Lucie Blackman: A jovem britânica assassinada no Japão que virou documentário da Netflix
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Reconhecida por suas produções true crime, a Netflix disponibilizou em seu catálogo mais um caso que pode chocar seus assinantes. Desaparecida: O Caso Lucie Blackman relata a trajetória da jovem britânica assassinada durante sua visita ao Japão.
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"Quando a comissária de bordo britânica Lucie Blackman, de 21 anos, decidiu se mudar de Londres para Tóquio e viver um ano de aventuras e aprendizagem, a família e os amigos nunca poderiam imaginar que, apenas três semanas depois, ela desapareceria sem deixar rastros", apresenta sinopse do documentário.
Em busca de Lucie, uma equipe de detetives japoneses começou uma investigação internacional. Este documentário eletrizante mostra tanto o aspecto policial quanto a perspectiva comovente do pai de Lucie, que nunca desistiu de encontrar a filha com vida", continua o texto. Mas o que aconteceu com Lucie Blackman?
Viagem marcada
Filha de Tim e Jane, Lucie Jane Blackman nasceu em 1º de setembro de 1978 em Sevenoaks, no condado de Kent, na Inglaterra. Mais velha entre três irmãos, ela era descrita como uma pessoa feliz, inteligente e engraçada.
Lucie trabalhava como comissária de bordo na British Airways quando decidiu viajar para o Japão junto de Louise Phillips, sua amiga de infância. As duas chegaram a Tóquio em 4 de maio de 2000, com um visto de turista válido por 90 dias.
Embora a autorização não permitisse, Blackman conseguiu um trabalho em terras nipônicas atuando como recepcionista no Casablanca, um clube localizado em Roppongi, distrito da capital.
A jovem tinha a intenção de quitar o mais rápido possível algumas dívidas que havia acumulado com a viagem. Conforme repercute o The Crime Wire, o clube exigia que suas anfitriãs também fossem a vários dohans — encontros pagos — com clientes.
No fatídico 1º de julho, Lucie fez vários telefonemas, principalmente para Louise, contando sobre o encontro "muito legal" que teve naquele dia com um homem que havia lhe presenteado com um telefone celular e uma garrafa de champanhe Dom Pérignon. A britânica havia informado que estaria em casa em meia hora, mas jamais foi vista com vida novamente.
O desaparecimento
Quando Blackman não apareceu em casa, sua amiga logo percebeu que algo não estava certo. No dia seguinte, Phillips recebeu a ligação de um homem que se identificou como Akira Takagi, dizendo que Lucie passou a integrar um culto e iria se ausentar para participar de um treinamento.
De qualquer forma, ela está em nosso dormitório. Ela está estudando e praticando um novo estilo de vida. Ela tem muito a aprender esta semana. Ela não pode ser perturbada", disse o sujeito.
A família de Blackman foi avisada sobre o ocorrido e, em 4 de julho, sua irmã, Sophie, voou para Tóquio na intenção de procurá-la. Tim chegou horas depois. Logo, os parentes de Lucie lançaram uma campanha para apelar ao então Ministro das Relações Exteriores, Robin Cook, que estava no Japão na época, para ajudá-los a encontrá-la.
O caso começou a ganhar traços mais enigmáticos e assustadores quando investigadores e jornalistas passaram a ser alvos de intimidação. Um deles, Richard Lloyd Parry, que mais tarde escreveu o livro People Who Eat Darkness, chegou a receber um envelope com fotos dele próprio tiradas por um perseguidor.
Outro ponto que chamou a atenção no caso foi o comportamento indiferente da polícia japonesa quando soube do trabalho que Blackman havia conseguido no país. Afinal, as autoridades estavam acostumadas com a fuga de mulheres com companheiros ricaços para países como Bali ou Tailândia. Portanto, se recusaram a fazer uma investigação mais afundo no caso.
Mas a pressão feita por Louise e os familiares da britânica acometeram inclusive o primeiro-ministro Tony Blair, que se encontrou com Tim enquanto também viajava ao Japão, quando se comprometeu a ajudar no caso. Blair fez um apelo sobre Lucie horas depois, durante entrevista com o ex-primeiro-ministro japonês Yoshirō Mori.
No dia 20 de julho, a delegacia de Azabu recebeu uma carta supostamente escrita por Blackman dizendo que ela teria desaparecido voluntariamente. Mas tudo mudou dias depois, com a prisão de um homem.
Joji Obara
Empresário na área de investimentos imobiliários, Joji Obara possuía um histórico de acusações por uso de drogas e agressão sexual — alguns dos casos, porém, acabaram ignorados pela polícia de Tóquio. As denúncias foram feitas por acompanhantes que relataram acordarem com mal-estar e doloridas após se encontrarem com Obara.
Joji acabou preso em 12 de outubro de 2000; foi quando sua teia de abusos começou a ser descoberta. Em seu apartamento, aponta a The Crime Wire, as autoridades acharam fitas de vídeo com gravações de Obaradrogando e estuprando mulheres inconscientes — uma delas, inclusive, Carlita Ridway, de 21 anos, havia morrido.
A vítima chegou a ser levada para um hospital por Joji, segundo testemunhas, mas não resistiu. Inicialmente, a causa da morte havia sido declarada como Hepatite-E devido à intoxicação alimentar. Mas um exame posterior detectou clorofórmio em seu fígado.
Corpo localizado
Após meses de investigação, o caso de Lucie Blackman ganhou um capítulo importante em 9 de fevereiro de 2001, quando os restos mortais da britânica foram encontrados. Ela havia sido estuprada, esquartejada e jogada em uma cova rasa em uma caverna à beira-mar em Miura, Kanagawa — pouco mais de um quilômetro de distância do condomínio de Obara.
Devido a seu avançado estado de decomposição, a causa de sua morte não pôde ser comprovada. Mas as autoridades acreditam que ela foi desmembrada com a ajuda de uma serra elétrica.
Culpado?
O achado, porém, não permitiu que o assassinato de Lucia Blackman fosse ligado a Joji Obara, apesar das fortes evidências. Pelo menos não naquele instante.
No dia seguinte ao desaparecimento da britânica, por exemplo, ele ligou para um hospital buscando ajuda para ressuscitar uma vítima de overdose de drogas. Seus vizinhos também relataram diversos barulhos estranhos vindo de sua casa. Joji também foi visto caminhando à beira-mar carregando pá e cimento.
Um recibo em sua casa também mostra que ele havia comprado uma serra-elétrica recentemente, mas a mesma jamais foi encontrada. No diário de Obara havia relatos que mostravam um profundo ódio pelas mulheres, com crenças de que elas serviam "apenas para sexo".
Mas nenhuma delas era contundente o suficiente para cravá-lo como assassino de Lucie. Por conta disso, o Tribunal de Justiça o inocentou das acusações. Mas isso não significa que ele saiu imune.
Em 2007, aponta matéria do Terra, Joji Obara foi condenado a prisão perpétua após ser considerado culpado no Tribunal Superior de Tóquio pelo assassinato de Carlita Ridgway e pelo estupro de oito mulheres.
No ano seguinte, um recurso pedido pela família de Lucie foi julgado pelo Tribunal Superior de Tóquio. Desta vez, porém, em 16 de dezembro, Obara também foi condenado por desmembrar e abandonar o corpo de Lucie — tornando a prisão perpétua irreversível.
Em meados de 2010, por fim, a defesa de Joji Obara viu a Suprema Corte do Japão rejeitar um recurso para a cassação das acusações — afinal, o réu sempre recusou a se declarar culpado. Acredita-se, porém, que sua ficha criminal possa ser maior.