O estudo que desafia as teorias a respeito de Ötzi, o Homem de Gelo
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Em 1991, um casal de montanhistas alemãs se deparou com o que pensavam ser um alpinista morto na fronteira entre a Áustria e a Itália. Uma análise mais aprofundada do cadáver, todavia, revelaria se tratar de uma múmia de gelo com uma idade de nada menos que 5,3 mil anos.
Os impressionantes restos mortais foram batizados de Ötzi, o Homem de Gelo. Na época, o arqueólogo Konrad Spindler elaborou uma teoria para o incrível estado de preservação do homem, que viveu em 3.200 a.C.
Segundo especulado pelo pesquisador, Ötzi teria sido coberto de gelo imediatamente após a sua morte, sendo então englobado em uma geleira, onde permaneceu até ser encontrado. Essa situação única, fruto de uma série de acasos, teria permitido que seu corpo fosse congelado em uma espécie de cápsula do tempo, sobrevivendo à posteridade.
31 anos após a descoberta, no entanto, o campo da arqueologia avançou em inúmeras frentes, e um grupo internacional de cientistas decidiu publicar um estudo que compila descobertas feitas nos últimos anos para oferecer uma teoria mais atualizada para a preservação do Homem de Gelo, argumentando que seu caso não foi tão singular quanto foi pensado anteriormente.
Tudo diferente
De acordo com o artigo recente, que foi divulgado pelo portal Sage Journals na segunda-feira passada, 7, a última refeição de Ötzi indica que ele teria falecido na primavera, e não no outono, como teorizado por Spindler. Dessa forma, seu cadáver não teria sido congelado imediatamente, já que estava em um ambiente de temperaturas mais amenas.
A geleira que protegeu o Homem de Gelo da ação do tempo é outro ponto de discordância, uma vez que os especialistas revelam não terem sido encontrados indícios ambientais para essa hipótese — na verdade, o cadáver teria congelado e descongelado inúmeras vezes no decorrer de mais de um milênio.
"Durante os verões quentes, Ötzi e seus artefatos foram provavelmente expostos periodicamente nos 1500 anos após sua morte. Isso levou à deterioração das partes mais expostas do corpo e danos adicionais aos artefatos (...) Não há evidências claras para apoiar o resfriamento climático repentino no momento da morte de Ötzi", explica o artigo.
Foi apenas cerca de 3.800 anos atrás que o gelo e a neve finalmente isolaram a ravina de seus arredores. Já no final do século 20 o gelo voltou a derreter a um grau que reexpôs o corpo e seus artefatos", completa o texto.
Assim, Ötzi não teria passado 5,3 mil anos preservado pelo frio, e sim 3,8 mil. Outro detalhe importante é que, neste período em que os restos mortais do homem foram sujeitos às variações do clima, eles teriam ainda movido de lugar, segundo as pesquisas compiladas pelos especialistas.
O verdadeiro local da morte do Homem de Gelo, portanto, teria sido mais acima na montanha, porém, durante os períodos de degelo do terreno ao seu redor, o cadáver foi deslizando colina abaixo.
O único ponto em que a pesquisa concorda com Spindler é em relação à causa do falecimento do homem, que teria sido uma flechada no peito. A arma quebrou a escápula do guerreiro e perfurou seu pulmão, fazendo com que sangrasse até a morte.
"Esta reinterpretação da história (...) do achado de Ötzi não é a narrativa clara fornecida pela interpretação original, que combinou uma série de circunstâncias fortuitas para preservar um momento único do passado. Talvez seja por isso que a história original ainda está sendo contada, mesmo depois de publicações científicas (de 1995 em diante) terem indicado repetidamente que era improvável", concluiu o estudo.
Notícia boa
Os pesquisadores responsáveis pela pesquisa recente fecham seus argumentos enfatizando que as condições que permitiram a preservação de Ötzi não são tão exclusivas e improváveis quanto pensado anteriormente.
Essa é, por sua vez, uma ótima notícia para o campo da arqueologia, uma vez que significa que podem haver outras múmias de gelo como ele armazenadas na mesma região, prontas para serem eventualmente expostas pelo aumento das temperaturas.
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