Mártir contra violência sexual: Quem foi a Benigna Cardoso, cearense reconhecida pelo Papa
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Nesta segunda-feira, 24, a cidade de Crato, no Ceará, receberá a atenção da comunidade católica internacional inclusive com representantes do Vaticano, em cerimônia especial para a beatificação de uma figura que lá nasceu, viveu, morreu e foi eternizada no imaginário popular local ao ser associada com a fé e religiosidade.
A figura é Benigna Cardoso da Silva, que viveu no local durante a primeira metade do século 20, mas faleceu em um trágico episódio de estupro aos 13 anos de idade, onde lutou contra o abusador até a morte, datada de 24 de outubro de 1941. A data, que completa 81 anos hoje, foi especialmente escolhida para marcar a beatificação da garota.
Estudiosa e frequentadora da igreja local, ela estava em Santana do Cariri, município a 523 km da capital Fortaleza, quando foi abordada por um jovem de idade próxima a dela.
Refletindo seus valores pessoais, recusou as investidas até o último suspiro, tornando-se um símbolo de resistência na região, angariando seguidores que repercutem, até os dias atuais, sua imagem.
O óbito, a golpes de facão, chocou a comunidade local ainda na época, se tornando um mártir contra o feminicídio e violência sexual contra menores de idade, sendo reconhecida pela Igreja Católica como a primeira beata do Ceará e a quarta mártir do Brasil, conforme autorizado pelo próprio Papa Francisco no ano de 2019.
Beatificação no Ceará
A cerimônia, no entanto, só ocorre em 2022 devido aos atrasos relacionados a crise sanitária causada pela pandemia mundial do novo coronavírus. A Agência Brasil apurou que, para celebrar o reconhecimento de sua representação ao nível mundial, cerca de 60 mil fiéis devem comparecer ao evento em sua cidade-natal.
Um dos moradores mais velhos da cidade chegou a ser consultado pelo Vaticano para confirmar os registros de vida de Benigna, com quem conviveu ainda na infância. Raimundo Alves Feitosa, 98, apontou em depoimento que ela era uma menina simples, sem vaidades, mas que não deixava de ir para a escola.
Ela se relacionava bem com todos, era gentil, muito educada, não usava de palavrões e se ocupava responsavelmente com os estudos. Nela, se destacava a simplicidade e a prudência. Sua fama de santidade e martírio é justa", disse o idoso em entrevista à TV Verdes Mares, afiliada local da TV Globo.
Se engana quem acredita que o processo ocorreu pouco antes do aval do Papa; em 2013, ela recebeu o título de "Nihil Obstat", ou seja, o "Nada Impede", quando ainda era apenas Diocese do Crato. Desde então, uma mobilização popular e de religiosos do estado favoreceu o título de beata.