Inácio à BBC.