'Pai da Europa': Carlos Magno, o rei mais influente da Idade Média
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Em vídeo, o escritor e pesquisadorPaulo Rezzutti resgata a trajetória de Carlos Magno, um dos reis mais relevantes da Europa medieval. Ele esteve no poder entre os séculos 8 e 9, e, neste período, revolucionou a região, não apenas criando um vasto reino, mas também sendo responsável por criar os sistemas políticos e econômicos que prevaleceriam ao decorrer de toda a Idade Média. Por esses e outros motivos, Magno é considerado como "o pai da Europa".
Filho do rei Pepino, o Breve (que ganhou o apelido devido à sua baixa estatura), que reinou sobre os francos, as primeiras disputas militares conduzidas por Carlos ocorreram com seu próprio irmão, Carlomano — que morreu jovem. Neste ponto, Magno aproveitou as brechas da divisão territorial realizada por seu pai para pegar para si a parte que estava sob domínio do irmão.
Ele realizou uma série de conquistas ao longo de seu governo. As mais longas campanhas militares ocorreram durante as Guerras Saxônicas, que duraram 32 anos e resultaram na anexação da Saxônia ao reino franco. Sua maior proeza, no entanto, foi conseguir manter esses territórios unidos sob sua bandeira, o que ocorreu graças ao brilhante sistema administrativo que elaborou.
Condados, ducados e marcas
Carlos Magno percebeu que a "ameaça de violência" era mais efetiva que a violência em si. Decidiu que, para manter seu território unido, era necessário dividi-lo: cada região, por sua vez, era comandada por um nobre leal a ele.
Assim, o reino franco foi dividido em três ducados controlados por duques. Já no interior dessas regiões, havia centenas de condados, cada um respondendo a um conde diferente.
Nas fronteiras do reino, por sua vez, o governante criou as marcas, administradas pelos marqueses. Como as bordas do território estavam sempre em risco de serem atacadas por inimigos, os marqueses costumavam ser chefes militares, assim capacitados para lidar com essa responsabilidade. Nasceu assim o sistema de vassalagem:
Os marqueses, os condes e os duques eram todos vassalos do rei. Um vassalo era um nobre subordinado a um suserano e ligado a ele por uma obrigação mútua. Em troca de receber direitos sobre as terras que administrava, o vassalo deveria defender os direitos do suserano e fornecer apoio militar a ele. Mais tarde, essa relação também se estendeu aos cavaleiros: eles serviam a um determinado senhor em troca de receberem um pedacinho de terra de onde pudessem tirar seu sustento", relatou Rezzutti.
Essas informações ainda ajudam a explicar o surgimento do feudalismo, que se deu bem nesta época e local, sob o governo do poderoso Carlos Magno:
"Cada uma dessas áreas de território concedidas a um nobre era chamada de feudo, de onde vem o termo feudalismo, que indica o sistema político e econômico baseado nessas relações de vassalagem. O sistema que Carlos criou e que se tornou sinônimo de Idade Média na Europa, também determinava os papéis dos servos, que eram pessoas comuns ligadas à terra e que deviam obrigações ao senhor desse território. Como Carlos Magno organizou essas relações feudais, ele é considerado o pai do feudalismo, e em consequência o fundador da Idade Média como a gente conhece", completou o escritor.
A trajetória de uma lenda
Em 800, o rei medieval chegou a ser coroado como Imperador dos Romanos pelo papa do período, Leão III, que o fez como sinal de gratidão após desfrutar da proteção do exército franco durante um ataque a Roma.
O cargo concedido pelo chefe da Igreja Católica levou à criação do Sacro Império Romano-Germânico, uma nação que apenas seria derrubada mil anos mais tarde pelo imperador francês Napoleão Bonaparte.
Deste ponto em diante, aliás, Carlos Magno passa a usar o curioso título de "sereníssimo Augusto coroado por Deus, grande e pacífico imperador governando o Império Romano". A grandeza do rei, portanto, já era reconhecida enquanto ele estava vivo.
Aliás, não foi só de campanhas militares que consistiu o seu reinado, que realizou uma série de melhorias na infraestrutura do território sob seu domínio:
Carlos procurou melhorar a gestão realizando reformas administrativas, monetárias, militares e eclesiásticas. E apesar de tomar o papel de protetor do catolicismo e buscar expandir o cristianismo pela Europa, com o tempo, ele foi se tornando tolerante com as religiões, até mesmo com os pagãos, desde que eles não se revoltassem", apontou Paulo Rezzutti.
Além disso, Magno demonstrou grande interesse em buscar conhecimento não apenas para si, mas para seu reino, chegando a ser responsável pela preservação de diversos livros greco-romanos.
Embora só tenha aprendido a ler com mais de 40 anos, Carlos sempre teve paixão pelo conhecimento e muitas vezes arranjava alguém que lesse livros para ele durante as refeições. Carlos deu ordens para copiar todos os livros em latim que conseguiu, e muitas obras latinas só existem hoje porque ele guardou na sua biblioteca e mandou cópias para os que solicitavam", afirmou o pesquisador em seu vídeo.
O imperador medieval pereceu em 814, aos 72 anos — sendo que 47 desses haviam sido no poder. Embora tenha desposado quatro esposas diferentes e se relacionado com diversas concubinas, apenas deixou um filho legítimo para herdar seu império, Luís. Seu herdeiro, no entanto, acabou dividindo o território entre os filhos, que dividiram ainda mais, levando à fragmentação do reino original.
O legado de Carlos Magno, porém, persistiu na forma das relações de vassalagem do feudalismo e ainda na linhagem sanguínea das principais dinastias que governaram a Europa através dos séculos seguintes, uma vez que muitas delas eram descendentes dele.
Para saber mais detalhes sobre a vida e as conquistas do "pai da Europa", confira abaixo o vídeo de Paulo Rezzutti na íntegra: