Griselda Blanco criou conspiração para sequestrar John Kennedy Jr.
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Conhecida como 'rainha da cocaína', Griselda Blanco criou um verdadeiro império do pó muito antes de Pablo Escobar começar sua carreira no mundo do crime. Mas de uma década após sua morte, a controversa história de Blanco será retratada na minissérie 'Griselda', que estreia no próximo dia 25, na Netflix.
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Pioneira do narcotráfico colombiano, a 'Viúva Negra', como também foi chamada, era tão brutal quanto 'El Patrón'. Assim como o chefe do Cartel de Medellín, Blanco foi responsável por planos mirabolantes.
Um deles, aliás, surpreende pela ousadia: o sequestro de John Fitzgerald Kennedy Jr., filho do 35º presidente norte-americano, JFK. O caso foi explicado no oitavo episódio do podcast 'Fatal Voyage: The Death of JFK Jr.', lançado em fevereiro de 2020.
Uma vida de crimes
Antes de começar a traçar a relação entre Griselda Blanco e o plano de sequestro de John Kennedy Jr., o apresentador do podcast, Colin McLaren, ex-detetive de homicídios; e o jornalista investigativo James Robertson traçaram um perfil da 'rainha da cocaína'.
Segundo descreve Robertson, Griselda era uma "assassina" e "sanguinária", além de uma das figuras mais famosas da América. "Ela atacou gente como os [notórios traficantes] El Chapo e Escobar. Ela estava nesse nível".
O jornalista ainda recordou que Griselda começou sua vida de crimes quando sequestrou um menino de 10 que morava em um bairro rico perto de Medellín. Como sua família não pagou o valor de resgate estipulado por ela, Blanco deu um tiro na cabeça da vítima.
Ela era um monstro", diz o jornalista.
"Poderíamos dizer que ela é a mulher que se fez sozinha de maior sucesso na história", comentou o repórter Andy Tillett. "Mas ela também é quase certamente a assassina feminina mais temida e implacável de todos os tempos".
Aos 13 anos, ela conheceu seu primeiro marido, Carlos Trujillo, com quem teve uma relação de uma década e três filhos. Após a morte de Trujillo, Griselda se envolveu com Alberto Bravo, quem a apresentou ao negócio da cocaína em Nova York. O casal, em pouco tempo, formou um império através de sua rede criminosa.
Em abril de 1975, porém, tudo mudou depois que uma investigação conjunta da Polícia de Nova York e de Administração de Repressão às Drogas (DEA), na chamada Operação Banshee, indiciou a dupla e outros 30 associados por acusações federais de tráfico. Eles, no entanto, fugiram para a Colômbia antes de serem presos.
No mesmo período, Griselda Blanco assassinou Bravo após uma discussão — por esse motivo, ela recebeu o apelido de 'Viúva Negra'. Então, voltou para os Estados Unidos, para iniciar seu império da droga em Miami.
Nossas estimativas são de que ela foi responsável por cerca de 50 ou 100 homicídios em todo o mundo, principalmente no sul da Flórida", explicou Nelson Andreu, ex-policial de homicídios de Miami e chefe do departamento de polícia de West Miami, como repercutido pela OK Magazine.
Ele diz que Griselda construiu "um império de bilhões de dólares" na década de 1980, antes de uma operação ser realizada em um de seus esconderijos em Irvine, na Califórnia, em 1985.
Desta vez, agentes do DEA a prenderam e ela foi condenada a mais de uma década de prisão. E foi justamente nesta fase de sua vida que Griselda Blanco teria planejado o sequestro do filho de John Kennedy.
Conspiração
Conforme recorda matéria do All That Interesting, quando a notícia da prisão de Griselda foi anunciado pelas redes de televisão, uma pessoa em específico se interessou pelo caso: Charles Cosby; um traficante de crack em Oakland.
Cosby teria se encantado com a 'rainha da cocaína' e após trocarem correspondências, os dois se conheceram em uma visita de Charles à Prisão Federal Feminina.
