JFK sentia culpa e arrependimento ao encarar o passado: 'Não sou uma boa pessoa'
Aventuras Na História

J. Randy Taraborrelli já publicou cinco livros sobre uma das famílias mais famosas e poderosas da história norte-americana: os Kennedy. No entanto, sua sexta obra ganha um enfoque inédito: John Fitzgerald Kennedy.
Em 'JFK: Public, Private, Secret' ele trata pela primeira vez sobre o 35º presidente dos Estados Unidos — desde o ano de 1961 até seu assassinato, em 22 de novembro de 1963.
Escrevo sobre os Kennedys da perspectiva de Jackie há 25 anos", disse o autor ao The Guardian, fazendo referência a primeira dama Jacqueline Kennedy. "Dois anos atrás, fiz 'Jackie: Público, Privado, Secreto', que era Jackie do berço ao túmulo. Quando fez sucesso, pensei: 'É hora de contar a versão de JFK da história.'"
Para isso, ele recorreu a diversos arquivos sobre John Kennedy, mas também fez diversas entrevistas, revisões e buscou novas fontes, como a assessora de imprensa de Marilyn Monroe, Patricia Newcomb, agora com 95 anos, e Janet Des Rosiers Fontaine, ex-secretária e namorada do pai de JFK, Joseph Kennedy, agora com 100 anos.
"Não será… um relato detalhado de cada momento da história política de JFK. Eu queria fazer um retrato mais humano, algo que as pessoas pudessem [usar] para realmente entender esse homem e gostar dele ou, pelo menos, odiá-lo", explica.
Segundo o The Guardian, o tema central de Taraborrelli é o tratamento dado às mulheres por JFK. "Sempre vimos JFK como um marido infiel e inconsequente", disse ele.
"Eu queria, talvez, não defendê-lo tanto, mas explicá-lo, tentar entrar na cabeça dele e contar o seu lado da história. Este livro é, na verdade, um complemento de Jackie: Público, Privado, Secreto. Quando você lê os dois, você realmente consegue ter uma visão completa daquele casamento".
Além de um adúltero implacável
O novo livro de Taraborrelli apresenta um retrato sensato de JFK: um adúltero implacável, mas que chegou a uma certa compreensão de sua fraqueza por meio das consequências dolorosas de seu comportamento, de um aprofundamento tardio da conexão com sua esposa e das provações do cargo.
O problema com JFK é que, por mais inconcebíveis que fossem suas ações, ele ainda tinha consciência, o que tornou tudo ainda mais difícil para ele, porque, se você não tem consciência, pode ser apenas uma pessoa ruim e ficar bem com isso. É quando você tem consciência que isso lhe causa problemas internos", diz o autor.
Embora o comportamento de JFK tenha certamente lhe causado problemas em sua reputação, Taraborelli explica que não quis se apegar exclusivamente nas polêmicas da vida do ex-presidente — principalmente as amorosas.
"Também tomei a decisão logo no início com JFK de que não queria que [o livro] fosse um compêndio de todos os seus casos amorosos... uma lista de A a Z de todas as mulheres com quem ele dormiu, porque muitas dessas mulheres escreveram seus próprios livros e muitas foram entrevistadas para livros. Suas histórias já foram contadas".
"Eu queria encontrar mulheres que fizessem a diferença, como Joan Lundberg realmente fez a diferença na vida dele. Judith Exner fez a diferença, embora eu não acredite em nada do que ela disse sobre qualquer coisa. Ela estava lá, sabe? Mary Meyer fez a diferença. Marilyn Monroe faz a diferença, historicamente, se não pessoalmente", prosseguiu ao Guardian.
O próprio caso com Marilyn Monroe já faz parte de um legado conspiratório deixado pelo Kennedy, o que alimentou teorias como sua proximidade com o crime organizado (em parte por meio de Exner, também envolvido com um mafioso de Chicago) e seu assassinato, tudo isso alimentando uma próspera indústria editorial de labirínticas especulações.
Assim, o autor aponta não ter o interesse de participar desse debate. No caso da morte de JFK, aliás, ele aborda o tema já nas páginas finais, ignorando questões que são debatidas ainda hoje como: o assassino Lee Harvey Oswald agiu sozinho? O que a CIA sabia?
Taraborelli diz acredita que John Kennedy não teve um envolvimento amoroso com Monroe — embora Jackie tenha expressado preocupação com isso — porque não há evidências. Mas recorda que JFK teve um caso até então desconhecido com Lundberg, uma aeromoça californiana, na década de 1950, quando era um ambicioso senador por Massachusetts. A relação terminou com John engravidando a moça e depois pagando a ela para abortar seu filho.
"JFK conheceu Joan quando estava em desacordo com a família. Jackie teve um natimorto em 1956 e JFK não voltou das férias para ficar com a esposa. Levou uma semana para voltar. E quando voltou, todos na família, ambos os lados da família, não queriam mais saber dele. Aliás, a mãe de Jackie ficou tão chateada que o fez dormir no quarto de empregada em cima da garagem", conta.
"E então ele foi para Los Angeles e conheceu [Lundberg], e ela não sabia nada sobre ele, além de que ele era um senador famoso, mas ela não o conhecia pessoalmente, e não conhecia ninguém em sua vida. E ele conseguiu se abrir com ela honestamente e usá-la como uma espécie de pseudoterapeuta para tentar resolver alguns de seus problemas. E ele estava tentando entender como pôde ter feito isso com a esposa?".
Homem bom?
Em 'Ask Not: The Kennedys and the Women They Destroyed', a escritora Maureen Callahan detalhou como a família Kennedy — principalmente os homens — destruíram a vida de diversas mulheres.
E embora Taraborrelli não tenha lido a obra, sua pesquisa também aborda o tema. "Em certo momento, Joan lhe disse: 'Acho que você é uma boa pessoa'. E JFK respondeu: 'Não, não sou mesmo'. Ele nem se considerava um bom homem. Disse que se sentia preso em si mesmo e não conseguia encontrar uma maneira de sair."
Nem mesmo a irmã de John, Rosemary Kennedy, escapou das atrocidades da família. Afinal, em 1941, seu próprio pai providenciou "uma cirurgia cerebral que deu terrivelmente errado, a deixou inválida, e então ele a internou e disse à família que eles precisavam esquecer que ela existia, e todos esqueceram, mas JFK sentia vergonha de ter deixado isso acontecer com a irmã que ele amava".
"No livro, você percebe que, se ele foi capaz de se dissociar da própria irmã, a quem amava, como se sentiria em relação a um bebê que Jackie teve e que morreu, e que ele não conhecia? É como se ele não tivesse empatia. Jackie percebeu isso, então encontrou Rosemary, a irmã que [JFK] não via há 15 anos, e ela o encorajou a ir até a irmã e se reconectar com ela, porque sabia que ele não poderia ser um homem plenamente realizado, guardando esse segredo obscuro e sentindo-se envergonhado", explica o autor.
E então esse foi outro bloco de construção. E então, quando o filho deles, Patrick, morreu [vivendo menos de dois dias em agosto de 1963], esse foi outro bloco de construção".
Taraborrelli, porém, aponta que tais experiências ajudaram a tirar "Kennedy de si mesmo" à beira da morte, "transformando-o em um homem diferente, um homem de bom caráter... e assim, neste livro, vemos JFK assumir a responsabilidade por seus erros. Ele diz: 'A maneira como eu era era dolorosa, e por dolorosa, quero dizer vergonhosa'".
