Nova pesquisa de DNA aponta que Luzio é descendente dos ameríndios
Aventuras Na História
Nesta segunda-feira, 31, a revista científica Nature Ecology & Evolution publicou os resultados de seu estudo recente sobre Luzio, o esqueleto de origem humana mais antigo do estado de São Paulo. A pesquisa afirma que o Luzio é descendente direto dos povos originários da América, cujos sucessores incluem os tupis e outros povos indígenas da atualidade.
O estudo, que se baseou no mais completo agrupamento de informações genômicas arqueológicos do país, também esclareceu os mistérios acerca do sumiço de comunidades do litoral brasileiro, que criaram os sambaquis, símbolos da arqueologia do Brasil, que consistem em casas, linhas territoriais e cemitérios feitos de ossos e conchas de peixes.
O pesquisador sênior do projeto, André Menezes Strauss, que atua como arqueólogo do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da Universidade de São Paulo (USP), esclareceu a importância e o mistério dos sambaquis, conforme repercutiu o portal Galileu:
Depois das civilizações andinas, os sambaquis da costa atlântica brasileira são o fenômeno humano de maior densidade demográfica da América do Sul pré-colonial. Eles foram os ‘reis da costa’ por milhares e milhares de anos e sumiram de forma repentina há cerca de 2 mil anos.”, disse Strauss.
Esforço coletivo
A pesquisa, realizada por meio de uma colaboração entre a FAPESP e a Universidade de Tübingen, na Alemanha, teve como base 34 exemplares de genomas, oriundos de quatro locais do litoral brasileiro. Todas as amostras datam até 10 mil anos e foram extraídas de sambaquis e fósseis dos mais variados sítios arqueológicos, como Capelinha, Limão, Palmeiras Xingu, Vau Una, Capelinha, Cubatão, Jabuticabeira II e Pedra do Alexandre.
Entre o material de pesquisa está Luzio, que foi descoberto pela equipe do professor do MAE-USP, Levy Figuti, no sambaqui ribeirinho Capelinha. Strauss explicou o que se constatou a respeito de Luzio:
A genética mostra que Luzio é um ameríndio, assim como um tupi, um quéchua ou um cherokee. Isso não quer dizer que sejam iguais, mas que, em uma perspectiva global, todos derivam de uma única leva migratória, que chegou à América há não mais de 16 mil anos e, se houve uma outra população por aqui 30 mil anos atrás, ela não deixou descendentes entre esses grupos.”, disse o arqueólogo.
Os sambaquieiros
A conclusão que os pesquisadores chegaram foi que a população era heterogênea, ou seja, não podem ser consideradas uma comunidade única em ralação à biologia, mesmo que houvesse traços culturais em comum. O material genético aponta para uma diferença ainda maior entre os que habitavam a costa sul quando comparados com a costa sudeste.
Estudos dos anos 2000 com morfologia craniana já indicavam uma diferença sutil entre essas comunidades e, agora, os dados genéticos trazem essa confirmação. Identificamos que uma das causas para isso é o fato de essas populações costeiras não estarem isoladas na costa, mas ‘trocando genes’ com outras do interior e, ao longo dos milhares de anos, esse processo deve ter contribuído para as diferenciações regionais dos sambaquis.”, esclareceu Strauss.
Os exemplares de DNA também esclarecem dúvidas em relação ao desaparecimento deste grupo, a pesquisa aponta que houve uma mudança de hábitos entre os sambaquieiros, como a introdução da cerâmica. Os pesquisadores chegaram a esta conclusão, pois o Galheta IV, localizado em Santa Catarina e considerado o sítio mais semelhante ao dos sambaquis originários, apresenta apenas restos de cerâmica.
Essa informação é compatível com um estudo de 2014, que analisou as cerâmicas dos sambaquis e constatou que elas não eram usadas para cozinhar vegetais domesticados, mas peixe, ou seja, houve a apropriação de uma tecnologia do interior para processar alimentos que já estavam tradicionalmente ali”, concluiu Strauss.