"Eu quero votar para presidente": Entenda o que foi o movimento das Diretas Já
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Há 40 anos, o regime militar já agonizava e o sentimento nas ruas não era apenas pela redemocratização, mas também pelo restabelecimento das eleições diretas para todos os cargos políticos, inclusive a presidência da República.
O movimento pelas diretas foi impulsionado por uma Proposta de Emenda Constitucional para o restabelecimento imediato das eleições livres em todos os níveis, apresentada pelo deputado federal Dante de Oliveira, do Mato Grosso, e que seria apreciada pelo Congresso Nacional em abril daquele ano.
Até os grandes empresários nacionais, diante da recessão econômica que castigava o país, sentiam que não havia mais clima para ditadura e pediam a volta da democracia, conforme revelou levantamento realizado na época pelo jornal Gazeta Mercantil.
Economia
Desde a segunda crise do petróleo, em 1979, a economia nacional sofria com a inflação alta, elevação da dívida externa brasileira por causa da alta dos juros internacionais e recessão.
"Era algo que expressava não apenas o desejo de uma vanguarda política ou dos estudantes. Era um desejo da sociedade", atesta o escritor, jornalista e cineasta Miguel de Almeida.
Em 1984, o calendário marcava 20 anos de ditadura. Dois anos antes, ocorreram as eleições para os governos estaduais, com a vitória da oposição em estados como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Paraná", completa Almeida, autor de Do Pré-Tropicalismo aos Sertões Incandescentes e Trilha nos Trópicos, entre outros títulos.
Os comícios
Foi quando surgiram os grandes comícios pelas Diretas Já. O primeiro deles ocorreu em Curitiba, em 12 de janeiro de 1984, onde compareceram cerca de 50 mil pessoas. Em seguida, foi realizado outro, bem maior, na Praça da Sé, no centro de São Paulo. Foi em 25 de janeiro, no aniversário da cidade, com a presença estimada de mais de 200 mil pessoas.
A partir dali, foram realizados centenas de comícios e passeatas por todo o país, cujo lema era um só: eu quero votar para presidente. "Foi o maior movimento de massa na história brasileira, antes ou depois de 1984", atesta o jornalista Oscar Pilagallo, autor de O Girassol Que Nos Tinge (editora Fósforo), que resgata a história do movimento das diretas.
No total, estima-se que 5 milhões de pessoas participaram dos eventos pelas diretas, organizados em todo o país. O maior deles, realizado pouco antes da votação da emenda no Congresso, em abril, juntou mais de 1 milhão de pessoas no Vale do Anhangabaú, em São Paulo.
Nos palanques comandados pelo locutor esportivo Osmar Santos, havia políticos do PMDB, como o governador de São Paulo, Franco Montoro (PMDB), o prefeito da capital paulista, Mario Covas, e o deputado federal Ulysses Guimarães, um dos principais articuladores do movimento e que ficaria conhecido como “Sr. Diretas”.
Nos comícios estaduais, dezenas de políticos, artistas e representantes locais. Havia também a presença de muitos artistas e líderes sindicais, como o futuro presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores (PT) e principal liderança das grandes greves de metalúrgicos no ABC, no final dos anos 70.
Atletas esportivos, como os jogadores de futebol Sócrates e Casagrande, símbolos do famoso movimento esportivo-político “Democracia Corinthiana”, também marcaram presença nos palanques. Em 25 de abril de 1984, a decepção nacional.
No último grande suspiro do regime militar no controle do Congresso, a emenda Dante de Oliveira perdeu por apenas 22 votos na votação ocorrida na Câmara dos Deputados e a proposta foi rejeitada.
O caminho definitivo para a derrubada da ditadura só ocorreria no ano seguinte, com a formação do Colégio Eleitoral e a eleição indireta do mineiro Tancredo Neves (PMDB), que morreria antes de tomar posse.