Homem relembra julgamento do PCC: 'Outros estavam com sangue nos olhos'
Aventuras Na História
O PCC — Primeiro Comando da Capital — é a maior organização criminosa de todo o Brasil, que atua em todo o território brasileiro e alguns países vizinhos, mas principalmente dentro do estado de São Paulo.
Tendo isso em mente, muito se sabe sobre a organização interna da facção e as próprias regras nas quais qualquer pessoa envolvida precisa se submeter, podendo ser um risco de vida o envolvimento, em alguns casos.
Visto isso, recentemente veio à tona um caso ocorrido há aproximadamente um mês de um homem que teria sido submetido a julgamento no chamado 'tribunal do crime do PCC'. Em texto publicado no UOL, é possível compreender alguns detalhes relacionados à organização criminosa e a organização dentro da facção.
Momentos de terror
Na favela do Paraisópolis — palco dos principais julgamentos do PCC —, na zona sul da cidade de São Paulo, um homem foi retirado de um baile funk por alguns criminosos armados, desconfiados de que ele pudesse ser alguém envolvido com uma facção rival, e o levaram para uma casa na parte alta da comunidade. Lá, ele foi mantido em cativeiro por quase cinco horas e interrogado, devido a apenas um detalhe: seu sotaque.
Fui sendo levado por becos e vielas, onde era entregue para diferentes grupos. Uns faziam terror psicológico. Outros pediam para que eu ficasse calmo, dizendo que 'era do proceder'. Diziam que eu seria liberado 'se tivesse tudo certo' e, 'se tivesse algo errado', era melhor eu falar logo para 'facilitar o trabalho.' Até então, não sabia o que era certo ou errado para eles", lembrou o homem, que optou pelo anonimato.
Ao chegar no local em que seria finalmente interrogado, o homem passou encarar membros da chamada 'disciplina', os responsáveis, de fato, pelo 'tribunal do crime'. Nesse momento, inclusive, foi quando ele deixou de ter contato visual com a rua, e era guardado por homens armados e um cão da raça pitbull.
Interrogatório
Foi só depois de ter chegado ao local estabelecido entre a organização criminosa, que o interrogatório de fato começou. A princípio, os membros do PCC ali presentes começaram a vasculhar o celular do homem, a fim de encontrar qualquer pista que o relacionasse a uma facção rival.
Tive que contar toda a história da minha vida. Aí, começaram a perguntar se eu morava perto da favela, se comprava drogas de outra facção. Uns estavam mais calmos, e me questionavam como se fosse uma entrevista de emprego. Outros estavam com sangue nos olhos. Senti que eu poderia morrer ali mesmo se desse a resposta errada."
Além disso, o homem lembra que os criminosos faziam chamadas de vídeo para mostrar seu rosto a outros integrantes da facção, que não estavam presentes no local. Foi então que, finalmente, depois de um longo tempo e grande tensão enquanto era ameaçado, o homem finalmente foi liberado pelo PCC, após a chegada de outro integrante ao local.
Aí, ele disse: 'você não é de movimento e estava aqui só para curtir o baile. Por mim, tá liberado.' Não fui agredido em nenhum momento. Mas era o fim de um terror psicológico de pessoas armadas que ameaçavam me matar", complementa o homem. Por fim, "eles falaram: 'isso nunca mais vai acontecer com você. Se um dia, você cair novamente em São Paulo, é só falar que passou [pelo tribunal do crime] e tá aprovado."