Estudo sugere que neandertais possuíam capacidade de lidar com símbolos
Aventuras Na História
Uma descoberta feita em uma caverna no centro da Espanha revelou que neandertais guardavam crânios de herbívoros como seus troféus de caça, o que pode significar que eles tinham a capacidade de lidar com símbolos. Até então, somente o Homo sapiens era considerado capaz de atribuir conceitos a símbolos.
A conclusão de que esses hominídeos tinham a capacidade de lidar com símbolos se deu através de um estudo iniciado há 14 anos pela equipe de pesquisa dos sítios que compõem os Tesouros da Comunidade de Madri no Vale dos Neandertais.
O trabalho publicado na revista Nature Human Behaviour tem, em sua pesquisa, o foco no sítio arqueológico neandertal de Cueva Des-Cubierta, como informado pela Revista Planeta. O local compreende uma galeria-caverna com tetos rebaixados, isto é, que não mantém sua cobertura original.
Neste local, um conjunto de 35 crânios de grandes herbívoros foi recuperado. Compõem os restos mortais, bisões (Bison priscus), auroques (Bos primigenius), veados (Cervus elaphus) e dois rinocerontes da espécie Stephanorhinus hemitoechus. Alguns desses crânios encontrados no local foram associados a pequenos incêndios.
Preparação dos crânios
Cada um desses crânios foi preparado pelos neandertais seguindo o mesmo padrão. Primeiro retirando o cérebro, a mandíbula e maxila e depois deixando a parte do crânio com os chifres ou galhadas como espécies de troféus de caças.
Os crânios foram encontrados ao longo de uma camada de sedimentos que levaria muitos anos para se acumular, o que permitiu que os pesquisadores afirmassem que esse tipo de atividade foi mantida durante várias gerações, introduzindo o conceito de tradição cultural.
Junto desses crânios, também foram encontradas típicas ferramentas de pedra de neandertais, como bigornas ou martelos usados para quebrá-los.
Símbolos
Ainda segundo os pesquisadores, essa atividade, de pouco mais de 40 mil anos, não estaria relacionada a subsistências desses neandertais e sim, a sua capacidade simbólica — até então, atribuída somente a nossa espécie.
Essa ideia pode ser reforçada, ainda, devido ao fato de que foram encontrados poucos dentes de animais ou ossos fragmentados na caverna, o que indica que os animais foram massacrados em outro local e somente suas cabeças decepadas foram levadas para dentro.
Os pesquisadores, no entanto, não conseguiram explicar o motivo desse grupo em particular ter adotado essa atividade específica, visto que, tais esconderijos de crânios não foram encontrados em qualquer outra caverna neandertal.
Mesmo que a ideia de que os crânios seriam troféus de caça explique melhor a descoberta, eles concluem, no estudo, que outras interpretações para o achado não podem ser descartadas.
No entanto, outras interpretações não podem ser descartadas, como uma ligação com ritual e fogo […] alguma expressão da relação simbólica entre os neandertais e o mundo natural, ou algum tipo de rito iniciático ou magia propiciatória”.
Cueva Des-Cubierta é um local excepcional que permite a descoberta de um novo conceito para essa espécie, visto que até agora não foi descoberto nenhum outro sítio arqueológico em todo o território neandertal com um conjunto semelhante ao de Pinilla del Vall.