Os dois teriam se tornado amantes com a ajuda de funcionários do presídio, que recebiam um valor em dinheiro para deixarem o casal a sós. Assim, Griselda confiou no traficante para cuidar de seu império de drogas — ainda mais depois que Osvaldo, filho de Blanco, morreu.
O plano para o sequestro de John Fitzgerald Kennedy Jr. começou em 1994 — apenas cinco anos antes do filho de JFK morrer. Tudo começou quando Jorge 'Rivi' Ayala, principal matador contratado por Griselda, se tornou testemunha em três casos de assassinato que a 'Viúva Negra' era acusada — caso condenada, ela poderia acabar no corredor da morte.
Charles Cosby aponta que, certo dia, Griselda lhe enviou um bilhete escrito: "jfk 5m ny". Perplexo com a mensagem, ele questionou seu significado, então ficou ainda mais chocado: Blanco havia exigido o sequestro de John Fitzgerald Kennedy Jr. — e exigiria sua libertação e retorno à Colômbia como resgate.
Andreu, que também foi o principal investigador da tentativa de sequestro de JFK Jr., relatou: "Eles estavam tentando descobrir qual era a melhor maneira de colocar as mãos em JFK Jr.".
Leon Wagner, repórter que passou anos cobrindo a família Kennedy, falou sobre o acontecimento no podcast: "O FBI a certa altura descobriu uma conspiração para sequestrá-lo e exigir milhões em resgate, e foi mortalmente sério".
McLaren e Robertson ainda analisaram documentos e encontraram uma possível ligação a um cartel de drogas sul-americano e a um denunciante que se ofereceu para "denunciar uma operação de cartel de drogas que operava na Colômbia" e "informar o FBI sobre um plano de sequestro". Esse homem era Cosby.
O All That Interesting aponta que os sequestradores estiveram perto de concluir o plano. Em certa ocasião, eles até mesmo conseguiram cercar Kennedy Jr., mas uma viatura da polícia acabou se aproximando e eles desistiram da ideia.
Moeda de troca
No podcast, é apontado um bom motivo para eleger JFK Jr. como alvo: "John Jr. não tinha segurança realmente séria ao seu redor", explicou McLaren aos ouvintes. Ele sugere que a segurança que JFK Jr. tinha no final de sua vida pode ter sido "podre".
O ex-detive ainda alegou que o plano foi deixado de lado porque os conselheiros de Blanco pensaram que o sequestro de JFK Jr. resultaria em "uma resposta militar massiva das forças armadas colombianas", o que poderia destruir toda a sua operação.
Sequestrar JFK Jr. significaria efetivamente iniciar uma guerra com todas as agências policiais da América", corrobora Tillett.
Em julho de 1995, Griselda Blanco acabou indiciada pelo Ministério Público do Estado de Miami-Dade por três assassinatos e Cosby foi intimado como testemunha de acusação.
No entanto, ele jamais chegou a se pronunciar. Afinal, Ayala se envolveu em um escândalo sexual com duas secretárias que trabalhavam no gabinete do procurador do estado; o que comprometeu todo o processo.
Após um acordo, Blanco se declarou culpada dos assassinatos e foi condenada a cumprir apenas o tempo restante de sua sentença federal. Acabou deportada para a Colômbia em 2004, apenas cinco anos após a morte de John Fitzgerald Kennedy Jr., em 16 de julho de 1999.
Griselda Blanco acabou executada enquanto deixava um açougue em Medellín, em 3 de setembro de 2012. Já sobre Charles Cosby, que virou um informante do plano de sequestro de Kennedy Jr., portanto, traiu a confiança de 'Rainha da Cocaína', jamais se ouviu falar novamente.
Ele parece ter desaparecido da face da terra", finaliza Andreu. "Ele sempre esteve envolvido em atividades relacionadas a drogas. Então, suspeito que ele provavelmente ainda esteja; se ainda estiver vivo".