Isaac Newton lucrou com ouro de escravos do Brasil? Entenda!
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Um dos maiores gênios que o mundo já teve, Isaac Newton foi um matemático, físico e astrônomo inglês que marcou a história especialmente por formular a chamada Teoria da Gravidade, que revolucionou toda a ciência no século 17. Porém, um fato pouco comentado sobre sua vida é que ele pode ter enriquecido na Europa graças ao ouro extraído por escravizados no Brasil.
No novo livro 'Ricardo's Dream: How Economists Forgot the Real World and Led Us Astray' (que pode ser traduzido para 'O sonho de Ricardo: como os economistas esqueceram o mundo real e nos levaram para o caminho errado', mas não tem versão em português), o autor Nat Dyer descreve a vida de David Ricardo, um pioneiro da teoria econômica do Reino Unido e também o mais rico corretor de ações de sua época.
Porém, também no livro, o pesquisador examina parte da vida de Isaac Newton, uma figura indiscutivelmente importante para a história britânica, em seu tempo como mestre da casa da moeda na Royal Mint, onde exerceu grande influência política e também acumulou uma boa riqueza pessoal, após abandonar sua posição acadêmica na Universidade de Cambridge.
Segundo o autor, Newton foi responsável diretamente por supervisionar o influxo de ouro que corria pelo Reino Unido, tendo atuado como mestre de uma casa da moeda por 30 anos. Nesse período, ele cobrava uma pequena taxa por cada moeda cunhada por ali, muitas das quais feitas a partir de ouro extraído por escravizados no Brasil.
Foi assim que, conforme estimado por Dyer, o físico ganhou em 1702 um salário estimado em 3.500 libras esterlinas ao ano. Essa quantia, na cotação atual, não surpreende tanto, sendo estimada em cerca de R$ 26 mil; porém, com correções de inflação, essa quantia valeria, atualmente, 1,26 milhões de libras (ou mais de R$ 9,27 milhões).
Mesmo tendo perdido muito dinheiro na quebra da bolsa de valores em 1720, Newton morreu como um homem incrivelmente rico. E boa parte de seu dinheiro estava intimamente conectado à escravidão", afirma Dyer em entrevista ao The Guardian. "Eu mostro, em parte com sua própria correspondência [...] que o cientista se beneficiou principalmente do ouro extraído do Brasil".
O que conecta Newton ao ouro brasileiro, no caso, é o próprio comércio estabelecido na época entre a Inglaterra e Portugal, que levava boa parte do ouro aqui escavado para a Europa, e trocava por tecidos britânicos. Essas mesmas barras vendidas pelos portugueses, por sua vez, eram encaminhadas para a fabricação de moedas.
Durante as três décadas em que Newton trabalhou na instituição, estima-se que a Inglaterra cunhou o equivalente a 14 milhões de libras esterlinas em moedas de ouro, o que já superava o valor cunhado nos 136 anos anteriores.
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Homem de seu tempo
Nas correspondências em questão analisadas por Dyer, está, por exemplo, uma carta de 1701 em que o físico escreveu: "não podemos ter barras de ouro senão das Índias Ocidentais [América do Sul e Central] pertencentes à Espanha e Portugal". Outra mensagem, de 1717 e enviada ao Tesouro Nacional, escreve que o oeste da Inglaterra já estava "cheio de ouro" português.
Porém, "apesar da importância deste achado, não acho que isso deva mudar radicalmente todos os aspectos do que pensamos sobre Newton", comenta o pesquisador. "Ele é um pensador que define uma época. Mas mesmo os maiores cientistas fazem parte de um contexto histórico e social".
Afinal, como a América Ibérica se estabeleceu entre os séculos 17 e 18 como a principal fonte de ouro da Europa, não surpreende que o tráfico de pessoas escravizadas tenha beneficiado, mesmo que indiretamente, alguns europeus sem relação com o Brasil, conforme repercute a Revista Galileu.
Leonardo Marques, historiador da Universidade Federal Fluminense, também explicou ao The Guardian que "essa mesma relação entre escravidão e enriquecimento pode ser encontrada em Locke, Davenant e tantos outros escritores mercantilistas da época. Todos os envolvidos com bancos e finanças na Grã-Bretanha do início do século 18 estavam, de certa forma, conectados ao que ocorria no Brasil".