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Ritual das 'cabeças pregadas' variava entre comunidades ibéricas, aponta estudo
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Ritual das 'cabeças pregadas' variava entre comunidades ibéricas, aponta estudo

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Aventuras Na História
24/02/2025 21h20
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©Divulgação/MAC-Ullastret a De Prado, 2015
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Um estudo da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB) nos sítios arqueológicos de Puig Castellar e Ullastret indica que o ritual das "cabeças pregadas" variava entre as comunidades ibéricas do nordeste da Península Ibérica.

Enquanto alguns assentamentos usavam crânios de indivíduos externos como símbolos de poder e intimidação, outros priorizavam a veneração de membros locais. A pesquisa, que analisou sete crânios do último milênio a.C., combinou dados bioarqueológicos e isotópicos para revelar padrões de mobilidade humana na Idade do Ferro.

O estudo, publicado no dia 13 de fevereiro no Journal of Archaeological Science: Reports, foi coordenado pelo Departamento de Biologia Animal, Biologia Vegetal e Ecologia da UAB e contou com a colaboração do Museu de Arqueologia da Catalunha (MAC), Museu Torre Balldovina e das universidades de Lleida, Bordeaux (França) e Tübingen (Alemanha).

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Vista aérea de Puig Castellar / Crédito: Divulgação/Museu Torre Balldovina

Prática funerária

As cabeças decepadas eram uma prática funerária rara no mundo ibérico, permitindo uma análise única dessas comunidades, já que a cremação era o rito predominante. Os crânios, exibidos publicamente após um tratamento post-mortem, foram encontrados com sinais de pregagem, alguns ainda com pregos de ferro.

Arqueólogos debatem se essas cabeças eram troféus de guerra ou relíquias veneradas de membros importantes da comunidade, mas essas hipóteses ainda carecem de confirmação. O estudo, liderado por Rubén de la Fuente-Seoane, da UAB, sugere que os indivíduos de Puig Castellar e Ullastret não eram escolhidos ao acaso, mas seguiam um padrão que privilegiava homens. 

Nossa premissa ao abordar o estudo foi que, se fossem troféus de guerra, não viriam dos locais analisados, enquanto se fossem indivíduos venerados, provavelmente seriam locais. Haveria uma tendência homogênea em direção aos homens nesses rituais. No entanto, os padrões de mobilidade e localização sugerem uma maior diversidade, o que também pode implicar diferenças sociais e culturais entre os indivíduos das duas comunidades”, explicou de la Fuente-Seoane ao site da UAB. 

Resultados

Pesquisadores examinaram isótopos de estrôncio e oxigênio no esmalte dentário dos sete crânios decepados, cruzando os dados com amostras de sedimentos e vegetação locais. Essa abordagem permitiu identificar se os indivíduos eram naturais da região ou provenientes de outras áreas.  

Em Puig Castellar, três dos quatro crânios analisados apresentaram valores isotópicos distintos da referência local, sugerindo que pertenciam a pessoas externas à comunidade. Já em Ullastret, houve uma mistura de indivíduos locais e não locais, indicando que a prática das cabeças decepadas variava entre os assentamentos.

Os crânios expostos no muro de Puig Castellar sugerem uma estratégia de intimidação, enquanto em Ullastret, aqueles encontrados em ruas e junto a residências podem ter pertencido a figuras veneradas pela comunidade. Um terceiro crânio, de origem estrangeira, foi localizado em uma parede externa, possivelmente representando um troféu de guerra.

Mobilidade humana

Além disso, o estudo apresenta, pela primeira vez, evidências diretas dos padrões de mobilidade humana na Idade do Ferro no nordeste da Península Ibérica, oferecendo novas perspectivas sobre a territorialização da região.  

Pesquisas anteriores já apontavam diferenças na gestão de recursos entre as sociedades ibéricas, e os crânios analisados em Puig Castellar e Ullastret confirmam essa variação. Os valores isotópicos indicam mobilidade distinta em cada local, e a análise de restos faunísticos reforça essa divergência, revelando formas específicas de exploração dos recursos conforme a tipologia de cada assentamento.

“Essa diferenciação reflete uma sociedade dinâmica e complexa com importantes interações locais e externas. Nosso estudo é uma primeira abordagem a esse problema arqueológico usando um método que está revolucionando a maneira como estudamos a mobilidade no passado. Ao mesmo tempo, sugere que a seleção de indivíduos para o ritual das cabeças decepadas foi mais complexa do que se pensava inicialmente”, concluiu de la Fuente-Seoane.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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