Livro de romance LGBT+ retrata mudanças sociais causadas pela AIDS
Aventuras Na História
A homossexualidade tem sido um assunto mais atual do que nunca, sendo retratada (além da realidade), em diversos tipos de produtos, tais como filmes, série e até mesmo livros. A fim de dar visibilidade à essa pauta, o autor Valdo Resende possui diversas obras sobre a temática, o livro ‘Dois Meninos – Limbo’, que aborda sentimento, mudanças sociais e tabus históricos, é um deles.
A trama contra a história de um humilde pintor que escolhe elaborar uma produção popular, que visa fundamentalmente a sobrevivência através da comercialização dos resultados. A história se passa na grande São Paulo do final do século 20, trazendo à tona a vida operária e também o surgimento da AIDS, e decorrentes dessa realidade, as profundas mudanças e exigências impostas à sociedade.
Quase 10 anos após o lançamento da obra, a temática do livro continua mais atual do que nunca. Em entrevista exclusiva ao Aventuras na História, o autor da obra explicou como surgiu a ideia da publicação do livro.
“O mercado não facilita e não está aberto para temas como a AIDS e a homossexualidade. Ouvi muitos nãos. A sensação que eu tinha em relação ao tempo era difícil, pois entre a ideia e a publicação foram cerca de dez anos. Todavia, era louco perceber que o tema continuava atual, embora os avanços da medicina dessem novas perspectivas às pessoas portadoras do vírus. Também ia acontecendo mudanças tímidas na sociedade em relação aos LGBTQIA+”, conta.
"Publicar, todavia, foi um risco. De não vender, o lado prático e, também, o fato de assumir um possível estigma ao escrever sobre o tema. Preferi assumir os riscos”.
Os personagens e a sociedade
Segundo o autor, os personagens foram baseados em pessoas de seu convívio, mas que não pediu autorização para isso. Ele não usou seus nomes verdadeiros, o que facilitou esse quesito. “São pessoas sem grande poder aquisitivo, sem poder político, sem grandes forças na escala social”, disse Resende.
Valdo ainda comenta sobre a visão social de pessoas que tiveram AIDS, principalmente quando se trata de diferentes condições econômicas: “O Brasil viu todo o processo de tratamento de pessoas como o Cazuza, por exemplo. Mas, e os que não tinham o dinheiro que ele tinha? Como eram, e como são ainda hoje, as formas de tratamento no sistema público? As relações sociais atualmente são baseadas em tolerância que, além de avanços, foi imposta por lei”.
O escritor, que se definiu como um observador do mundo, relatou um momento presenciado por ele em 1984, que foi um período socialmente difícil, já que a AIDS ainda não tinha sido estudada, e era apenas uma doença misteriosa.
Trabalhei também para uma revista e fizemos uma série de matérias sobre o assunto, tendo entre nós um repórter e médico que veio a ser vítima da AIDS. Na verdade, comecei o romance por volta de 1999, e foi um longo trabalho entre o como escrever, de que forma narrar tais fatos e respeitar todos os envolvidos”, conta Valdo.
A AIDS na literatura
Valdo conta que, para ele, há mais tabus em quem escreve compêndios literários e em professores de literatura do que em escritores, o que facilita a existências de diversas narrativas sobre a homossexualidade e o erotismo dentro dessa comunidade.
Quando se fala sobre a doença em questão no mundo literário, o autor defende que esse não é mais um assunto “atrasado” em diferentes produções: “Há textos excelentes que abordam a AIDS sobre diversos prismas. Eu gostaria de destacar, além dos dois autores acima, os trabalhos de Silviano Santiago e Luís Capucho. São escritores extraordinários, relatando um cenário absolutamente distinto do que está em 'Dois Meninos – Limbo'.
Resende ainda revelou que está trabalhando em uma nova obra, mas que o tema pode ser diferente, ainda que haja homossexualidade: “Estou trabalhando em um romance e o enredo é bem amplo, a temática da homossexualidade aparece, como vários outros grandes temas possíveis em uma cidade fictícia, que é o cenário do meu atual projeto literário”.
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