Política: Hitler chegou a se encontrar com Churchill?
Aventuras Na História
Querido(a) leitor(a), o título desta matéria chama a atenção pelos personagens envolvidos, afinal, os dois homens não são apenas grandes protagonistas do século 20, como são também dois dos maiores antagonistas da história humana. De um lado, Adolf Hitler, o ditador nazista que governou a Alemanha de 1933 a 1945 e o grande responsável pela Segunda Guerra – não apenas por dar início ao conflito, mas também pela maior parte de seus horrores.
Do outro, Winston Churchill, primeiro-ministro britânico em duas ocasiões — de 1940 a 1945 e novamente de 1951 a 1955 —, e o grande responsável por segurar o avanço nazista nos anos iniciais do conflito, sendo considerada a “última fronteira do mundo livre” antes que mais países se juntassem ao esforço de guerra Aliado. Mas, afinal, seguindo o tom sugerido no título: os dois homens chegaram a se encontrar?
Pois bem, a resposta direta a esta pergunta seria: não! Porém quase estiveram cara a cara... e não em uma mesa de negociação, mas em um jantar descontraído. Hoje em dia, devido à facilidade e rapidez dos meios de comunicação, líderes mundiais mantêm encontros frequentes.
Seja anualmente na abertura dos trabalhos da Assembleia Geral das Nações Unidas ou nas reuniões periódicas do G20, ou ainda em Grandes Fóruns, os eventos são uma oportunidade para os países, e obviamente seus dignitários, manterem um contato permanente — seja no âmbito multilateral, ou no bilateral, em reuniões reservadas que ocorrem em paralelo aos encontros maiores.
O encontro
Contudo, nem sempre foi assim. As distâncias e a comunicação rudimentar eram um empecilho para que os líderes mantivessem um contato pessoal, deixando isso a cargo de seus diplomatas ou enviados especiais. Foi justamente com a Segunda Guerra que as reuniões entre aliados – na Geopolítica, por mais próximos que os indivíduos sejam, não existem amigos, existem aliados – adquiriram uma frequência maior.
E um dos responsáveis por isso, já que gostava de estar cara a cara com seus interlocutores, foi exatamente Winston Churchill. Seu quase encontro com Hitler se deu alguns anos antes da Segunda Guerra, quando nem Churchill nem Hitler estavam no comando das duas nações em conflito, mas ambos já eram figuras proeminentes na política de seus países.
Churchill era um consagrado veterano de guerra, jornalista e escritor, além de político experiente — tendo inclusive ocupado postos de primeiro escalão em mais de um governo —, mas encontrava-se em um momento de ostracismo, o que ele mesmo chamou de “anos selvagens” – em suma os dez anos que vão de 1929 até 1939, tempo em que, apesar de ser parte do governo, não ocupou nenhum cargo relevante na administração britânica.
Já Hitler liderava o maior partido da Alemanha e em breve se tornaria chanceler, sendo logo após alçado a Führer (“guia”) do povo alemão. O cabo austríaco, veterano da Primeira Guerra, transformara um partido marginal e uma gangue de arruaceiros em uma máquina política de extrema-direita que ganhava mais e mais adeptos a cada dia – não apenas na Alemanha, mas no mundo.
Baseado na frustração de uma nação humilhada pela derrota na Guerra de 1914 a 1918, e nas cláusulas punitivas da Paz de Versalhes, Hitler soube canalizar o sentimento de impotência do povo para subir na política. Exatamente o que intrigou Churchill.
Viagem à Alemanha
Sem ocupar uma posição de destaque no governo, Churchill gostava de dizer que “possuía muito tempo livre”, tempo que dedicava a atividades como a escrita e a pintura. E foi em uma viagem à Alemanha, em 1932, onde pesquisava sobre seu ancestral, John Churchill, o Duque de Malborough — o Churchill que fez o nome e fortuna da família com importantes feitos militares na Guerra da Sucessão Espanhola, especialmente em Blenheim, na Alemanha Moderna — que Churchill (Winston) quis conhecer aquele “político alemão que me intriga” (Hitler).
O encontro, um jantar, ficou sob a responsabilidade de Randolph, filho de Winston, que contatou Ernst Hanfstaengl, secretário de Imprensa de Hitler. Este logo se animou com a reunião, pois acreditava que Hitler podia usar aquilo como forma de propaganda para se afirmar como uma liderança internacional, mas o próprio Hitler não demonstrou muito interesse.
Teria dito em tom de desdém: “o que eu vou fazer com esse homem que está em desgraça em seu país e não possui cargo nenhum? O que há para conversar?”. Depois de algum tempo, Hanfstaengl teria persuadido Hitler, que concordou em se encontrar com Churchill não para jantar, mas para um café após a refeição – caberia a Hanfstaengl jantar com o inglês e aproveitar para sondar o que este desejava.
Em 30 de agosto de 1932, Churchill e Hanfstaengl jantaram, antes de Hitler chegar. Churchill, já famoso pela maneira peculiar de falar e de ser bem direto em seus negócios, teria dito: “sabe, esse antissemitismo de seu chefe tem que parar. Pode ter servido para fazer votos, mas isso vai colocar a Europa inteira contra vocês”. E, entre uma garfada e outra, também teria questionado sobre as intenções de Hitler com a França e a Inglaterra, caso este virasse chanceler.
Mudanças de discurso
A pergunta não era inocente e tampouco considerava a Alemanha apenas como um potencial adversário, mas, sim, como um possível aliado frente ao avanço do socialismo na Europa. O jantar acabou, o café veio, e nada de Hitler chegar. Até que Churchill, em tom bem-humorado, disse: “É, parece que Herr Hitler perdeu a única oportunidade de se encontrar comigo”.
Os anos passariam, Churchill faria discursos sobre a ascensão do nazifascismo, primeiro em tom de elogio ao suposto patriotismo, depois, em tom de alerta para o perigo que a ideologia simbolizava para a democracia; e então viria a guerra.
Conta-se que, já durante o conflito, no auge da Blitz, os bombardeios alemães a Londres, Churchill teria dito para animar o moral dentro do bunker, entre uma baforada e outra de seu inseparável charuto: “Ora, ora, Herr Hitler não quis se encontrar comigo quando teve a chance e agora quer me fazer sair. Não se preocupe, nós nos veremos em breve, só que em Berlim!”.